sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O SEGREDO DOS SEUS OLHOS


Vou me ocupar hoje de mais um bom filme argentino: O Segredo dos Seus Olhos. Hoje não vou oferecer nenhum prêmio, mas quem se arrisca a dizer o nome do ator que protagonizou, mais uma vez de forma brilhante, esse filme? Sim, ele mesmo: Ricardo Darín. É, realmente ele está em todas na Argentina, mas não é à toa, o cara é espetacular. Já vi cinco filmes em que ele atua (sendo esse o terceiro que comento aqui), e em todos ele dá show de atuação. Ele dá vida própria para cada personagem; os personagens não se confundem. É impressionante!

Nesse drama policial, Roberto Darín é Benjamin, investigador aposentado que resolveu escrever um livro sobre a investigação do estupro seguido de morte que marcou sua carreira. No passado, para esclarecer esse crime, Benjamin contou com a ajuda de Irene ( Soledad Vilamil), sua chefe imediata, por quem se apaixonou, e de Pablo Sandoval ( Guillermo Francella), seu parceiro e amigo. Mas a dedicação da equipe a esse caso cobrou um alto preço, trazendo grave consequências para a vida dos envolvidos.

Cabe adiantar que, apesar de ser figurar no gênero policial, O Segredo dos Seus Olhos não apresenta cenas de ação eletrizantes, tais como troca de tiros, carros em perseguição, brigas; ou seja, você não verá nada do que costumamos encontrar nos filmes hollywoodianos desse gênero. Para não dizer que não há nada nesse sentido, até temos uma cena de perseguição, mas a pé mesmo, e outras duas de assassinato, mas são rápidas e pouco explícitas. Entretanto isso não quer dizer que esse filme seja morno, sem graça; pelo contrário, é dinâmico e envolvente.

Isso porque foi muito bem conduzido pelo diretor Juan José Campanella, que abordou com muita sensibilidade e delicadeza um caso tão forte. Mesmo a mistura de cenas do presente e do passado (condenada por muitos especialistas) achei que funcionaram bem no filme. Além desse ponto positivo, o diretor executou de forma competente o jogo de esconde e revela, que segura nossa atenção e cria bastante expectativa para as próximas cenas. E o final foi diferente, surpreendente e impactante.

Apesar de muito bom, O Segredo dos Seus Olhos apresenta alguns defeitos, principalmente no roteiro, escrito pelo próprio diretor. A história de amor entre Benjamin e Irene é injustificadamente enrolada, e o desfecho dado para essa relação ficou meio piegas. Outro problema de roteiro aconteceu no final. Achei que nesse parte do filme Benjamin entendeu a situação rápido demais, a despeito de toda a sagacidade que ele demonstra no decorrer da trama. Prefiro não entrar em detalhes para não revelar aspectos que possam entregar a surpresa.  Por fim, o diretor falha ao colocar muito peso em acontecimentos banais e se valer de clichês num momento importante do filme: a sequência de cenas que vai da espera até a realização do crucial interrogatório de um suspeito. Ele poderia ter dado solução mais criativa e menos preguiçosa para essa sequência (serei vago mais uma vez para não antecipar nenhuma emoção).

Mesmo com essas falhas, o balanço final teve saldo bem positivo; de maneira que vale a pena ver o filme. Seu Oscar de melhor filme estrangeiro de 2010 não foi por acaso.


Trailler


terça-feira, 25 de setembro de 2012

MEU IRMÃO É FILHO ÚNICO



Por conta da contradição existente no título da postagem, se eu adiantar que se refere a um filme, pode parecer uma daquelas piadas juvenis infames para fazer graça com nomes de filme, no mesmo estilo de A volta dos que não foram, Tranças de um careca. Ou pode parecer ainda o nome de alguma comédia pastelão, digna de constar na programação de domingo à tarde da globo. Entretanto, Meu Irmão é Filho Único está muito longe dessas situações descritas. Essa produção franco-italiana, apesar de ser classificada como comédia (para mim, a melhor classificação seria comédia dramática), não passa nem perto de ser pastelão e dificilmente será exibida na Globo ou qualquer emissora aberta, porque não parece ser o tipo de filme que atrai o grande público; o que é uma pena. 

O enredo gira em torno, principalmente, da relação entre dois irmãos, nas suas diferenças e nas suas semelhanças, mais nas primeiras do que nas segundas. Manrico, o mais velho, é bonito, sedutor e carismático; já não se pode dizer o mesmo de Accio, apesar de ele não ser propriamente feio. E as diferenças não param por aí, elas também têm lugar no plano político-ideológico. Por essas informações, não é difícil deduzir que esses dois vivem em conflito. E as semelhanças? É melhor você assistir para descobrir. 

