terça-feira, 31 de julho de 2012

INCÊNDIOS


A primeira postagem da semana vai para o drama canadense Incêndios: direção de Denis Villeneuve, elenco  principal formado por Lubna Azabal, Mélissa Désormaux-Poulin e Maxim Gaudette, e roteiro de Valérie Beaugrand-Champagne, Wajdi Mouawad e Denis Villeneuve. Fiz questão de mencionar os roteiristas dessa vez por dois motivos. Primeiro para corrigir as injustiças anteriores pela falta de menção dos responsáveis por essa importante parte do filme, que é o roteiro. Esse que se constituiu a essência, a matéria-prima de toda a produção. Como escritor (de um modesto blog, eu sei; mas não deixo de sê-lo) não poderia cometer esse erro. Segundo, porque, de tão bom e original, o roteiro dessa película merece receber atenção especial.

Bem, o que esta história tem de bom e original? Vou fazer uma pequena introdução. No momento da leitura do testamento de uma mulher, o tabelião, de posse de três cartas escritas pela falecida, entrega uma a cada um dos filhos gêmeos dela, e retém a outra. Um dos gêmeos, que era mulher, deveria entregar a carta sob sua responsabilidade para um terceiro irmão de que eles, até então, não tinham conhecimento da existência. O outro, que era homem, deveria entregar a que recebera ao pai, que eles acreditavam estar morto. A terceira só deveria ser aberta após a entrega das duas primeiras. Tudo é surpreendente e confuso para ambos. O filho resiste em atender ao pedido da mãe, mas a filha se mostra disposta a vasculhar o passado da genitora para tentar desvendar esse mistério. Assim, ela parte nessa busca. Termino aqui a introdução e passo para a minha impressão sobre a obra.

Qualifico esse filme como tenso, impactante e perturbador.  A tensão já aparece no início, com a cena de um menino, por volta de seis anos de idade, que se encontra numa espécie de internato. No momento em que raspam a sua cabeça, a câmera se aproxima e dá um close no seu olhar penetrante e amedrontador, que parece revelar muito sofrimento além de esconder algum rancor profundo. O clima  tenso e sombrio da cena intensifica-se com a presença da bela e também sombria música, You and Whose Army, da excelente banda inglesa Radiohead (logo colocarei uma postagem sobre essa banda). Mais tarde saberemos quem é o menino e o motivo de ele estar nessas circunstâncias.

Outros momentos tensos surgem no decorrer da trama. Destaco um, em especial, que reputo a cena mais forte do filme. Durante toda a sequência desse momento, comprimimos involuntariamente o corpo e, ao final, ficamos com um nó apertado na garganta. Acrescento que as imagens fortes não são gratuitas; não estão ali só para chocar. Tudo é necessário para entender a situação em que a protagonista se encontra. Não vou contá-la porque não gosto de antecipar as emoções, mas creio que você reconhecerá esse trecho.

O aspecto impactante e perturbador também permeia toda a história, mas é no final que ele ganha força. Coço os meus dedos para digitar mais detalhes, mas tenho medo de revelar pontos que podem antecipar algumas emoções do filme e, como já disse, não gosto de fazer isso. Quero que todos fiquem atordoados com as revelações, assim como fiquei, e sintam a angústia dos personagens ao tomarem conhecimentos dos fatos, assim como senti. Inclusive precisei de alguns minutos depois do término do filme para digerir drama tão chocante.

Cabe comentar sobre o contexto em que se dá a trama. Incêndios tem como pano de fundo a guerra motivada pela intolerância religiosa. Não se faz menção clara ao país que vive esse momento conturbado, porém, pela paisagem, língua, referências religiosas, trajes e características físicas das pessoas, parecer ser  do Oriente Médio. Dito isto, é nesse ambiente de guerra civil que decisões precipitadas, ao lado da rigidez para tratar problemas de transgressão religiosa, vão gerar consequências funestas para a vida das pessoas envolvidas.

Não pense que, por conta de toda essa descrição acima, o diretor descamba para o sentimentalismo barato e explora o sofrimento dos personagens para provocar comoção e chororô. Material não faltou para fazê-lo, porém ele resiste a essa tentação e cria uma atmosfera mais sóbria e racional para o benefício da avaliação adequada da situação.

Daí você me pergunta: e o nome Incêndios, o que tem a ver? Bem, esse nome não foi pensado à toa. Durante todo o filme aparecem cenas de fogo em atuação ou de locais já em cinzas. Entretanto, o título pode também se referir à chama mais intensa e devastadora de todas, exatamente aquela que consumiu o íntimo de cada pessoa atingida pelo desfecho dos trágicos acontecimentos.

Recomendo. Muito bom!!

Segue o trailer




sexta-feira, 27 de julho de 2012

UMA GRACINHA DE BANDA

Seguindo a linha da última sexta-feira, nada de texto longo e pesado. Afinal é sexta-feira!!

Como estou numa semana musical, vou postar dois vídeos de uma banda bacaninha, de músicas bonitinhas. Escrevo assim no diminutivo não porque me tornei meloso ou infantil (não que isso seja bom ou ruim, mas não é meu estilo), nem quis com isso dar um tom pejorativo à ánalise. Não, nada disso! Mas, por serem tão leves e singelas, esse é o tipo de reação que as músicas da banda de hoje despertam. É como ver um bibelô ou um filhotinho. Ao ouvi-las, a gente sente uma vontade incontrolável de usar o vocabulário da Hebe Camargo ou da Palmirinha.

