quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A PELE QUE HABITO


Lá vou eu de novo me sujeitar a novas garrafadas por falar mal de um filme premiado e elogiado pela crítica especializada e que tem na direção um nome de peso. Trata-se de A pele que habito, dirigido por Pedro Almodóvar, com roteiro assinado por ele e Augustín Almodóvar. Esse suspense espanhol traz no seu elenco: Antônio Bandeiras, Elena Anaya, Marisa Paredes, Jan Cornet, Roberto Álamo.  Ele conta a história de um médico que mantém uma bela jovem em cativeiro para que possa desenvolver experiências com um novo tipo de pele, bem mais resistente que a natural.

Quero ressaltar que não tenho nenhuma implicância com o Almodóvar, pelo contrário, admiro o trabalho dele. Carne trêmula e Fale com ela são ótimos, e Tudo sobre minha mãe considero um dos melhores filmes a que já assisti na vida. Então, meus comentários negativos não estão contaminados por qualquer possível resitência ao diretor.

Pois bem...Ao contrário de A viagem do balão vermelho, captei as discussões que o filme propõe, pelo menos as mais evidentes, e achei interessantes e profundas. Então, o que não me agradou... Primeiramente o filme não me surpreendeu; suscitou poucas indagações originais. Disse poucas, mas, na verdade, só enxerguei uma, sobre a qual discorrei mais a frente. Depois, a forma como a trama foi executada também não me convenceu, tampouco me envolveu ou perturbou.

A pele que habito traz as marcas bem características de Almodóvar. Quando batemos o olho na obra, já reconhecemos de pronto suas digitais. Talvez, por isso, o filme não tenha funcionado para mim. A meu ver o gênero, suspense, nesse caso, precisava de uma abordagem e ritmos diferentes do que ele costumeiramente faz. Talvez se o diretor tivesse se reinventado para esse filme, como fazem constantemente Woody Allen e Stanley Kubrick, a história teria prendido mais a minha atenção.

Isto posto, passarei, então, aos exemplos do que eu quero dizer com poucas indagações originais. Primeiro, o constante conflito entre ciência, de um lado, e ética/moral, do outro, já foi abordado em diversas outras obras, só para ficar nos filmes: Laranja Mecânica e Frankenstein de Mary Shelley. Nesse último citado também encontra-se a discussão sobre as consequências trágicas dos atos motivados por um amor louco e a vontade do homem virar Deus, temas presentes nessa película do Almodóvar. A pele que habito sugere ainda outra reflexão já vista em outros filmes, que consiste na relutância do indivíduo em aceitar a perda de um ente querido, que, em razão disso, passa a projetar o seu amor em outra pessoa que tem semelhança física, natural ou forjada, com objeto amado. Essa reflexão, por sinal, já encontrei até mesmo num episódio do desenho animado da década de 80, O Pequeno Príncipe, que vi recentemente com meu filho (por favor, não entendam isso como ironia ou provocação).  

Entretanto, não foram só assuntos repisados que apareceram na A pele que habito. Uma discussão inédita no cinema, pelo menos para mim, pode ser observada nessa produção. Trata-se do paralelo sugerido pelo filme entre a prisão entre quatro paredes e a prisão no interior de outra pele. Qual seria o recinto que mais aprisiona: um quarto trancado ou um corpo estranho? Muito profunda e instigante. Mas foi só.

De fato, não só de conteúdo, inédito ou batido, vive uma obra. A forma como a  ideia, ainda que habitual, é conduzida também pesa muito na sua composição e pode torná-la interessante, até espetacular. Porém, tampouco, nesse sentido, o filme me agradou totalmente. Para um suspense, achei que a voltagem da tensão foi baixa. Existe alguma sim, mas dura até o grande enigma, que em certo momento ficou previsível, ser revelado. Depois desse instante,  a temperatura emocional do filme caiu um pouco. Nem mesmo a condução do tema novo a que me referi no parágrafo anterior me entusiasmou. O filme não conseguir me transmitir a possível aflição que a personagem deveria sentir por estar enclausurada numa pele estranha ou quarto trancado.

Também achei que A pele que habito deixou algumas lacunas que dificultaram o meu envolvimento com a trama. Não que tudo deveria ser bem explicadinho, nos seus mínimos detalhes; sei que não é característica do Almodóvar, pois ele prefere sugerir, e isso não me incomoda. Mas uma narração, monólogo ou diálogo  poderia esclarecer melhor algumas passagens, reações ou decisões tomadas pelos personagens, sem entregar demais.

Quanto às atuações, achei a do Antonio Bandeiras bem morna e burocrática. Por ser um personagem forte, entendo que ele deveria ter tido uma interpretação mais contundente e incisiva;  a exemplo da executada por Marisa Paredes, que, apesar da participação menor, conseguiu me transmitir toda a sua angústia com a situação. A personagem dessa atriz me marcou bem mais que a do Bandeiras, que não conseguiu me envolver ou provocar em mim qualquer sentimento, que seja de amor, ódio ou compaixão. Elena Ayala interpretou bem, principalmente no final, com uma participação bem marcante, mas, em alguns momentos, também faltou contundência.