Classifico esse filme como comédia dramática, porque essas duas facetas estão bem presentes na trama, quase na mesma intensidade. A parte cômica proporciona boas risadas, principalmente com as situações vividas pelo protagonista no seio de sua família. A parte dramática igualmente tem muita força, por conta da relação tão distante e tão próxima entre os irmãos, inserida no conturbado ambiente político na Itália nas décadas de 60 e 70, época em que a história se passa. 

As virtudes desse filme são muitas. O ritmo é muito bom, no tom certo para o cada momento. O começo é bem acelerado, depois o filme fica um pouco mais cadenciado; no entanto não perde o dinamismo. O diretor é muito competente, foge das soluções previsíveis e consegue nos surpreender positivamente, sem perfumaria ou pirotecnia. Ele também é habilidoso em nos manter presos à trama, deixando dúvidas que despertam a nossa curiosidade para como será a sequência dos acontecimentos. E a atuação de Accio (Elio Germano) está muito boa. Os demais protagonistas não se destacam tanto, em termos de interpretação, mas também não comprometem.

É um filme engraçado, vivo, bonito, tocante. Indico!!

Trailer e ficha técnica logo abaixo.



Diretor: Daniele Luchetti
Elenco: Elio Germano, Riccardo Scamarcio, Angela Finocchiaro, Massimo Popolizio, Alba Rohrwacher, Luca Zingaretti.
Produção: Marco Chimenz, Giovanni Stabilini, Riccardo Tozzi
Roteiro: Daniele Luchetti, Sandro Petraglia, Stefano Rulli
Ano: 2007
País: Itália/ França
Gênero: Comédia

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

CABE NA MALA


Já que sexta-feira pede postagens leves, o blog está numa semana literária e postei sobre um site voltado à leitura infantil ontem, vamos aproveitar o clima e privilegiar os pequenos hoje de novo. Para isso, resolvi comentar um livro infantil, livro mesmo, físico, de papel (para não dizerem que não valorizo o tradicional). A minha indicação é a obra: Cabe na Mala, de Ana Maria Machado, da coleção Mico Maneco.

Escolhi esse livro não só porque rapidamente se tornou um dos preferidos do meu filho, mas por ser realmente muito bom; ele se destaca, em termos de qualidade, entre os demais que o meu filho tem. E qual é o seu diferencial? Ele consegue unir o jogo de sílabas e letras de mesmo fonema com uma história divertida e coerente. Esse jogo conferiu uma sonoridade bem agradável às frases, sem torná-las repetitivas ou enfadonhas. A trama é simples, fácil de acompanhar, porém, dentro dos padrões infantis, está longe de ser "bobinha."  O único ponto negativo que encontrei, nem assim tão grave, refere-se às ilustrações; elas poderiam reproduzir melhor o texto em alguns momentos.

Vale lembrar que a coleção Mico Maneco é voltada para crianças na fase de alfabetização, e Cabe na Mala encontra-se no nível um dessa coleção, sendo indicado, segundo a editora, para as crianças acima de cinco anos. Sabendo ler ou não (o meu não sabe), acredito que seu filho irá gostar desse livro. O meu gostou muito.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O PEQUENO LEITOR


Como nas duas últimas postagens comentei sobre livros, gostaria de usar o espaço de hoje para divulgar um site destinado não só a estimular nos pequenos o hábito da leitura como também a provocar neles o desejo de criar suas próprias histórias.

Não quero aqui entrar no debate se é recomendável ou não a crianças usar aparelhos eletrônicos como computador, tablet, celular e afins. Não tenho conhecimento para tanto, nem é essa a intenção do blog ou dessa postagem. Só vim divulgar essa ferramenta para aqueles pais que, assim como eu, não veem problemas em seus filhos usarem esses dispositivos; desde que o uso seja feito com moderação, controle, segurança e supervisão de um adulto. Entendo que, se usados corretamente, para o propósito correto, esses máquinas podem ajudar a divertir e educar nossos filhos. Na minha avaliação, esse site cumpre essa tarefa.

Também não estou defendendo a substituição do livro físico pelo digital, acho que os dois podem coexistir tranquilamente. Cada um tem seu espaço.  Meu filho mesmo não perdeu o interesse pelo livro impresso, mesmo acessando o digital; inclusive ele pede mais para ver o primeiro do que o segundo. E uma vez que nossos filhos convivem diariamente com eletrônicos e não controlam a curiosidade de saber o que vai nesses aparelhos, por que não lhes apresentar uma opção gratuita, de fácil acesso, divertida e instrutiva? Nesse assunto, sou da política de permitir com critérios, em vez de proibir totalmente. Mas respeito quem pensa de forma diferente.