Conheci essa banda, há poucos dias, por indicação de um colega de trabalho, que, ao saber do meu blog, enviou-me um vídeo falando que era bacana, descontraído, criativo, e me pediu para dizer o que eu achava. Tal vídeo fez muito sucesso na internet, e parece que a banda ganhou projeção assim. Ao ver o vídeo e ouvir a música, gostei do resultado (apesar de achar que o vídeo ficou meio extenso e um pouco cansativo, porque a letra é pequena e se repete bastante). Realmente, é criativo, alegre e contagiante, e a musiquinha bem bacaninha. Então procurei outras desse grupo. Gostei das outras canções também, todas assim... como posso dizer...? fofinhas.

Ainda preciso conhecer mais do repertório deles, mas o que conheci até agora me agradou. Não é nada muito profundo, denso, rebuscado; mas são músicas agradáveis, com melodia tocante e letras bem feitas. E a vocalista tem a voz muito bonita. Bom para um showzinho com a cara-metade, tocar numa roda de violão ou ouvir sem compromisso, numa boa; por exemplo, numa sexta-feira!!!

Então, amiguinhos e amiguinhas, para vocês: A Banda Mais Bonita da Cidade!!! (esse é o nome mesmo). Essa banda que é uma gracinha!!!!

Oração - vídeo criativo que citei



Canção pra não voltar


quinta-feira, 26 de julho de 2012

QUINTA DO QUINTANA



Como já disse anteriormente nunca fui lá muito fã de leitura, prazer que descobri depois dos vinte e alguma coisa, não sei ao certo. De prazer passou à necessidade. E quando nos tornamos dependente de algo, e esse algo nos é tirado, crises de abstinência nos acometem. Era o que estava passando nesse último ano, quando não consegui ler um romance sequer (meu gênero de literatura preferido), por absoluta falta de tempo. Foi, nesse período, que chegou meu segundo filho, e duas crianças, sendo uma delas bebê, demandam muita atenção.


Agora, com o mais novo maiorzinho, foi possível organizar melhor meus horários e decidi voltar a ler algo. Romance seria mais complicado por exigir período maior de leitura contínua, e meus horários seriam curtos: alguns minutos antes de dormir ou quando acordasse mais cedo, voluntariamente ou por força de algum choro mais insistente. Não queria começar, parar no meio da história e continuar sabe-se lá quando.

Nessas circunstâncias, decidi ler contos e poemas. Contos porque, geralmente, as histórias são curtas. É possível acabá-las numa sentada, o que não geraria ansiedade e frustração. Poemas, por serem menores ainda, serviriam-me bem para os momentos antes de dormir. Sobre esse último gênero, gostaria de fazer uma observação. Mesmo no período da minha vida que não gostava de ler, interessava-me por poemas. Era uma leitura que me agradava bastante, não só por ser curta (aspecto muito importante à época), mas também por me sensibilizar. Não sei, sentia-me envolvido.

Porém, mesmo gostando de poemas, lia poucos em geral. Até bem pouco tempo, nunca tinha aberto sequer um livro desse gênero. É triste, mas tenho que confessar: todos os poemas que tinha lido era por puro acidente. Todos os que eu conhecia foi porque apareceram em: exemplos em gramáticas, provas de concurso, bilhete de namorada, e depois, bilhetes da minha mulher; e, ultimamente, no facebook. Aff!! O negócio estava feio!! Tinha que dar um jeito nisso!!


Então, para atender à minha necessidade de leitura, associada ao pouco tempo disponível para essa prática, e para remediar a situação vexatória descrita no parágrafo anterior, aproveitei a bienal do livro para comprar alguns exemplares de contos e de poemas, além de O Príncipe de Maquiavel, um livro pequeno. 

Pois bem, essa enrolação toda foi para entrar no assunto do texto de hoje: Mario Quintana. Entre os livros que comprei na bienal, um era desse poeta. O eleito foi o de título Mario Quintana de Bolso, Rua dos Cataventos e Outros Poemas. Terminei-o essa semana. Como é bom Mario Quintana!! (lancei mão dessa rima, só para criar o clima. Opa!! Rimei de novo).

O que me surpreende nesse autor é sua capacidade de ser erudito e popular, simples e sofisticado, abstrado e concreto, tudo com a mesma elegância. Ele escreve sobre tudo – amor, vida, morte, amenidades, cotidiano, solidão, saudade, sempre com a mesma desenvoltura. É irônico, sarcástico, singelo, alegre e triste. É praticamente completo. Tenho que repetir: Como é bom Mario Quintana!



Deleitem-se com alguns de seus poemas.


DO ESTILO

Fere de leve a frase... E esquece...Nada
Convém que se repita...
Só em linguagem amorosa agrada
A mesma coisa cem mil vezes dita



DA OBSERVAÇÃO

Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais afável e sutil recreio...



DAS UTOPIAS

Se as coisas são inatingíveis...ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!