Por falar em final, foi a melhor parte do filme (não, não é aquela óbvia piada: "ah, porque o filme acabou!" Gostei dessa parte realmente). Achei-o suave na execução, mas forte e comovente na mensagem. Também cabe ressaltar como aspecto positivo, a capacidade de Almodóvar de transitar entre o trágico e o cômico, sem perder a elegância; marca registrada do seu trabalho.

Enfim, considero o filme bom, mas esperava mais, justamente por ser do Almodóvar. Somado a isso, havia a expectativa de ver um filme de suspense dirigido por esse brilhante diretor, algo novo para mim. Esperava um filme inovador, eletrizante, envolvente, e não foi o que eu vi. Talvez o excesso de expectativa tenha prejudicado a minha forma de apreciá-lo.

Trailer




terça-feira, 28 de agosto de 2012

DAMIEN SAEZ


Já apresentei dois cantores/compositores franceses antigos e uma banda contemporânea. Para equilibrar essa relação, vou apresentar outro de tempos recentes, que, ao contrário do Noir Desir,  continua na ativa. Seu nome: Damien Saez. Cantor e compositor no estilo rock/pop do cenário da música alternativa francesa.

Da mesma forma que o Noir Desir, fui apresentado às músicas do Damien Saez por meu irmão. A identificação com o trabalho desse artista foi imediata. A primeira que ouvi foi Jeune et con do álbum Jours étranges, o primeiro do cantor. A música é um rock com letra engajada que critica a sociedade francesa. Por sinal, o álbum é predominamente de rock com alguns elementos de pop e de eletrônica, mas contém igualmente baladas melancólicas e até jazz. Na minha opinião, dos que eu conheço, esse é o melhor dele ao lado de Paris.

O disco Paris, com gravação acústica inserida numa atmosfera bem intimista, compõe-se, por sua vez, majoritariamente de baladas com arranjos bastante melódicos acompanhados de letras poéticas. O resultado são belos poemas com sonoridade doce e leve. Gosto de todas as músicas desse álbum, mas para mim as melhores são: Jeunesse, léve-toi; Le cavalier sans tête; S'en aller e Toi tu dis que t'es bien sans moi.

O último disco do cantor, J'accuse, dominado mais uma vez pelo rock, considero inferior aos outros dois comentados acima. Se fosse para qualificar, diria que é apenas bom. Achei as músicas meio repetitivas. O cantor me pareceu pouco criativo; não vi nenhuma novidade.

Além desses, Saez produziu God Blesse, Debbie, Varsovie, L'Alhambra (esses dois últimos compondo uma espécie de triplo com Paris), A lovers prayer. Como não os conheço, vou me abster de emitir opinião.

Segue vídeo da Jeune et con e Le cavalier sans tête, respectivamente.






quarta-feira, 22 de agosto de 2012

KAMCHATKA


Depois do Um conto chinês, o blog traz hoje mais uma produção do cinema argentino, que ostenta esse nome esquisito aí do título da postagem. O filme é dirigido por Marcelo Piñeyro, e o roteiro é assinado por Marcelo Filgueira e pelo próprio diretor. Elenco: Matías del Pozo, Cecilia Roth, Hector Alterio e...? Ganha uma Kamchatka quem acertar o outro protagonista (sem pesquisar no google, nem olhar a capa acima, hein!!) Pistas? A primeira é que se trata de uma película argentina, e ele tem aparecido em quase todas importantes nos últimos anos. Com essa já dava para matar, mas aí vão mais algumas dicas: ator extremamente talentoso, moreno, olhos verdes, narigudo, também protagonizou Um conto chinês.  Ficou mole! Sim, Isso mesmo!! Ricardo Darín. Como todo mundo acertou, e só tenho um exemplar do prêmio, não vou dar para ninguém.

Provavelmente, o leitor está se perguntado: "Que raios é Kamchatka?" Já adianto que não poderia servir como prêmio; não nessa minha brincadeira. Então, alguém arrisca: "seria a gíria argentina equivalente ao nosso Tchaka Tchaka na Mutchaka?" Não, não é um filme erótico. E outro chuta: "seria uma posição do Kama Sutra?" Pô!! já disse que não é um filme erótico!! Um terceiro dá o seu palpite: "talvez seja a saudação de algum povoado numa região remota no norte da Lituânia". Parece bem convincente, mas também não é isso. Aí, antes da minha resposta, surge um chato ou chata e, arrotando conhecimento, discorre com toda a propriedade: "Kamchatka, Camecháteca ou Camchaca (em russo: полуо́стров Камча́тка) é uma enorme península com cerca de 1250 km de extensão, localizada na região oriental da Rússia, e cujo ponto mais elevado é o Klyuchevskaya Sopka. Fica a leste do Mar de Okhotsk e Golfo de Shelikhov." Pô!! Parabéns, meu amigo ou amiga...!!! Parabéns pela sua habilidade em decorar textos do Wikipédia!! (Mas quem é que não recorre ao Wikipédia? De onde você acha que tirei isso? Mas lhe asseguro que fiz a devida checagem das informações)

