quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

A QUEDA


Em 30 de setembro de 2000, após um parto difícil em um Hopital de Veneza, que por pouco não acaba na morte do bebê, nasce Tito, o primeiro filho do escritor, jornalista e colunista da Veja, Diogo Mainardi. Alguns meses depois, Mainardi descobre que, em decorrência de erro médico no momento do parto, Tito sofre de paralisia cerebral. Essa condição exige uma série de mudanças na vida do jornalista e de sua família. Essa experiência o levou a escrever A Queda, livro que conta a vida de Tito e a do próprio Mainardi, após a chegada do filho.

Valendo-se de uma estrutura bem diferente, constituída de parágrafos estaques, independentes - inclusive cada parágrafo recebe um número - o jornalista conta, sem linearidade, o que aconteceu no dia do nascimento de Tito e os anos que se seguiram: alegrias, tristezas, dificuldades. Ao lado desse formato criativo, outro recurso que o autor usou para contar a história chama a atenção: a associação que o autor fez entre relatos, fatos, curiosidades - culturais e históricos - com o nascimento e vida do filho.

Certamente resultado de intensa pesquisa,  Mainardi consegue reunir um vasto material, rico e curioso, que torna a leitura bem interessante. Algumas de suas descobertas são realmente surpreendentes dada a coincidência dos fatos com a história de Tito. (Aqui, chamo de coincidência porque o autor quis assim deixar transparecer, mas o leitor pode dar o nome que preferir, de acordo com sua filosofia de vida ou religião).

Sem floreios, sem chororô, sem pieguismo; às vezes até com um humor ácido e com sarcasmo, bem ao seu estilo, Mainardi consegue nos comover e nos envolver em seu drama pessoal. Ainda que não goste do Mainardi como jornalista (eu, particularmente, não gosto e nunca gostei), vale despir-se das concepções construídas a respeito dele e ler o livro.


Bem... Essa é a última postagem do ano. Agradeço a todos que me acompanharam até aqui e desejo a todos ótimo Natal e ótimo começo de novo ano.  Até 2013!!




sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A SEPARAÇÃO


A Separação é um drama iraniano, escrito, dirigido e produzido por Asghar Farhadi, em 2011, e traz em seu elenco os atores... Poxa! Vocês querem mesmo saber quem são os atores iranianos que atuam nesse filme?! O diretor, ainda vai; mas, ator?! Vai servir para quê?! Tá bom! Beleza! Se for para fazer o serviço, faz direito! Ok! Aí vão os nomes (quero ver vocês lembrarem o nome deles depois!): Leila Hatami, Peyman Moadi, Shahab Hosseini, Sareh Bayat, Sarina Farhadi, Babak Karimi, Ali-Asghar Shahbazi, Shirin Yazdanbakhsh, Kimia Hosseini, Merila Zarei, Hayedeh Safiyari. 

E agora o momento preguiça de todas as sextas; eis o resumo da história copiado do site Omelete: "Simin (Leila Hatami) e Nader (Peyman Moadi) estão diante de um juiz para acertar o divórcio; ela quer morar fora do Irã e levar sua filha, enquanto o marido insiste em ficar em Teerã para cuidar de seu pai idoso, que tem Alzheimer. O juiz nega o divórcio, pois não há, no seu entender, um fato suficientemente grave para justificar a separação." Pronto.

Não se assustem porque A Separação não é aquele filme iraniano típico, a que tanto se referem quando, em tom de piada, querem dar exemplo de filmes bem alternativos, cultos, difíceis, inacessíveis. Essa produção não é dessas que a gente, para entender e acompanhar a trama, tem que conhecer os costumes e as peculiaridades culturais, regionais,  sociais, do país. Não! Embora contenha um pouco dessas peculiaridades que citamos, conseguimos acompanhá-lo sem problemas, pois a temática de A Separação é bem universal.

Devido ao bom roteiro, ao bom ritmo, às excelentes atuações e ao estilo de filmagem meio "câmera na mão," que mostram as cenas de forma bem crua, nós somos imersos na história e nos dramas que vivem os personagens. E o que contribui ainda para tonar o filme envolvente foi a competência do diretor ao explorar a sequência de idas e vindas, embaralhamento e reviravoltas dos conflitos, mostrando as virtudes e defeitos de cada personagem. Afinal são todos humanos, que erram e acertam.

Se existe algum pecado foi a ausência de solução, de resposta, para os conflitos. O final é meio vazio. Quando o filma acaba, a gente se pergunta: sim, e daí?