DO PRANTO

Não tentes consolar o desgraçado
Que chora amargamente a sorte má.
Se o tirares por fim do seu estado,
Que outra consolação lhe restará?



DAS IDEIAS

Qualquer ideia que te agrade,
Por isso mesmo...é tua.
O autor nada mais fez que vestir a verdade
Que dentro em ti se achava inteiramente nua...



DA AMIZADES ENTRE MULHERES

Dizem-se amigas...Beijam-se...Mas qual!
Haverá quem nisso creia?
Salvo se uma das duas, por sinal,
For muito velha, ou muito feia.



DA FELICIDADE

Quantas vezes a gente, em busca de ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculas procura,
Tendo-os na ponta do nariz!


DA CALÚNIA

Sorri com tranquilidade
Quando alguém te calunia
Quem sabe o que não seria
Se ele dissesse a verdade...


O MORTO

Eu estava dormindo e me acordaram
E me encontrei, assim, num mundo estranho e louco...
E quando eu começava a compreendê-lo
Um pouco,
Já eram horas de dormir de novo!



INVITATION AU VOYAGE

Se cada um de vós, ó vós outros da televisão
- vós que viajais inertes
como defuntos num caixão -
se cada um de vós abrisse um livro de poemas...
faria uma verdadeira viagem...
Num livro de poemas se descobre de tudo, de tudo
                                                                   [mesmo!
- Incluisve o amor e outras novidades



OS DEGRAUS

Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os mostros
Não subas aos sótão - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...



O UMBIGO

O teu querido umbiguinho,
Doce ninho do meu beijo
Capital do meu Desejo,
Em suas dobras misteriosas,
Ouço a voz da natureza
Num eco doce e profundo,
Não só o centro de um corpo,
Também o centro do mundo!


POEMINHA SENTIMENTAL

O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.


Como bem lembrado pela Érica no comentário, segue:

PRESENÇA
 Para Lara de Lemos
É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e resperar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu te sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te!

quarta-feira, 25 de julho de 2012

JEAN FERRAT


Pretendia falar, só um pouco mais tarde, de outro cantor e compositor francês dos anos 60 e 70, pois tinha receio de me tornar maçante; afinal meu último texto tratou de um cantor da mesma nacionalidade e época. Entretanto, empolguei-me com o clima gerado pela postagem sobre Charles Aznavour e decidi correr o risco. Apresento-lhe, então, Jean Ferrat, não tão famoso internacionalmente quanto Aznavour, mas também autor de obras admiráveis, que marcaram o cenário musical das décadas de sessenta e setenta na França.

Tomei conhecimento da existência de Jean Ferrat por acaso, em 2010, exatamente quando ele deixou de existir. Estava passando os olhos por um site da internet, quando a manchete de uma reportagem me chamou atenção, era algo mais ou menos assim: Morre aos 79 anos o célebre poeta, cantor e compositor Jean Ferrat. Célebre?!! Nunca tinha ouvido falar dele!! Como conheço pouco!! Pensei. Como sou curioso e interessado na cultura francesa, resolvi clicar no link para saber de quem se tratava.

A reportagem contava um pouco da vida e da carreira desse grande artista. As informações me impressionaram bastante. Relatavam que Ferrat era um cantor engajado política e socialmente e compunha muitas letras com esse teor; porém não se restringia a essas temáticas e abordava, entre outros assuntos, o amor e a região onde nascera e morara.

Na vida política, aproximou-se do comunismo, mas não ficava calado quando discordava das posições assumidas pelos “companheiros”. Condenou algumas práticas adotadas pela URSS, bem como, alguns anos depois, criticou a orientação pró-soviética do Partido Comunista Francês (PCF), apoio que ele considerou um equívoco do partido naquele momento. Em protesto ao comportamento de ambos, ele escreveu duas canções: Camarade, uma crítica à invasão de Praga pelos russos em 1968, e Bilan, de 1978, dirigida ao PCF, por ocasião do apoio citado acima nesse parágrafo.

Ele compôs, ainda, outras canções de protesto a respeito de acontecimentos com os quais não concordava. As duas mais conhecidas são Nuit et Brouillard e Potemkine, que lhe renderam censuras no rádio e na televisão. Além de composições próprias, Ferrat se dedicava a fazer melodias para os poemas do poeta francês Louis Aragon. Como resultado desse esforço, entre outras belezas, entregou-nos esplendidamente musicada Aimer à Perdre La Raison (música do vídeo abaixo).

Achei louváveis outros dois aspectos de sua personalidade. O primeiro é que, mesmo com o sucesso de público e crítica, Ferrat não se mostrava um artista afetado, deslumbrado, “estrelinha”, conservando hábitos simples até a sua morte. Destaca-se ainda a firmeza que ele mantinha em suas convicções, por exemplo, o fato de não se sujeitar aos apelos comerciais da indústria musical. Ele encarava a música como forma de expressão de suas idéias, sem se preocupar com que pensavam. Fazia a arte pela arte. Por conta dessa postura, de seu discurso polêmico e músicas de denúncia, ficou muito tempo sem se apresentar nas redes televisivas.