"Ok! Já sei o que é Kamchatka, mas o que a tal península tem a ver com o filme? Pensei que a história se passava na Argentina?" questiona mais alguém. E se passa, mas não vou dizer, de jeito nenhum, qual a relação entre essa região russa e essa obra cinematográfica, vai ter que assistir a toda ela ou buscar no google. Sugiro a primeira alternativa, pois é um bom filme. Agora, mesmo que tenha se aguentado e tenha pesquisado na internet para matar a curiosidade, veja-o assim mesmo; vale a pena.

Os acontecimentos são apresentados sob a ótica do menino Harry (Matías del Pozo), de dez anos de idade, que tem o seu cotidiano totalmente alterado pela necessidade de fuga dos pais (Ricardo Darín e Cecilia Roth), que estão sendo perseguidos pela ditatura militar que governa a Argentina na década de 70. O destino da família (os pais, Harry e o irmão) é uma fazenda abandonada, onde vai se passar quase toda a trama.

Não sei se por ser pai de dois meninos e, por isso, estar mais sensível a qualquer drama envolvendo crianças, achei Kamchatka muito triste. Não é uma tristeza escancarada, mas sutil; por vezes, sugerida. O filme não apresenta situações fortes para chocar e comover. Não vemos cenas de captura, prisão, perseguição, tortura; nada nesse sentido.  O terror da ditadura só é abordado de forma indireta. Ainda assim, devido à habilidade do diretor, ao competente texto e às excelentes atuação de Darín e Roth, a angústia e tristeza estão presentes em boa parte do filme.

Mas Kamchatka não é só triste, também é bonito. Cenas da família reunida, do romantismo do casal,  da amizade entre os irmãos, do cuidado do mais velho em relação ao mais novo, são todas bem tocantes. Os momentos de adversidade, em vários casos,  promovem situações de união e nos fazem enxergar a importância dos nossos amados, o que, muitas vezes, ignoramos quando a situação encontra-se estável. Creio que, além de muitas outras, talvez seja essa uma das valiosas mensagens do filme.

Assistam!


Trailer (não achei um legendado)



segunda-feira, 20 de agosto de 2012

LEITE DERRAMADO


Semana passada não pude ser tão ativo aqui no blog como vinha sendo, só consegui colocar uma postagem. Filho doente e viagem a trabalho me impediram de estar mais presente. Por falar em viagem a trabalho, uma das poucas vantagens que vejo nessa situação consiste na oportunidade de dispor de mais tempo para a leitura. As horas de voo e a solidão do quarto de hotel nos convidam a essa prática. Nessa último compromisso, por conta das muitas horas dentro do avião, consegui terminar um livro: Leite Derramado, escrito por Chico Buarque.

Chico Buarque, na minha opinião, é disparado o melhor compositor brasileiro. Conheço praticamente todas as sua músicas; tenho todos seus discos de estúdio, além de alguns outros especiais: apresentações ao vivo, apresentações com algum convidado, temas de filme, temas de peças de teatro, coletâneas. Porém, apesar de ser fã do Chico músico, até então, nunca tinha lido um livro seu. Comecei justamente pelo último: Leite Derramado. Gostei bastante, tanto que fiquei com vontade de ler outros dele, para ver se também viro fã do Chico escritor.


Em leite derramado, esse artista nos apresenta um senhor de cem anos de idade que se encontra bastante doente no leito de um hospital. Eulálio, o nome desse senhor, conta a quem estiver presente no local, a história de sua vida e a saga de sua família. A história em sim não tem nada de especial, tampouco é complexa ou profunda, o que não significa que o livro seja vazio, pois não é; existem alguns conflitos psicológicos e reflexões filosóficas importantes. Além disso, a forma como o autor narra a experiência desse personagem a torna bem interessante. O desenlace de alguns dos acontecimentos são  muitas vezes apenas sugeridos e as situações são descritas de maneira sutil, o que nos prende ao relato e nos leva a reflexão para tentar captar a mensagem deixada nas entrelinhas. O texto é muito bom, de leitura fácil e agradável, repleto de belas metáforas que tanto marcam as letras das músicas do Chico.


A narrativa foi construída de forma cíclica. É um vai-e-vem constante. Passado e presente, lucidez e loucura, misturam-se e confundem-se com frequência durante todo o livro, mesmo em pequenos trechos do relato. Por isso, deve-se fazer uma leitura atenta de cada pedaço da obra para não correr o risco de perder aspectos importantes para o entendimento da trama. Por conta dessa característica, por vezes, ficamos na dúvida se a história contada é real ou se não passa do fruto da mente perturbada do senil personagem.


