quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A PELE QUE HABITO


Lá vou eu de novo me sujeitar a novas garrafadas por falar mal de um filme premiado e elogiado pela crítica especializada e que tem na direção um nome de peso. Trata-se de A pele que habito, dirigido por Pedro Almodóvar, com roteiro assinado por ele e Augustín Almodóvar. Esse suspense espanhol traz no seu elenco: Antônio Bandeiras, Elena Anaya, Marisa Paredes, Jan Cornet, Roberto Álamo.  Ele conta a história de um médico que mantém uma bela jovem em cativeiro para que possa desenvolver experiências com um novo tipo de pele, bem mais resistente que a natural.

Quero ressaltar que não tenho nenhuma implicância com o Almodóvar, pelo contrário, admiro o trabalho dele. Carne trêmula e Fale com ela são ótimos, e Tudo sobre minha mãe considero um dos melhores filmes a que já assisti na vida. Então, meus comentários negativos não estão contaminados por qualquer possível resitência ao diretor.

Pois bem...Ao contrário de A viagem do balão vermelho, captei as discussões que o filme propõe, pelo menos as mais evidentes, e achei interessantes e profundas. Então, o que não me agradou... Primeiramente o filme não me surpreendeu; suscitou poucas indagações originais. Disse poucas, mas, na verdade, só enxerguei uma, sobre a qual discorrei mais a frente. Depois, a forma como a trama foi executada também não me convenceu, tampouco me envolveu ou perturbou.

A pele que habito traz as marcas bem características de Almodóvar. Quando batemos o olho na obra, já reconhecemos de pronto suas digitais. Talvez, por isso, o filme não tenha funcionado para mim. A meu ver o gênero, suspense, nesse caso, precisava de uma abordagem e ritmos diferentes do que ele costumeiramente faz. Talvez se o diretor tivesse se reinventado para esse filme, como fazem constantemente Woody Allen e Stanley Kubrick, a história teria prendido mais a minha atenção.

Isto posto, passarei, então, aos exemplos do que eu quero dizer com poucas indagações originais. Primeiro, o constante conflito entre ciência, de um lado, e ética/moral, do outro, já foi abordado em diversas outras obras, só para ficar nos filmes: Laranja Mecânica e Frankenstein de Mary Shelley. Nesse último citado também encontra-se a discussão sobre as consequências trágicas dos atos motivados por um amor louco e a vontade do homem virar Deus, temas presentes nessa película do Almodóvar. A pele que habito sugere ainda outra reflexão já vista em outros filmes, que consiste na relutância do indivíduo em aceitar a perda de um ente querido, que, em razão disso, passa a projetar o seu amor em outra pessoa que tem semelhança física, natural ou forjada, com objeto amado. Essa reflexão, por sinal, já encontrei até mesmo num episódio do desenho animado da década de 80, O Pequeno Príncipe, que vi recentemente com meu filho (por favor, não entendam isso como ironia ou provocação).  

Entretanto, não foram só assuntos repisados que apareceram na A pele que habito. Uma discussão inédita no cinema, pelo menos para mim, pode ser observada nessa produção. Trata-se do paralelo sugerido pelo filme entre a prisão entre quatro paredes e a prisão no interior de outra pele. Qual seria o recinto que mais aprisiona: um quarto trancado ou um corpo estranho? Muito profunda e instigante. Mas foi só.

De fato, não só de conteúdo, inédito ou batido, vive uma obra. A forma como a  ideia, ainda que habitual, é conduzida também pesa muito na sua composição e pode torná-la interessante, até espetacular. Porém, tampouco, nesse sentido, o filme me agradou totalmente. Para um suspense, achei que a voltagem da tensão foi baixa. Existe alguma sim, mas dura até o grande enigma, que em certo momento ficou previsível, ser revelado. Depois desse instante,  a temperatura emocional do filme caiu um pouco. Nem mesmo a condução do tema novo a que me referi no parágrafo anterior me entusiasmou. O filme não conseguir me transmitir a possível aflição que a personagem deveria sentir por estar enclausurada numa pele estranha ou quarto trancado.

Também achei que A pele que habito deixou algumas lacunas que dificultaram o meu envolvimento com a trama. Não que tudo deveria ser bem explicadinho, nos seus mínimos detalhes; sei que não é característica do Almodóvar, pois ele prefere sugerir, e isso não me incomoda. Mas uma narração, monólogo ou diálogo  poderia esclarecer melhor algumas passagens, reações ou decisões tomadas pelos personagens, sem entregar demais.

Quanto às atuações, achei a do Antonio Bandeiras bem morna e burocrática. Por ser um personagem forte, entendo que ele deveria ter tido uma interpretação mais contundente e incisiva;  a exemplo da executada por Marisa Paredes, que, apesar da participação menor, conseguiu me transmitir toda a sua angústia com a situação. A personagem dessa atriz me marcou bem mais que a do Bandeiras, que não conseguiu me envolver ou provocar em mim qualquer sentimento, que seja de amor, ódio ou compaixão. Elena Ayala interpretou bem, principalmente no final, com uma participação bem marcante, mas, em alguns momentos, também faltou contundência.

Por falar em final, foi a melhor parte do filme (não, não é aquela óbvia piada: "ah, porque o filme acabou!" Gostei dessa parte realmente). Achei-o suave na execução, mas forte e comovente na mensagem. Também cabe ressaltar como aspecto positivo, a capacidade de Almodóvar de transitar entre o trágico e o cômico, sem perder a elegância; marca registrada do seu trabalho.

Enfim, considero o filme bom, mas esperava mais, justamente por ser do Almodóvar. Somado a isso, havia a expectativa de ver um filme de suspense dirigido por esse brilhante diretor, algo novo para mim. Esperava um filme inovador, eletrizante, envolvente, e não foi o que eu vi. Talvez o excesso de expectativa tenha prejudicado a minha forma de apreciá-lo.

Trailer




2 comentários:

  1. gostei, mas também esperava mais...acho que também fui com "muita sede ao pote" rsrsr

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  2. Eu também gostei, mas a parte técnica e a parte estrutural do filme deixou a desejar.
    Leandro

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