Ao terminar de ler a reportagem, inevitavelmente procurei suas composições para ouvi-las com cuidado. Gostei bastante. Letras ricas e sofisticadas, melodias doces e agradáveis. E, emoldurando todo esse magnífico quadro, surge a voz forte e profunda do cantor. Pela poesia, pelo jogo com as palavras, pelas rimas ricas e as expressões rebuscadas, arrisco-me a cravar: se o Português tem Chico Buarque e o Inglês, Bob Dylan; o Francês tem Jean Ferrat

Talvez alguém torça o nariz para o arranjo de algumas músicas, que pode soar meio ultrapassado. Não me importei muito com isso, pois busquei me inserir no estilo musical francês da época (anos 60 e 70). Além disso, preocupei-me, antes de tudo, com a letra e melodia, que fazem esquecer qualquer som na música que pareça meio deslocado de seu tempo. Se o arranjo lhe incomodar ao ponto de impedir qualquer tentativa de inserção no estilo musical da época, tente abstrai-se desse elemento e concentre-se nos outros aspectos das composições criadas e interpretadas por Ferrat

Outras canções não citadas acima que merecem destaque são: C'est Beau la Vie, La Femme est l'Avenir do l'Homme, La Montagne, Les Yeux d'Elsa, Ma France, Nous Dormirons Emsemble.

Segue o vídeo da linda música Aimer à perdre La Raison. A letra já se encontra no vídeo; a tradução, mais adiante.





Amar a perder a razão

Amar a perder a razão
Amar até não saber o que dizer
Ter somente você como horizonte
E só conhecer as estações
Pela dor do paritr
Amar a perder a razão

Ah, é sempre você que machucamos
É sempre o seu espelho quebrado
Minha pobre felicidade, minha fraqueza
Você que insultamos e abandonamos
Em toda a carne martirizada

Amar a perder a razão
Amar até não saber o que dizer
Ter somente você como horizonte
E só conhecer as estações
Pela dor do partir
Amar a perder a razão

A fome, o cansaço e o frio
Todas as misérias do mundo
É por meu amor que eu acredito nisso
Nela eu carrego a minha cruz
E em suas noites a minha noite se baseia

Amar a perder a razão
Amar até não saber o que dizer
Ter somente você como horizonte
E só conhecer as estações
Pela dor do paritr
Amar a perder a razão

segunda-feira, 23 de julho de 2012

CHARLES AZNAVOUR

 


Grande nome da música francesa que marcou o cenário da música mundial nas décadas de sessenta e setenta, o ator, cantor e compositor francês Charles Aznavour, hoje com 88 anos, já compôs mais de 800 canções e já vendeu mais de 100 milhões de discos. Se ele ainda canta? Fica a dúvida, porque ele vive anunciando se aposentar, mas volta atrás. Em 2006, o cantor iniciou turnê mundial de despedida, inclusive esteve em Brasília em 2008, mas não se sabe ao certo se ele realmente pendurou o microfone.

O repertório musical de Aznavour se destaca pela melancolia e saudosismo, falando, principalmente, do amor e da vida. Sobre o amor, ele compôs Tous les Visages de L´amour, uma de suas composições mais conhecidas internacionalmente, que foi gravada em inglês por ele mesmo e recebeu o nome de She. Mais tarde,  She ganhou projeção mundial ao ser escolhida para compor  a trilha sonora do filme Um Lugar Chamado Notting Hill, dessa vez na voz de Elvis Costello.

Em relação à temática da vida, Aznavour a aborda sob o ponto de vista da saudade e da passagem do tempo, ocasiões em que se mostrou ainda mais melancólico; pelo menos, observamos essa postura nas suas mais famosas canções: Hier Encore, La Bohème, Emménez-Moi, Il faut Savoir, Que C'est Triste Venise. O engraçado é que a voz envolvente e a cara de cachorro sem dono do cantor harmonizam-se com o tom triste de suas composições, conjunto que nos deixa ainda mais meditativos ao ouvi-las.

 A que eu mais gosto dele é Hier Encore, produto da parceria com George Garvarentz. Aliás, de todas as músicas que conheço, essa é uma das minhas preferidas. Melodia e letra belíssimas. A letra fala do tempo perdido na juventude, das escolhas erradas e das conseqüências dessas escolhas. Segue o vídeo. Logo abaixo vão a letra e tradução. Aproveitem.



HIER ENCORE
Hier encore, j'avais vingt ans
Je caressais le temps et jouais de la vie
Comme on joue de l'amour
Et je vivais la nuit
Sans compter sur mes jours qui fuyaient dans le temps
J'ai fait tant de projets qui sont restés en l'air
J'ai fondé tant d'espoirs qui se sont envolés
Que je reste perdu ne sachant où aller
Les yeux cherchant le ciel mais le coeur mis en terre

Hier encore j'avais vingt ans
Je gaspillais le temps en croyant l'arrêter
et pour le retenir, même le devancer
Je n'ai fait que courir et me suis essouflé
Ignorant le passé, conjuguant au futur
Je précédais de moi toute conversation
et donnais mon avis que je voulais le bon
Pour critiquer le monde avec désinvolture

Hier encore j'avais vingt ans
Mais j'ai perdu mon temps à faire des folies
Qui ne me laissent au fond rien de vraiment précis
Que quelques rides au front et la peur de l'ennui
Car mes amours sont mortes avant que d'exister
Mes amis sont partis et ne reviendront pas
Par ma faute j'ai fait le vide autour de moi
Et j'ai gaché ma vie et mes jeunes années
Du meilleur et du pire en jettant le meilleur
J'ai figé mes sourires et j'ai glacé mes peurs
Ou sont-ils à present, à present mes vingts ans?