Ao terminar o livro, provavelmente você sentirá vontade de reler, pelos menos, o seu início, que parece meio confuso e truncado por conta do estilo da narrativa com idas e voltas; e não se assuste se quando der por si já estiver lido todo ele de novo.








segunda-feira, 13 de agosto de 2012

QUE PESSOA GENIAL!!


Lembram-se de que dias atrás contei que fui à bienal do livro aqui em Brasília para fazer algumas compras? Pois, além do livro de poema do Mário Quintana, também comprei um de outro poeta genial, Fernando Pessoa, intitulado Antologia Poética de Fernando Pessoa. Essa publicação traz poemas que esse autor assina com o seu próprio nome e outros assinados usando os seus heterônimos: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.  Não tem como não usar a mesma expressão que usei para falar do Quintana: como é bom Fernando Pessoa! (sem rimas infames dessa vez).

A vantagem de conhecer uma obra em livros especializados e não se contentar só com o que nos apresenta as pessoas ou fontes duvidosas é que temos acesso a informações importantes para entender o contexto em que as criações foram geradas. Além disso, podemos tomar conhecimento do texto completo e não de sua versão distorcida ou fragmentada. Por exemplo, a célebre expressão "tudo vale a pena se a alma não é pequena" de Fernando Pessoa não é um poema completo, mas, sim, a parte de um (vou escrevê-lo abaixo), o que pode ser novidade para muitos, porque esse detalhe raramente é mencionado por quem a reproduz. Sem contar que a ouvimos tanto que ela chega a assumir vida própria.

Outro exemplo da vantagem citada acima é o esclarecimento sobre como se dá o processo de criação no momento em que Fernando Pessoa se vale de seus heterônimos. Segundo o livro, o próprio poeta escreveu: "Como escrevo em nome desses três? Caeiro por pura e inesperada inspiração, sem saber ou sequer calcular que iria escrever. Ricardo Reis depois de uma deliberação abstrata, que subitamente se concretiza numa ode. Campos, quando sinto um súbito impulso para escrever e não sei o quê." E como é impressionante a capacidade do autor em transitar naturalmente entre as quatro personalidades e dar identidade e características próprias para cada uma delas. Facilmente identificamos as diferenças de estilo quando o autor escreve por ele mesmo e quando ele escreve por meio de seus três personagens poéticos. Fantástico!

E ele é fantástico não só por esse aspecto, mas também pela riqueza de seus textos, pela sua linguagem rebuscada, pela profundidade de seus pensamentos, pela facilidade de lidar com as palavras e pela beleza de suas analogias e suas metáforas. Genial!

Alguns de seus poemas para nosso deleite.


Mar português

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.


Autopsicografia

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração


Quinta/D. Sebastião, rei de Portugal

Louco, sim, louco porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há,

Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?


Sem título

Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples
Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra cousa todos os dias são meus.
Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as cousas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as cousas são reais e todas diferentes uma das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.
Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso, fui o único poeta da Natureza.



sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A VIAGEM DO CAPITÃO TORNADO


Para fechar as postagens da semana, mais um filme: A viagem do Capitão Tornado. Trata-se de uma comédia franco-italiana, dirigida pelo grande Ettore Scola. O roteiro é assinado pelo próprio diretor e por Théophile Gautier. Elenco: Emanuelle Béart, Guiseppe Cederna, Jean-François Perrier,  Lauretta Masiero, Massimo Troisi, Massimo Wertmüller, Ornella Muti, Toni Ucci, Tosca D'aquino, Vicent Perez.

"A trama se passa na França do ano de 1774. O último e faminto herdeiro da família Sigognac deixa o castelo de seus ancestrais para acompanhar um grupo de atores itinerantes, a caminho da corte do rei." Esse é o resumo que copiei do site nominuto (http://www.nominuto.com/vida/cinema/a-viagem-do-capitao-tornado-um-filme-sobre-teatro/33049/). Achei que ficou bom: sucinto e objetivo; então transferi na íntegra para cá. Para que quebrar a cabeça numa sexta-feira, não é mesmo?

Se não gostei da viagem da postagem anterior, essa aqui vale muito a pena. Engraçada, divertida, leve, cativante. Um comédia que, além de fazer rir, toca e emociona, pois, em certos momentos, apresenta alguns dramas e algumas histórias de amor. É bom lembrar que são histórias de amor no estilo Ettore Scola; ele não romantiza demais essas relações. Quer dizer...romantiza, mas até certo ponto, abrindo também espaço para o surgimento do amor mais racional. Por isso, muitas vezes, o desfecho das relações amorosas nos surpreende ou contraria a nossa torcida, mas a forma como ele trata a situação é tão elegante, sóbria e serena, que não ficamos chateados e passamos até gostar da solução dada.