Bem, depois dessas considerações, vamos falar do site. O Pequeno Leitor está dividido em várias seções, as principais são: Histórias, Sua Coleção, Crie Sua História e Piadinhas. As que merecem destaque são Histórias e Crie Sua História.

Na primeira seção destacada no parágrafo anterior, o site apresenta vários tipos de histórias, desde aquelas mais curtas e simples até as mais longas e elaboradas; algumas contam com quadrinhos animados, com ou sem narração; outras trazem apenas os quadrinhos e o texto, sem movimentos ou narração. Ou seja, existem histórias para todos os gostos e idades. Nessa seção, ainda, encontram-se aquelas criadas pelos próprios pequenos leitores (o processo de criação é feito na seção que descreveremos mais adiante).  Outro ponto positivo é que, no texto de algumas histórias, o site destaca palavras e fornece o seu significado para que a criança enriqueça o seu vocabulário. Para os pequenos que não sabem ler, a presença de um adulto é imprescindível, mesmo nos contos narrados.

Quanto à segunda seção, Crie Sua História, o site disponibiliza grande variedade de temas que trazem uma sequência de quadrinhos (sem animação) para que a criança, com base nas imagens, crie o texto para sua história.  Entre alguns exemplos de temas, encontram-se: animais, aventura, natal, fantasia e folclore. Vale lembrar que para acessar essa parte, é necessário fazer um cadastro.

Enfim, em um país como o nosso, um tanto indiferente aos encantos proporcionados pela leitura, talvez por falta de estímulo desde os primeiros anos de vida da criança, iniciativas que incentivem os pequenos a descobrirem a magia do mundo das letras são bem-vindas.

Segue o link do site

http://www.opequenoleitor.com.br/

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

BUDAPESTE


Mais uma viagem a trabalho, mais um livro do Chico terminado: Budapeste. Quando li Leite Derramado não tinha entendido a razão de algumas análises negativas a esse livro por uma parte do público e por uma parte da crítica especializada. Como tinha lido essa obra sem muitas expectativas, considerei-a muito boa. Pensei que encontraria um livro apenas mediado, já que não esperava que o Chico, excelente compositor, pudesse se destacar também na literatura. No final, me surpreendi, achei o Leite Derrado acima da média, e não vi tantas falhas como falaram.

Agora que terminei a leitura de Budapeste, entendi parte da decepção em relação ao Leite Derramado. Ainda não li os três primeiros livros desse autor (Fazenda Modelo, Estorvo e Benjamim)  mas, segundo os especialistas, Chico vinha numa linha ascendente em termos de qualidade literária e caiu um pouco com esse último lançamento. Ainda segundo a crítica, depois de lançar livros inexpressivos, ele publicou Budapeste, obra surpreendente, inventiva, inteligente; porém, apesar do ótimo texto, voltou a derrapar com o Leite Derramado, que não apresentou novidades importantes.

Com a leitura de Budapeste, minha avaliação passou a ser semelhante a essa. Essa obra é bem superior à última do Chico. Além do excelente texto, a história é mais envolvente, instigante e inovadora, e permanece por mais tempo na nossa cabeça. Perto de Budapeste, Leite Derramado fica pálido e se destaca mais pelo bom texto do que pelos personagens e pela trama. Não que esse último tenha se tornado ruim ao meus olhos, continuo achando-o bom, mas perdeu um pouco do brilho.

A meu ver, a única evolução que percebi no Leite Derramado em relação a Budapeste, foi a presença mais apropriada, em termo de quantidade, de analogias e metáforas. No segundo livro citado, Chico lança mão em excesso desses recursos, o que trava e cansa um pouco a leitura. Alguns trechos ficaram assim: cansativos. Como o autor é muito bom em analogias - nota-se pelas suas músicas -,  parece que as expressões desse tipo começaram a surgir aos montes no processo criativo, e ele se esqueceu de cortá-las na revisão. Ou eram tão boas, como realmente são, que ele ficou com pena de tirá-las, já que passou a amá-las como a um filho, que, por mais que se tenha, não se consegue abandonar nenhum (uma analogia pobre que me surgiu agora). Só pode ser isso! Porque não é possível que ele não tenha percebido que apareciam de forma exagerada, quase tudo tinha que ser explicado ou enfatizado com alguma analogia! Mas esse é um problema muito pequeno se considerarmos a qualidade da obra.

Já ia me esquecendo de colocar o resumo da história. José Costa é um escritor-fantasma, residente no Rio de Janeiro, que, por obra do acaso, passa algumas horas em Budapeste, mas não tem tempo de andar na cidade, só a vê por cima, mas no hotel conhece o idioma húngaro e se interessa muito por ele. Assim que tem a chance, volta à capital da Hungria para explorar a cidade e a língua. Uma vez em Budapeste, conhece Kriska, uma húngara que vai lhe ensinar os segredos desse idioma.