Ainda Ontem

Ontem ainda , Eu tinha vinte anos
Acariciava o tempo e brincava de viver
Como se brinca com o amor
E vivia a noite
Sem considerar meus dias que escorriam no tempo
Eu fiz tantos projetos que ficaram no ar
Alimentei tantas esperanças que bateram asas
Que permaneço perdido sem saber aonde ir
Os olhos procurando o céu mas, o coração posto na terra

Ontem ainda eu tinha vinte anos
Desperdiçava o tempo acreditando que o fazia parar
E para retê-lo, e até ultrapassá-lo
Eu só fiz correr e perdi meu fôlego
Ignorando o passado, que conduz ao futuro
Eu precedia de mim qualquer conversação
E opinava que eu queria o melhor
Para criticar o mundo com desenvoltura

Ontem ainda eu tinha vinte anos
Mas perdi meu tempo a cometer loucuras
Que não me deixa, no fundo nada de realmente concreto
Além de algumas rugas na fronte e o medo do tédio
Porque meus amores morreram antes de existir
Meus amigos partiram e não mais retornarão
Por minha culpa eu criei o vazio em torno de mim
E gastei minha vida e meus anos de juventude
Do melhor e do pior descartando o melhor
Imobilizei meus sorrisos e congelei meus choros
Onde estão no presente, meus vinte anos?

sexta-feira, 20 de julho de 2012

FILMIZINHO PARA O FINAL DE SEMANA





Ok!! Nada de texto logo, afinal de contas niguém merece isso numa sexta-feira. Além disso estou numa preguiça danada hoje. Vamos ser sucintos! Vou até colocar o trailer para não ter que resumir a história! Também não vou analisar profundamente o filme. Para dizer o que achei, vou ficar nos adjetivos, sem me explicar muito.

Final de semana, entre outras atividades, pede um bom filme. Sugiro, então, o drama japonês A Partida, ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro de 2009. Não se preocupe porque ele não é do tipo "esquisitão", feito só para quem conhece a cultura japonesa a fundo entender, nem pode ser considerado um grande representante da categoria "cabeça". Mas, nem por isso, esteja desatento ao vê-lo, pois o filme provoca algumas reflexões filosóficas e psicológicas interessantes.

Enfim, a Partida é bonito, sensível e até cômico em muitos momentos. Não chega a arrebentar, não é de marcar época, mas é um bom filme. No final, dá para soltar: "bacana esse filme, gostei!"




Bom final de semana!

quinta-feira, 19 de julho de 2012

AGORA É A VEZ DO PRÍNCIPE PARA GENTE GRANDE





Quando tive (sim, o verbo é esse, porque ler para mim era obrigação) que ler O Príncipe pela primeira vez no primeiro ano de faculdade, logo uma pergunta me veio à mente: Por que escrever para um príncipe, se quem manda de verdade é o Rei?! Bem, por ora, deixei isso para lá. Mas como o autor era Maquiavel, humm...!!, comecei a pensar que poderia ser uma leitura interessante, pois, no imaginário popular, o cara tinha fama de ser mau, muito mau. O nome em si já dava medo: Maquiavel!!

De repente, uma luz!  Matei a charada em relação ao título! Maquiavel escreveu para o Príncipe para que esse pudesse tramar contra o Rei e tirá-lo do trono. Pô! Realmente, Maquiavel era muito mau: ensinar o filho a derrubar o próprio pai?!!. Vai ser excitante! Pensei.  Não, não me julgue. Eu não era um adolescente sádico e perverso; eu era até tranquilo. Mas, sabe como é adolescente, né? Por mais pacífico que ele seja, uma boa conspiração o atrai.  Além disso, já que ler era uma tortura para mim, que eu tivesse, pelo menos, alguns momentos de emoção.  De qualquer maneira, se eu pudesse escolher, preferiria ver o filme. Mas, como não havia opção, só me restou ler.

Ao abrir o livro: Expectativa! Agora começa bagaceira!! Ao terminar: Que decepção!! Nenhuma orientação para que o Príncipe tomasse ardilosamente o trono do Rei, tampouco Maquiavel era tão cruel assim. Em alguns trechos, o cara se mostrava piedoso, rebaixava o valor de governantes que praticaram atos desumanos e até aconselhava o tal Príncipe a ser generoso, devendo respeitar posses e mulheres dos súditos! Havia conselhos malvados, mas não na quantidade esperada. Ao ler a última linha, inevitavelmente, soltei a expressão: Pô, “Maqui”, cade você??!!

Brincadeiras à parte. Vamos para os esclarecimentos. Descobri que "príncipe" remete ao termo princeps, título da Roma antiga usado para designar o soberano de um Estado, o seu maior governante. É nessa acepção que ele emprega essa palavra no título de sua obra.