E por falar em direção, Ettore Scola é soberbo. Dentro dos meus modestos conhecimentos de cinema e da arte de dirigir um filme, é o melhor diretor que já conheci (outras obras-primas dele que já vi: Nós que nos amávamos tanto, O baile, Feios, sujos e malvados, O jantar) . Como lhe é peculiar, ele conduz essa película com maestria. Tudo flui com naturalidade e precisão. E dá o tom certo ao humor. Muito bom! Recomendo fortemente.

Infelizmente não achei o trailer desse filme, então vão mais fotos




quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A VIAGEM DO BALÃO VERMELHO


Hoje em cartaz: A viagem do balão vermelho

Hum...Bem...Por onde eu começo..? Vou ganhar algum tempo fornecendo as informações básicas e necessárias quando se apresenta um texto sobre qualquer filme: país de produção, gênero, diretor, atores, roteiristas. Vamos lá! País: França. Gênero: drama. Diretor: Hou Hsiao-Hsien. Elenco: Juliette Binoche, Simon Iteanu, Fang Song. Roteiristas: Hou Hsiao-Hsien e François Margolin.

Agora o resumo: Simon é um menino que é perseguido por um balão vermelho pela cidade de Paris. A mãe de Simon, por absoluta falta de tempo para cuidar dele, contrata uma babá chinesa. Essa babá, que é estudante de cinema, está produzindo um filme sobre um balão vermelho e apresenta a história ao menino. A Viagem do Balão Vermelho é um longa livremente baseado no curta-metragem intitulado O Balão Vermelho, de Albert Lamourisse, produzido em 1956.

Pois é...Então... Perceberam que estou enrolando, né? E estou mesmo. É complicado falar mal de um filme "cult", elogiado pela crítica e  público, conduzido por um diretor cultuado. Bem...Até ganhar coragem, vou enrolar mais um pouco contando como conheci essa produção francesa. Foi por meio da minha mulher, que viu uma postagem na comunidade do Orkut (sim, ele ainda está vivo) elogiando esse filme. Então, alugamos.

Na capa, líamos várias críticas positivas, inclusive com o termo: obra-prima. "Opa, parece que vem coisa boa por aí!!" Pensei. Colocamos no aparelho e "play". Bem...o filme é...como eu posso dizer..? Lá vou eu me expor a pedradas ou garrafadas..!! (sabia que um dia esse nome iria se voltar contra mim, mas, beleza!). Bem...O filme...!! Ah! Quer saber? Que se exploda, inclusive o tal balão! Como não devo nada a ninguém e não tenho medo de parecer imbecil, lá vai!! O termo mais apropriado que encontrei para definir o A viagem do balão vermelho é CHATO. Sim o filme é muito chato!

Depois de vê-lo, corri para ler críticas sobre ele. Não achei nenhuma negativa, só elogiosas: cativante, sensível, emocionante, belo, comovente e por aí vai. "Hã??!!! Esse pessoal só pode estar de brincadeira!! Ou, então, O problema sou eu. Só pode!" Foi minha reação ao ler tudo isso. "Talvez o meu erro foi ter visto o filme no domingo, depois do almoço.  "Pesquei" bastante e perdi alguma parte interessante da trama. Vai ver que foi isso." Continuei a pensar, buscando alguma explicação.

Essa explicação era bem razoável, porque isso já aconteceu comigo uma vez ao assistir a O fabuloso destino de Amélie Poulain. Vi esse filme com muito sono, perdi o encadeamento dos fatos e achei-o bem chato na hora, mas depois assiste a ele novamente e passou a ser um dos meu preferidos. Teria, então, que ver outra vez A viagem do balão vermelho para eliminar a possibilidade de o sono ter atrapalhado o entendimento da obra. Fui lá e aluguei-o de novo.

Fiz toda uma preparação especial para vê-lo dessa vez. Escolhi um dia em que estivesse bem desperto, atento, depois de uma noite bem dormida. Jantei uma comidinha bem leve, joguei água gelada no rosto, dei dois tapas em cada lado da face e coloquei o DVD no aparelho. Estava meio desconfiado, mas resoluto: "vamu que vamu!" Sem me esquecer, é claro, de deixar um pouco de água gelada por perto, por via das dúvidas.

Quatro horas depois (a duração é duas horas, mas para mim foi como se tivesse se passado o dobro), terminei o filme sem dar um cochilo sequer. Fiquei orgulho de mim mesmo. Daí tive certeza que o problema não foram os meus cochilos na primeira vez. O filme realmente é muito chato. A história é sobre nada, não acontece nada de interessante. É praticamente a reprodução de trechos comuns do cotidiano de uma família. Não senti nenhuma emoção. Não consegui extrair nenhuma lição, moral ou mensagem. Terminei o filme como comecei; ele não me acrescentou nada.