Essa postagem já está ficando grande demais para uma sexta. Assistas ao filme. Muito bom! Até logo!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

ESSE CARA SOU EU - ROBERTO CARLOS


Nunca gostei de Roberto Carlos, e, se havia alguma chance de gostar dele, ela foi fulminada quando ele gravou uma música para gordinhas e outra para mulher de óculos. Desastre total! (Quero deixar claro que não tenho nada contra o tema, contra as mulheres de óculos ou gordinhas, o problema era a baixa, ou nula, qualidade das músicas mesmo).

Pois bem... De tanto falarem da tal nova música dele (Esse cara sou eu), ver postagem sobre essa canção no facebook, ver referências a ela em sites, superei minha resistência ao cantor e resolvi ouvi-la. Que arrependimento! Agora, aquele refrão chato não para de martelar a minha cabeça (esse cara sou eu...essa cara sou eu...esse cara sou eu).

Que pobreza de letra! Parece que foi feita de improviso. Não sei quem é o compositor, não sei se é o próprio Roberto Carlos, mas, ao prestar atenção à letra, tenho a impressão de que foi feita às pressas. O compositor, com o prazo vencido para entregar a encomenda, sem saber mais o que fazer, travado num bloqueio criativo, correu a uma papelaria perto de sua casa e copiou um monte dessas frases românticas horrorosas, que encontramos naqueles cartões bregas de amor; depois mexeu um pouquinho e... voilà: Esse cara sou eu! Está aí o processo de gestação dessa música! Só pode ser!

Por falar em letra, as rimas são tão fáceis e previsíveis, que, depois de ouvir a primeira estrofe, comecei a fazer um joguinho (serviu-me também para não dormir durante a execução): tentar adivinhar a palavra que rimaria com a última da frase anterior. Não é que eu fui bem! Não que eu seja o cara (esse cara não sou eu) - qualquer um teria o mesmo desempenho -, as rimas é que eram óbvias demais. E, ainda no terreno da letra, temos um momento estranho e cômico. Uma frase, devido à sua ambiguidade,  confunde, no primeiro momento, e dá margem para interpretações engraçadas. Esta é a frase: "Que depois do amor você se deita em seu peito".  Levei um susto! Será que a mulher exagerou na prótese de silicone?! Ou, além de pescoçuda, ela é uma habilidosa e bizarra contorcionista?! Claro que não é nada disso! A mulher deita no peito do tal do cara. Mas que a frase ficou estranha e mal elaborada, isso ficou.

E a melodia? Sem muitas palavras: pobre e chata!

Quer exemplo de um verdadeiro "cara" em uma música? Segue a letra logo abaixo.


O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que me deixa maluca, quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz

Outro exemplo? O terceiro cara nessa letra.

O primeiro me chegou
Como quem vem do florista:
Trouxe um bicho de pelúcia,
Trouxe um broche de ametista.
Me contou suas viagens
E as vantagens que ele tinha.
Me mostrou o seu relógio;
Me chamava de rainha.
Me encontrou tão desarmada,
Que tocou meu coração,
Mas não me negava nada
E, assustada, eu disse "não".
O segundo me chegou
Como quem chega do bar:
Trouxe um litro de aguardente
Tão amarga de tragar.
Indagou o meu passado
E cheirou minha comida.
Vasculhou minha gaveta;
Me chamava de perdida.
Me encontrou tão desarmada,
Que arranhou meu coração,
Mas não me entregava nada
E, assustada, eu disse "não".
O terceiro me chegou
Como quem chega do nada:
Ele não me trouxe nada,
Também nada perguntou.
Mal sei como ele se chama,
Mas entendo o que ele quer!
Se deitou na minha cama
E me chama de mulher.
Foi chegando sorrateiro
E antes que eu dissesse não,
Se instalou feito um posseiro
Dentro do meu coração.

Está aí o vídeo da canção do Roberto Carlos




terça-feira, 11 de dezembro de 2012

VANDER LEE


Quem escuta com frequência, ou nem com tanta frequência assim, a Nova Brasil FM deve conhecer o cantor e compositor mineiro, Vander Lee.  Com seis CD's e um DVD lançados, o artista é mais conhecido por compor e interpretar músicas que costumamos chamar de MPB, porém, no último CD, ele faz uma incursão no samba e também experimenta xote, baião e bolero.

Está aí um cara que merecia mais destaque. Não dá para dizer que ele é genial, brilhante, que chegou para abalar, mas o seu trabalho é bom. Não sei por que ele não pega. Não sei se é o seu nome, que, na sonoridade, lembra cantor romântico brega da jovem guarda, e, na grafia, lembra ator chinês de filme de Kung Fu; ou, se é ainda sua voz aguda e meio anasalada - que devo admitir não ser a das mais agradáveis - que o atrapalham; talvez. Entretanto, mesmo com esses probleminhas, acho que ele deveria receber mais atenção. Muitas cantoras da MPB lhe deram a devida atenção e gravaram suas músicas, que talvez sejam mais conhecidas da boca dessas artistas do que da do próprio Vander Lee. Gal Costa, Rita Ribeiro, Leila Pinheiro, Alcione, são algumas das cantoras mais famosas que já gravaram músicas desse compositor.