Quanto à maldade de Maquiavel, a leitura de O Príncipe deve ser feita com a devida contextualização da sua obra, sob pena de tomá-lo como ardiloso, inescrupuloso e perverso, uma vez que ele oferece conselhos frios, duros e, por vezes, crueis. Entretanto, lendo sob a perspectiva correta, veremos que o termo maquiavélico, em referência a esse grande escritor e filósofo, foi  equivocadamente cunhado .  

Ontem terminei de ler O Príncipe pela segunda vez e o indico por ser um livro rico e atual, além de apresentar uma escrita elegante e agradável. Não é à toa que ele ainda ostenta grande vigor apesar de ter vários séculos, sendo lido por grandes governantes da história passada e presente. Como, antes de tudo, Maquiavel faz a leitura da essência do ser humano, e isso nunca muda, creio que esse livro só perderá sua força, quando não existir mais a humanidade. (Ficou meio apocalíptico, mas, como estamos no temido e enigmático 2012, vou deixar assim). 


Até mais!

FORROZÃO BOM DA PESTE


Se ainda estivesse vivo, Luiz Gonzaga completaria este ano um centenário de vida. Como ainda estamos em clima de festas de São João, decidi compartilhar o que penso da obra do grande rei do baião ou poeta do sertão, qualquer um dos dois termos está bem empregado.

O exímio sanfoneiro compunha músicas com melodias contagiantes e letras simples, porém ricas e profundas, que retratavam o sofrimento e a alegria do sertão nordestino, a saudade da terra, o amor singelo. Nas suas composições, Luiz Gonzava sabia empregar com maestria tanto o humor como a melancolia. Minhas músicas preferidas são: Forró de Cabo a Rabo, Nem Se Despediu de Mim, Xamego (chamego, na grafia correta), Sanfoninha Choradeira, Riacho do Navio, Xote das Meninas, Que nem jiló, Sabiá, De Teresina a São Luís, Respeita Januário. Outras muito boas ficaram de fora. Se você tem alguma preferida, compartilhe com a gente no comentário.

O vídeo a seguir é cômico e interessante. O rei do baião relata, com bom humor, os momentos mais marcantes de sua vida: o início da carreira, o fato que motivou sua saída de casa, o reencontro com os pais. A sua narração aqui reflete, de certa maneira, as características de sua obra: simplicidade e eficiência. Ouça também a gravação original dessa música, em que ele faz uma narração muito engraçada de como seu tio o enxergou quando esse o reviu depois de muito tempo. O título da música é a menção ao velho Jacó, seu tio, mandando  Luiz Gonzaga respeitar o pai.  



Aproveitando o ensejo, apresento uma banda de forró mais contemporânea, a recifense Mestre Ambrósio. Muito boa! Quer dizer, não é especificamente de forró. Eles não tocam apenas esse ritmo; na verdade, é uma mistura, uma garrafada de ritmos, a maioria tradicional do nordeste, mais especificamente de Pernambuco, como o maracatu.  Essa banda, nas suas composições, combina instrumentos regionais e tradicionais, como a rabeca e o fole de oito baixos, com instrumentos mais modernos e universais como baixo elétrico, teclado, guitarra. E o resultado é muito bom.  As letras são bem elaboradas: muitas são poemas sobre a cultura regional, outras falam sobre a vida, e algumas ainda apresentam certa crítica política e social. Vale a pena conhecer.

A música do vídeo abaixo é a Fuá na Casa de Cabral: uma sátira do descobrimento do Brasil, uma pequena aula, adaptada e descontraída, de história, com uma dose da tal crítica política e social.



Nos vemos em breve!