E não foi o ritmo devagar, quase parando, do filme que me incomodou. Já vi outros assim e gostei. Também não foram o estilo de filmagem meio descompromissado e a forma "despreocupada" de dirigir os atores que me desagradaram. Cito esses aspectos porque é um estilo diferente adotado pelo diretor. Ele não se preocupou muito com o enquadramento e o foco precisos das imagens. Às vezes, a câmera corria atrás dos personagem durante o diálogo: os personagens estavam aqui e o enquadramento, ali. Outras vezes, era o foco que ia se ajustando aos poucos.  E quanto à atuação dos atores, havia a impressão de que eles estavam realmente vivendo sua vida real; aparentava que falavam de improviso, de tão livres e descomprometidos com algum roteiro que eles pareciam estar. Claro que tudo isso por opção, porque, segundo a crítica especializada, Hou é um diretor bem habilidoso.

Não, não foram esses fatores citados no parágrafo anterior que pesaram negativamete para mim! Não vejo problema no cinema mais simples, enxuto, "despreocupado"; contanto que tenha uma história interessante. E foi exatamente isso que me incomodou.  A trama de A viagem do balão vermelho não é interessante, não surpreende, não traz uma elemento novo, não envolve, muito menos cativa. Talvez eu precise de mais sensibilidade ou de conhecimento técnico para enxergar essa beleza toda que tanto falam, porque as únicas belezas que vi foram Paris e o idioma francês.

Enfim, recomendo...recomendo a quem sofre de insônia (pode ser um bom sonífero). De qualquer maneira, vejam A viagem do balão vermelho (alerto para não fazer isso depois de uma feijoada, buchada, prato de mocotó ou qualquer outra comida pesada) e compartilhem aqui sua opinião. Contem o que sentiram. Porque, para mim, a falta de emoção foi tanta, que, para sentir alguma, me deu vontade de ouvir a música O nosso lindo balão azul; essa, sim, contagiante, envolvente, cativante...


Segue o trailer do filme.



segunda-feira, 6 de agosto de 2012

SERTANEJO BÃO DEMAIS DA CONTA


Costumo brincar que não volto mais à roça onde meu pai nasceu e morou até a juventude porque lá hoje não tem mais graça, pois as casas já contam com energia elétrica acompanhada de todo o conforto e comodidade dela decorrentes, como luz, televisão, chuveiro quente. Bom mesmo era quando a luz provinha da lamparina, o único eletrônico por perto era um rádio a pilha e o banho era de rio, cuja água ficava gelada no inverno. Claro que pretendo voltar um dia à terra do meu pai, pois tenho parentes e amigos queridos no lugar, além de desejar saber como tudo ficou depois que a "modernidade" apareceu por lá

Mesmo não sabendo como atualmente está a vida na região, creio que a chegada da energia elétrica tenha influenciado de alguma maneira os hábitos locais. Provavelmente as pessoas não mais se reúnem na sala, iluminada pela luz vacilante de lamparina, com o fundo musical do rádio a pilha na mesa do canto, todos sentados nos seus tamboretes, para contar e ouvir "causos" (muitos verídicos, outros com a verdade aumentada, e até algumas mentirinhas) para o riso e reflexão dos presentes. Talvez hoje a televisão tenha tomado o lugar da lamparina, do rádio, dos contadores de "causo". Se ficou melhor ou pior, não sei; teria que conferir pessoalmente. De qualquer maneira, deixemos essa discussão para depois, porque esse não é o propósito da postagem.

Quero, com essa divagação, falar sobre o gênero musical típico do interior do centro-sul do Brasil, principalmente dos Estados de Goiás, Minas Gerais, São Paulo e região sul da Bahia: o denominado Sertanejo ou Caipira (termo que muitos gostam de usar para distingui-lo do sertanejo moderno). Mais do que isso, quero compartilhar a reflexão suscitada por André Barcinski, um crítico da Folha de São Paulo, sobre a diferença da música sertaneja antiga e atual. O artigo desse crítico surgiu  a partir da entrevista que ele participou com o grande músico sertanejo Renato Teixeira (quem desejar ler o artigo completo segue o link: http://andrebarcinski.blogfolha.uol.com.br/2012/06/04/mudou-a-musica-caipira-ou-mudaram-os-caipiras/).

Segundo Barcinski, Teixeira respondeu, quando lhe pediram para listar a diferença do sertanejo antigo e o atual, o seguinte: “A música caipira sempre foi a mesma. É uma música que espelha a vida do homem no campo, e a música não mente. O que mudou não foi a música, mas a vida no campo.” Refleti sobre a teoria do Renato Teixeira, bem como sobre o comentário e as indagações de Barcinski. E sabe...! O músico pode ter razão! Claro que não dá para discutir profundamente esse tema numa simples postagem de blog, nem a intenção aqui é essa, porém é uma análise que merece destaque.

