quarta-feira, 25 de julho de 2012

JEAN FERRAT


Pretendia falar, só um pouco mais tarde, de outro cantor e compositor francês dos anos 60 e 70, pois tinha receio de me tornar maçante; afinal meu último texto tratou de um cantor da mesma nacionalidade e época. Entretanto, empolguei-me com o clima gerado pela postagem sobre Charles Aznavour e decidi correr o risco. Apresento-lhe, então, Jean Ferrat, não tão famoso internacionalmente quanto Aznavour, mas também autor de obras admiráveis, que marcaram o cenário musical das décadas de sessenta e setenta na França.

Tomei conhecimento da existência de Jean Ferrat por acaso, em 2010, exatamente quando ele deixou de existir. Estava passando os olhos por um site da internet, quando a manchete de uma reportagem me chamou atenção, era algo mais ou menos assim: Morre aos 79 anos o célebre poeta, cantor e compositor Jean Ferrat. Célebre?!! Nunca tinha ouvido falar dele!! Como conheço pouco!! Pensei. Como sou curioso e interessado na cultura francesa, resolvi clicar no link para saber de quem se tratava.

A reportagem contava um pouco da vida e da carreira desse grande artista. As informações me impressionaram bastante. Relatavam que Ferrat era um cantor engajado política e socialmente e compunha muitas letras com esse teor; porém não se restringia a essas temáticas e abordava, entre outros assuntos, o amor e a região onde nascera e morara.

Na vida política, aproximou-se do comunismo, mas não ficava calado quando discordava das posições assumidas pelos “companheiros”. Condenou algumas práticas adotadas pela URSS, bem como, alguns anos depois, criticou a orientação pró-soviética do Partido Comunista Francês (PCF), apoio que ele considerou um equívoco do partido naquele momento. Em protesto ao comportamento de ambos, ele escreveu duas canções: Camarade, uma crítica à invasão de Praga pelos russos em 1968, e Bilan, de 1978, dirigida ao PCF, por ocasião do apoio citado acima nesse parágrafo.

Ele compôs, ainda, outras canções de protesto a respeito de acontecimentos com os quais não concordava. As duas mais conhecidas são Nuit et Brouillard e Potemkine, que lhe renderam censuras no rádio e na televisão. Além de composições próprias, Ferrat se dedicava a fazer melodias para os poemas do poeta francês Louis Aragon. Como resultado desse esforço, entre outras belezas, entregou-nos esplendidamente musicada Aimer à Perdre La Raison (música do vídeo abaixo).

Achei louváveis outros dois aspectos de sua personalidade. O primeiro é que, mesmo com o sucesso de público e crítica, Ferrat não se mostrava um artista afetado, deslumbrado, “estrelinha”, conservando hábitos simples até a sua morte. Destaca-se ainda a firmeza que ele mantinha em suas convicções, por exemplo, o fato de não se sujeitar aos apelos comerciais da indústria musical. Ele encarava a música como forma de expressão de suas idéias, sem se preocupar com que pensavam. Fazia a arte pela arte. Por conta dessa postura, de seu discurso polêmico e músicas de denúncia, ficou muito tempo sem se apresentar nas redes televisivas.

Ao terminar de ler a reportagem, inevitavelmente procurei suas composições para ouvi-las com cuidado. Gostei bastante. Letras ricas e sofisticadas, melodias doces e agradáveis. E, emoldurando todo esse magnífico quadro, surge a voz forte e profunda do cantor. Pela poesia, pelo jogo com as palavras, pelas rimas ricas e as expressões rebuscadas, arrisco-me a cravar: se o Português tem Chico Buarque e o Inglês, Bob Dylan; o Francês tem Jean Ferrat

Talvez alguém torça o nariz para o arranjo de algumas músicas, que pode soar meio ultrapassado. Não me importei muito com isso, pois busquei me inserir no estilo musical francês da época (anos 60 e 70). Além disso, preocupei-me, antes de tudo, com a letra e melodia, que fazem esquecer qualquer som na música que pareça meio deslocado de seu tempo. Se o arranjo lhe incomodar ao ponto de impedir qualquer tentativa de inserção no estilo musical da época, tente abstrai-se desse elemento e concentre-se nos outros aspectos das composições criadas e interpretadas por Ferrat

Outras canções não citadas acima que merecem destaque são: C'est Beau la Vie, La Femme est l'Avenir do l'Homme, La Montagne, Les Yeux d'Elsa, Ma France, Nous Dormirons Emsemble.

Segue o vídeo da linda música Aimer à perdre La Raison. A letra já se encontra no vídeo; a tradução, mais adiante.





Amar a perder a razão

Amar a perder a razão
Amar até não saber o que dizer
Ter somente você como horizonte
E só conhecer as estações
Pela dor do paritr
Amar a perder a razão

Ah, é sempre você que machucamos
É sempre o seu espelho quebrado
Minha pobre felicidade, minha fraqueza
Você que insultamos e abandonamos
Em toda a carne martirizada

Amar a perder a razão
Amar até não saber o que dizer
Ter somente você como horizonte
E só conhecer as estações
Pela dor do partir
Amar a perder a razão

A fome, o cansaço e o frio
Todas as misérias do mundo
É por meu amor que eu acredito nisso
Nela eu carrego a minha cruz
E em suas noites a minha noite se baseia

Amar a perder a razão
Amar até não saber o que dizer
Ter somente você como horizonte
E só conhecer as estações
Pela dor do paritr
Amar a perder a razão

Nenhum comentário:

Postar um comentário