O GAROTO DE BICICLETA



Hoje vamos de filme outra vez. A escolha recaiu sobre o drama belga O Garoto da Bicicleta, dos irmãos e diretores: Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne, filmado em 2011. Os atores principais são Thomas Doret e Cécile de France.
Cyril (Thomas Doret), um garoto de onze anos, foge do internato para procurar o seu pai, pois já fazia algum tempo que não recebia visitas dele. Ao chegar ao seu apartamento, percebe que seu pai não mora mais no local, pelo contrário, fugiu da cidade e o abandonou, sem deixar nenhum recado. Outra constatação decepcionante para Cyril foi o fato de seu pai ter vendido sua bicicleta de estimação, objeto que adorava por ser uma ligação afetiva com seu genitor, pois fora presente dado por ele. Ainda no prédio onde morava, Cyril é encontrado pelos instrutores do internato para levá-lo de volta, ele resiste agarrando-se às pernas de uma mulher desconhecida, chamada Samatha (Cécile de France). Esse encontro passa a determinar o desenvolvimento da história.
O Garoto da Bicicleta não é exatamente um filme eletrizante. A narrativa simples, o ritmo cadenciado, as emoções contidas das personagens não provocam arroubos sentimentais no espectador. Não que isso prejudique a qualidade da obra ou a deixe desinteressante. Inclusive, em pesquisa, descobri que essas características são valorizadas pelos diretores. Eles são adeptos do cinema mais enxuto, meio no estilo do movimento Dogma 95 de Lars Von Trier: uso de elementos básicos na produção, controle das emoções, ausência de trilha sonora, atores desconhecidos, tudo para privilegiar o enredo e as relações humanas. Essa linha é mantida no O Garoto da Bicicleta, com exceção do uso da trilha sonora e a presença de uma atriz um pouco mais conhecida como protagonista.
Dentre as características citadas, a que mais salta aos olhos é o comedimento de emoções por parte das personagens, com exceção de Cyril, a quem são permitidas algumas reações emocionais, algum descontrole. O pai ostenta uma frieza polar, que chega a ser assustadora. E Samantha reage a tudo, não importa se fatos alegres ou tristes, com sobriedade quase monástica, até difícil de aceitar, principalmente para nós latino-americanos de sangue quente.  Mesmo demonstrações físicas de afeto e ternura em relação ao menino são comedidas, apesar do grande amor que ela sente por ele.
Dois pontos positivos se destacam no filme. Os diretores abstiveram-se de traçar um perfil psicológico de Samantha. Assim, não se preocuparam em apresentar uma justificava para algumas decisões tomadas por ela, por exemplo, o fato de ela se identificar e se envolver rapidamente com o garoto. Dessa maneira, podemos enxergar a vontade de amar maternalmente outra pessoa sem que, para isso, seja preciso usar como muletas traumas passados ou carências atuais. Samantha é uma mulher segura, resolvida, estável financeiramente. O que a move é o amor por si só.
Outra virtude dos irmãos Dardenne é nos desafiar na nossa moral, quando nos apresenta um garoto nada simpático, que não provoca empatia ou compaixão, pelo contrário, até nos dá vontade de lhe aplicar alguns corretivos. Configura-se um desafio porque se mostra mais fácil aceitar uma criança desconhecida quando ela se apresenta frágil, conformada, submissa.  Por outro lado, parece ser mais difícil amar um desconhecido, ou mesmo se abrir para tentar compreendê-lo, quando ele é problemático, arredio, irascível, teimoso, como é o caso do protagonista.  
Por não atingir as emoções de imediato, o filme não causa impacto no momento em que o vemos, todavia provoca esse efeito depois, quando refletimos sobre ele. Identificamos um chamamento à compreensão, à paciência e, sobretudo, ao amor paternal ou maternal. Vemos que esse sentimento pode surgir, de maneira forte e arrebatadora, sem necessariamente estar condicionado a laços sanguíneos.
Ah! Devo avisar sobre o final do filme. Não, não vou contá-lo. Só alertar que tudo acaba de forma seca e brusca. Os diretores não nos preparam para um fechamento. Sabe aquele momento em que a camêra se distancia, as luzes se apagam e começa uma música, tudo lentamente? Pois é, esse momento não existe. Fica a sensação estranha de uma pergunta que nunca será respondida. Mas...tudo bem.
Enfim, recomendo.
Até logo!

VOLTANDO A SER CRIANÇA





Até o dia 29 de julho, estará aberta para o público, no Shopping Iguatemi Brasília, uma exposição muito interessante: Exposição Interativa O Pequeno Príncipe.  Para quem não é de Brasília, parece-me que esse evento tem passado por todos os shoppings Iguatemi, então, é bom procurar saber se ele já esteve ou estará em sua cidade. Se você me lê desde a Oceania, África, Ásia ou outro continente; lamento, mas não tenho notícias sobre a passagem dessa exposição em cidades internacionais. rs

O espaço ocupado pela mostra não é muito grande, também não há muitas atividades, mas todas as existentes, sempre fazendo referência a trechos do livro, são muito bem boladas e realmente cumprem o que diz o nome: irresistivelmente os pequenos interagem. As crianças podem desenhar o carneiro nas paredes de um corredor, controlar pássaros virtuais, anotar recados em estrela e, inclusive, o ponto máximo do circuito, brincar sobre uma espécie de puff convexo gigante, que simula um planeta, com direito a astros logo acima dele, formando assim uma galáxia. Tudo é muito bonito e bem feito, com capricho nos detalhes.

Em resumo, é uma atividade instrutiva e divertida. Uma bela iniciativa para trazer sempre à lembrança essa grande obra da literatura infantil mundial, que é O Pequeno Príncipe. E, para isso, nada melhor que despertar nas crianças o interesse pelo livro por meio de situações em que elas possam se inserir nesse universo.

Está bem! Alguém pode dizer que é programa para adultos acompanhados de crianças. Talvez... Porém, acho que não. Sempre é bom relembrar momentos que marcaram a nossa infância, ainda mais quando se trata de um livro importante como esse. Enfim, é programa para todos. E para os solteiros, então! Vai que vocês esbarram com alguma miss ali no meio da mostra! Se é que as misses de hoje leem, pelo menos, O Pequeno Príncipe.

Até mais!

quarta-feira, 18 de julho de 2012

VAMOS AO QUE INTERESSA




Resolvi começar o trabalho propriamente dito por uma arte em que tenho grande interesse: o cinema. Se eu tivesse que escolher alguma carreira artística, provavelmente seria a de diretor de cinema. Mas, divagações à parte, vamos ao que interessa. O filme escolhido para esse pontapé inicial foi o belíssimo Um Conto Chinês, a que assisti recentemente. É uma singela comédia dramática argentina, de 2011, baseada numa história real, dirigida por Sebastián Borensztein e protagonizada por Ricardo Darín.