De fato as letras das músicas sertanejas de hoje, com raras exceções, como Deus e eu no Sertão de Vitor e Léo, não falam mais do amor inocente (muito pelo contrário), da saudade da terra, das belezas do campo, das vida simples na roça, como falavam as canções de antigamente. De alguns anos para cá, com o exôdo rural (nos últimos anos caiu, eu sei) e a tecnologia chegando ao interior, o distanciamento entre o campo e a cidade diminuiu. Não existe mais aquele isolamento e aquela solidão (termo que Barcinski usou) que tanto inspiravam os compositores antigos.  Para saber se essa aproximação foi a principal responsável por essa mudança, é necessária uma investigação mais cuidadosa. Renato Teixeira indicou um caminho.

Apesar desse novo cenário ou exatamente por isso, ainda há espaço para resgatarmos as belíssimas canções caipiras antigas e lembrarmos os seus grandes representantes como: Renato Teixeira, Pena Branca e Xavantinho, Sérgio Reis, Tião Carreiro e Pardinho, Tonico e Tinoco, Almir Sater, Chitãozinho e Xororó (no começo da carreira), além de outros. Afinal, a beleza da poesia, das melodias, dos arranjos, resiste ao tempo. Sem falar que o belo som da viola e da harmonia típica dos duetos ainda dão sossego aos ouvidos e à alma, independentemente de se conhecer ou não a realidade da vida no campo.

Escolhi duas músicas para postar aqui: Poeira, interpretada por Sérgio Reis, e Cuitelinho, na voz de Pena Branca e Xavantinho. Recomendo ainda as seguintes canções: Tristeza do Jeca, Vide, vida marvada, Inhambu-xintã e o Xororó, Luar do Sertão, Eu, a viola e Deus,  Chalana, Disparada, Fogão de lenha, Saudade da minha terra.

Poeira - Sérgio Reis

Cuitelinho - Pena Branca e Xavantinho

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

COMO PASSAR EM CONCURSO PÚBLICO


Amanhã, a Companhia de comédia G7 volta com a peça Como Passar em Concurso Público. Assisti a esse espetáculo alguns anos atrás e gostei bastante, talvez porque tenha me identificado com a situação; aliás dificilmente existe alguém em Brasília que não se identifique com a situação. Aqui vale aquela máxima: se você não é concurseiro, já foi ou ainda será.

A peça conta a saga de um concurseiro para passar no "tão sonhado cargo de técnico do judiciário" (coloquei entre aspas porque a frase é do grupo de teatro e não minha). Não me lembro de muitos detalhes, só o suficiente para dizer que achei muitos trechos bem engraçados. Existe uma ou outra passagem sem graça, mas nada que comprometa. Enfim, o saldo geral foi bem positivo.

Apesar de já fazer um bom tempo que eu vi esse espetáculo, parece que não há muitas mudanças. Tomei o cuidado de consultar o site da companhia, e a história é a mesma; talvez eles atualizem algumas piadas, tirem um personagem aqui e coloquem outro ali, porém a essência da peça parece permanecer. Os atores, pelo menos, não mudaram; o que é positivo, porque os caras são bons. Dos grupos de comédia de Brasília que eu conheço, eles só perdem para Os Melhores do Mundo.

É um bom programa para o final de semana, não importa se você é concursado, concurseiro, concursando ou nenhuma das alternativas anteriores.

Até a próxima!

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

NOIR DESIR


Para não dizerem que só coloco cantores franceses antigos, hoje vou postar um contemporâneo, no estilo rock. Tratar-se de Noir Désir, banda francesa de rock que mais fez sucesso na França e considerada, por muitos da crítica, a melhor que já apareceu no país nesse gênero musical. Uso os verbos no passado porque o grupo já não existe mais. Entrarei em detalhes sobre o seu fim mais adiante. Vou antes trazer um resumo da sua história.

Noir Desir foi formado no início da década de 80 pelos músicos: Bertrand Cantat (voz e guitarra), Denis Barthe (bateria), Serge Teyssot-Gay (guitarra) e Frédéric Vidalenc (baixo), esse último substituído por Jean-Paul Roy depois de 1996. Eles conheceram o sucesso com o seu segundo disco, Veullez rendre l'âme (à qui elle appartient), lançado em 1989, graças à canção Aux sombres héros de l'amer, que foi muito tocada nas rádios francesas, projetando a banda no cenário musical do país. Os dois álbuns seguintes (Du Ciment sou les Plaines e Tostaky) não tiveram a mesma repercursão midiática, mas o grupo continuou a fazer sucesso nos shows.

Em 1997, Noir Desir volta com força às rádios com as canções Un jour en france e L'Homme pressé, presentes no quinto álbum (666.667 Club), e com Le vent nous portera, do seu último álbum de estúdio, (Des visages des figures). Essa última música ficou, durante muito tempo, entre as mais tocadas na França.

No campo político, Noir Desir caracterizou-se por ser um grupo militante e engajado. Nas suas letras, protestava contra o capitalismo selvagem e contra o xenofobismo. Nesse último aspecto, aproveitava suas aparições públicas para deixar claro quais eram suas opiniões, criticando a postura dos políticos franceses de extrema-direita.