Leia. Se puder compre, pois é o tipo de livro que merece e deve ser lido mais de uma vez.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

INDIGNAÇÃO


Tomei conhecimento do Indignação, livro de autoria do premiado escritor norte-americano Philip Roth, ao ler críticas sobre o Leite Derramado de Chico Buarque. Nos artigos, os críticos falavam da semelhança entre as duas obras na sua ideia de colocar a voz narrativa num personagem à beira da morte, abordando também o contexto histórico de um país. Acrescentavam os críticos que Indignação era bem superior ao Leite Derramado.

Como tinha gostado do livro do Chico, resolvi conferir o do Philip Roth. E realmente concordo com os críticos, Indignação é superior ao Leite Derramado. O personagem principal é mais complexo, a narrativa mais bem articulada e as reflexões mais profundas. Sem contar que Indignação encarou o desafio de andar no terreno perigoso da adolescência (ou quase no fim dela, 18 e 19 anos), em plena vida universitária, com todos os seus conflitos e incoerências; fase em que momentos de maturidade e imaturidade alternam-se com frequência. Pois, o autor percorre esse terreno escorregadio com desenvoltura, sem deslizar para clichês, lugares-comuns ou pieguice.

 Em relação ao texto, é difícil tecer comentário porque o de Philip Roth trata-se de uma tradução do inglês, e qualquer comparação pode gerar injustiças. Se foi obra da tradução ou não, posso dizer que o texto de Roth é mais enxuto, direto, ágil; o do Chico, por sua vez, é mais adornado, oblíquo, cadenciado. Os dois são muito bons, não dá para apontar o melhor, mas se me pedirem para escolher um, prefiro o Chico, simplesmente porque me  identifico mais com o estilo do brasileiro. Questão de afinidade.

Falando do livro em si, Indignação relata a história de Marcus Messner, um adolescente de 19 anos que, para evitar conflitos com o pai cada vez mais controlador, resolve tentar a vida em outra universidade, situada em outra cidade, bem distante de sua casa. Nesse novo lugar, Marcus enfrenta os desafios que o novo ambiente e as novas companhias lhe impõem. A trama é simples, mas muito bem contada; é forte, pulsante, cortante. Recomendo a leitura.




quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O CHEIRO DO RALO


Ainda não tinha colocado postagem sobre um filme brasileiro, vamos para a primeira então. A produção nacional a que assisti esses dias foi o O Cheiro do Ralo. Ficha técnica? Pois bem...

Diretor: Heitor Dhalia
Elenco: Selton Mello, Silvia Lourenço, Flavio Bauraqui, Alice Braga, Leonardo Medeiros, Lourenço Mutarelli, Susana Alves.
Produção: Rodrigo Abreu, Marcelo Araujo, Matias Mariani
Roteiro: Marçal Aquino, Heitor Dhalia
Fotografia: José Roberto Eliezer
Ano: 2006
País: Brasil
Gênero: Comédia
Nesse filme, Selton Mello é Lourenço, dono de uma loja que negocia objetos usados. Lourenço é um sujeito frio, áspero, sarcástico, sincero ao extremo que vive jogando com os seus cliente para tentar levar o máximo de vantagem. No seu escritório, um cheiro terrível vindo do ralo do banheiro (ou dele mesmo) o incomoda muito. Além desse cheiro, a outra coisa que o perturba é uma atendente que trabalha na lanchonete onde ele costuma comer.
O Cheiro do Ralo começa muito bem: bom ritmo, engraçado, narrativa ágil (exceto pela insistência de Lourenço em se referir ao cheiro proveniente do ralo a cada cliente que aparecia, o que acabou ficando cansativo), história diferente. Estava gostando do filme; a trama estava envolvente e a atuação de Selton Mellor, fantástica. Parecia que algo interessante nos seria apresentado. Caminhou bem assim até um pouco mais da metade.
Foi quando tudo desandou (só o Selton Mello continou salvando o filme). O ritmo ficou acelerado demais, com excesso de frases de efeito soltas, de simbolismos, de encenações teatrais, de reações surreais, o que deixou a sensação que o filme fez esforço para ser do tipo "cabeça". Enfim, O filme se perdeu. Foi uma avalanche de informações que o deixou confuso: algumas passagens da história ficaram sem desfecho; outras, sem explicação. No fim, alguns temas, que poderiam ser mais bem explorados, ou foram esquecidos ou apressadamente resolvidos. E o final achei sem graça.
Para esse filme, não existe melhor bordão do que o proferido por Sr. Sandoval Quaresma, na escolinha do professor Raimundo, quando levava uma nota baixa por dar uma resposta estaparfúdia após várias precisas: "....Estava indo tão bem".


Trailer