A película começa com uma cena bizarra: um casal chinês está num barco, quando uma vaca despenca do céu em cima da jovem, momentos antes de ser pedida em casamento por seu namorado. Não, não foi engano meu! É isso mesmo: cai um vaca do céu! Lembrei-me de Magnólia, mas aí já é outro filme. Então, como diria uma ex-chefe minha, voltando à vaca fria (com o perdão do trocadilho); depois do animal cair e matar a jovem, dá-se um corte, e já estamos em Buenos Aires, para conhecer o protagonista da trama. Passa-se muito tempo, e não é feita nenhuma menção ao episódio da vaca. Nos sentimos meio perdidos; porém, mais à frente, teremos a resposta. Cabe salientar que o vazio até a explicação dessa cena foi proposital, constituindo-se numa sacada muito interessante do diretor.

Bem, o protagonista é um argentino muito chato (para muitos, um pleonasmo; mas isso não vem ao caso), que tem uma vida monótona e solitária. Seu passatempo predileto é colecionar histórias insólitas recortadas de jornais. O cara, cujo nome é Roberto, é um solteirão ranzinza, mal-humorado, impaciente, metódico e, por vezes, agressivo, mas de bom coração. Agora, imagina um sujeito assim deparar, de repente, com um chinês, que não fala uma palavra em espanhol, perdido em plena Buenos Aires. Seu bom coração não o deixa abandonar o infeliz no meio da rua; então, Roberto resolve ajudar o estrangeiro. Ele faz de tudo para dar um destino ao “trambolho”, mas sem sucesso. O jeito é abrigar o chinês na sua casa, e é exatamente essa situação incômoda que vai dar novo sentido à vida de Roberto. As dificuldades de comunicação e as diferenças de cultura e de temperamento entre os dois personagens produzem situações ora engraçadas, ora comoventes.

Não vou entrar em detalhes sobre o desenrolar da trama, nem vou contar o final do filme, mas digo que vale a pena assistir. Vale a pena pelas atuações exuberantes dos protagonistas, pela história tocante e envolvente - muito bem conduzida pelo diretor-, pelas emoções provocadas pelo filme. Mas, acima de tudo isso, vale pela reflexão a que somos chamados: repensar nossas convicções, abrir-se para novas experiências, vencer o medo e aproveitar as oportunidades que se colocam diante de nós.
Acho que já posso acabar. Assista!

Até a próxima! 



PRIMEIRO ATO



Hoje inauguro o meu blog. Devo alertar que o texto ficou meio longo, tudo por conta da minha empolgação por ser a primeira mensagem. Tentarei ser mais sucinto nas posteriores. Mas, se puder tirar um tempinho e ler todo ele, ficarei agradecido. Se não puder ou não tiver paciência, vou entender perfeitamente, e nos vemos na próxima postagem. Sem ressentimentos.

Bem... A proposta desse blog consiste em compartilhar, sem ordem ou critérios predeterminados, minhas dicas, curiosidades, opiniões e impressões a respeito de produções culturais em geral, podendo ser filmes, livros, músicas, apresentações, exposições, peças; enfim, toda a expressão artística que eu desfrutar em algum momento e achar digna de nota, positiva ou negativa. Por conta dessa miscelânea, resolvi denominá-lo Garrafada Cultural.

A garrafada, como muitos sabem, é um preparado popular, de natureza líquida, formado da reunião de diversos tipos de erva, que promete a cura dos mais variados tipos de enfermidade. Como a intenção aqui não é propor soluções para o restabelecimento da saúde (mesmo sabendo que um pouco de cultura possa ajudar a produzir esse resultado), a semelhança desse blog com o citado “remédio” resume-se, então, à característica do seu conteúdo, ou seja, uma grande mistura de coisas. Se, por outro lado, você entendeu que o termo garrafada significa um golpe, em referência àquele desferido com uma garrafa, também está valendo. Talvez apareçam dicas ou comentários meus que, de tão descabidos, causem algum estrago no juízo do leitor, assim como o causado por uma garrafada. É bem possível! Só peço que tente se recuperar e continue me acompanhando. Quem sabe no outro dia não apareça algo de que goste?

Mas é bom avisar que não sou artista ou crítico de arte, nem mesmo estudante, estudioso ou especialista no tema. Sou tão somente um admirador, um apreciador da cultura, nas suas variadas manifestações, com interesse especial em cinema, música e literatura. Tendo em conta o meu amadorismo no campo cultural, não espere nenhum rigor técnico nas minhas análises, principalmente no que diz respeito às terminologias.  Meus comentários são totalmente descompromissados, só quero compartilhar o meu entendimento sobre determinada obra. Mas prometo fazer o esforço de pesquisar para empregar os termos o mais corretamente possível. De qualquer maneira, agradeço se puderem me corrigir quando eu der uma bola fora.

E, por favor, fique à vontade para comentar, concordando ou discordando das minhas opiniões. O mais importante é a troca de informações para o enriquecimento e o aprendizado mútuos.  (Soa meio piegas, mas não consegui fugir disso).

Por ora, ficam meu abraço e meu agradecimento, e... até a próxima postagem.