Chegamos, então, à parte que trata do início do fim do grupo, marcado por um fato trágico e lamentável, envolvendo o vocalista Bertrand Cantat. Em 2003, num episódio ainda não muito bem esclarecido, Cantat, durante uma forte discussão com a namorada, agride-a severamente . Alguns dias depois, ela morre em decorrência das agressões. Cantat foi preso e, em 2004, condenado. Mesmo com o seu vocalista encarcerado, Noir Desir ainda produziu algumas compilações e discos ao vivo, além de fazer alguns shows. Após a liberdade condicional de Cantat, em 2010, a banda criou pouco, e a produção de maior detaque foi a participação no álbum do cantor e compositor francês, Alain Bashung. No final desse mesmo ano, os integrantes anunciaram o fim do grupo.

Fui apresentado ao Noir Desir por meu irmão, que morou um ano na França e gostava das músicas dessa banda. A primeira canção que ele me mostrou foi Le vent nous portera (vídeo abaixo), da qual gostei logo de cara. Não entendi uma palavra da letra, mas a melodia e o arranjo eram muito bons. Ouvi as outras do mesmo álbum e também gostei. Virei, então, fã do grupo e fui atrás de outros discos. Hoje entendo um pouquinho mais de Francês e posso dizer que as letras também são muito boas.

Dos discos de estúdio, tenho quatro (Veuillez rendre l'âme, Tostaky, 666.667 Club e Des visages des figures), todos muito bons. Os três primeiros são de heavy metal, têm um som mais pesado, com muitas distorções de guitarra, tom mais agudo, além de vocais altos no volume e, às vezes, até gritados e raivosos, próprios desse estilo. No último, o som é mais leve, doce e melódico, em que eles fazem experimentações nos arranjos com a introdução de instrumentos pouco comuns ao rock; e o resultado é excelente.

O melhor disco, na minha opinião, é justamente o Des visages des figures, o primeiro que conheci, assim como a minha música preferida foi a primeira que ouvi: Le vent nous portera. Outras de que gosto: Aux sombres héros de l'amer, Oublié, Un jour en France, A ton étoile, Des visages des figures.


Vídeo de Le vent nous portera. Logo após, letra e tradução (com a devida licença poética). Gosto de prestar atenção ao arranjo do baixo elétrico. Muito bom!




Le vent nous portera

Je n'ai pas peur de la route
Faudrait voir, faut qu'on y goûte
Des méandres au creux des reins
Et tout ira bien (là)
Le vent nous portera

Ton message à la Grande Ourse
Et la trajectoire de la course
Un instantané de velours
Même s'il ne sert à rien (va)
Le vent l'emportera
Tout disparaîtra mais
Le vent nous portera

La caresse et la mitraille
Et cette plaie qui nous tiraille
Le palais des autres jours
D'hier et demain
Le vent les portera

Génetique en bandouillère
Des chromosomes dans l'atmosphère
Des taxis pour les galaxies
Et mon tapis volant lui
Le vent l'emportera
Tout disparaîtra mais
Le vent nous portera

Ce parfum de nos années mortes
Ce qui peut frapper à ta porte
Infinité de destins
On en pose un et qu'est-ce qu'on en retient?
Le vent l'emportera

Pendant que la marée monte
Et que chacun refait ses comptes
J'emmène au creux de mon ombre
Des poussières de toi
Le vent les portera
Tout disparaîtra mais
Le vent nous portera


O vento nos levará

Não tenho medo do caminho
Precisaria ver, é preciso prová-lo
Os meandros do corpo* 
E tudo ficará bem
O vento nos levará

Sua mensagem para a Ursa Maior
E a trajetória da corrida
Uma fotografia doce
Mesmo que isso não sirva para nada
O vento o carregará
Tudo desaparecerá mas
O vento nos levará

O carinho e a saraivada de balas
E essa ferida que nos divide
O palácio de outros dias
De hoje e de amanhã
O vento os levará

A genética carregada nos ombros**
Cromossomos na atmosfera
Táxis pelas galáxias
E meu tapete voador
O vento o carregará
Tudo desaparecerá mas
O vento nos levará

O perfume dos nossos anos mortos
Esses que podem bater em sua porta
Infinidade de destinos
Nós escolhemos um, mas o que retemos dele?
O vento o carregará

Enquanto a maré sobe
E cada um refazendo suas contas
Eu levo no vazio da minha sombra
Poeiras de você
O vento as carregará
Tudo desaparecerá mas
O vento nos levará

* Tradução muito difícil, dado o sentido figurado da expressão. Literalmente significa "meandros no oco dos rins", mas não faz sentido. Pesquisei, e a interpretação mais  frequente e que melhor se aplica ao contexto é essa, pois a música fala da relação de um casal: seu início, meio e fim. Creux de reins refere-se à região da genitália feminina.

** En bandouillère: refere-se à forma de carregar algo com um tipo de alça que vai do ombro até o quadril no lado oposto.