Merecia, também, receber mais atenção da televisão, do produtores de show; pelo menos, para as bandas de cá (aqui em Brasília, mesmo, só fiquei sabendo, de última hora, de dois shows dele e em teatros pequenos; apresentações às quais, infelizmente, não pude ir). E quanto à tv, nunca o vi apresentar-se em nenhum programa. Pensando bem, na verdade, ele precisa mesmo é receber mais atenção do público, pois o sucesso com público é que abre espaço para uma exposição maior no rádio, tv, e apresentações em shows. O público deveria ouvir mais essas belas canções que ele fez, belas tanto na letra quanto na melodia: Esperando Aviões, Onde Deus Possa me Ouvir, Contra o Tempo (muito conhecida na voz de Rita Ribeiro), Iluminado, Meu Jardim, Pensei que Fosse o Céu. Então, faço um apelo: prestem um pouco mais de atenção a esse cantor.

Alguns vídeos com músicas dele.

Esperando Aviões


Onde Deus Possa me Ouvir

Contra o Tempo






sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

NÃO DURMA DE CONCHINHA


Está em cartaz, em Brasília/DF (como se eu fosse lido em outro estado!), amanhã e depois, a peça Não Durma de Conchinha, da companhia de comédia De 4 é Melhor. Vocês conhecem minha preguiça de toda sexta-feira, né? Ainda mais depois de ler e comentar Kafka...Meu cérebro pediu arrego. Não quero pensar, então vou colar aqui o resumo do que a peça trata (o texto copiei do site da própria companhia): "A peça aborda, de forma descontraída, peculiaridades de todas as fases íntimas de um ciclo de relacionamento. A peça retrata desde a solidão e a busca pela alma gêmea, passando pela rotina de um casal, pelos problemas sexuais, pelo ciúme da relação, até a separação e o começo de um novo ciclo."

A minha opinião sobre o espetáculo vai ser breve. É uma boa peça. A De 4 é Melhor não é a melhor companhia de comédia de Brasília, mas é uma boa companhia; nem esse espetáculo o melhor de humor que já vi, mas é um bom espetáculo. E, nesse caso, os dois juntos garantem algumas boas risadas. Algumas esquetes são bem engraçadas, como o cara que tenta descobrir se o amigo é gay. Não gostei do monólogo logo no começo e no fim da peça: o texto e a interpretação poderiam ter sido melhores. No mais, a atuação dos atores estava boa e as situações divertidas. Vale conferir!

Vídeo promocional do espetáculo



quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

KAFKA - UM ARTISTA DA FOME


Sombrio, denso, triste, perturbador, enigmático, genial. Todos esses adjetivos e outras mais cabem perfeitamente ao grande escritor tcheco Franz Kafka, que viveu entre 1883 e 1924.  Foi a primeira vez que li contos de Kafka, já tinha lido um romance (O Castelo) e uma novela (A Metamorfose), duas excelentes obras por sinal; agora, contos ainda não. Nesse livro, encontramos os contos: Primeira Dor, Uma Pequena Mulher, Um Artista da Fome, Josefine, a Cantora ou O Povo dos Ratos, Um artista da fome; e também a novela Na Colônia Penal.

Nessas obras, Kafka segue a mesma linha de O Castelo e A Metamorfose: dá mais ênfase às reflexões do que propriamente ao enredo. Não é um autor de grandes surpresas, reviravoltas, enigmas em suas tramas. (Só para esclarecer uma possível contradição: quando, lá em cima, eu disse que ele é enigmático, refiro-me aos seus personagens e mensagens). Em Uma Pequena Mulher e Josefine, a Cantora, por exemplo, quase não há história, mas sobram ricas e profundas reflexões.

Não quero dizer com isso que seus enredos seja ruins, primários, fáceis; de jeito nenhum. Ele é muito criativo ao imaginar personagens e fatos, as histórias são envolventes, mas a trama em si não é o que mais chama atenção em seus livros. A sua maior virtude, o seu diferencial, é a descrição das situações, da realidade de seu tempo, dos conflitos e sentimentos do ser humano; e ele o faz de forma dura, fria, pungente.  Em Um Artista da Fome, de tão bem escrito, praticamente sentimos a angústia do personagem. Para mim, esse é o melhor conto do livro.

Destaco também Primeira Dor e Na Colônia Penal. Essa novela até apresenta um pequena reviravolta na trama, contrariando um pouco o que escrevi antes. Não gostei tanto dos outros dois contos: Uma Pequena Mulher e Josefine, a Cantora. O problema não foi a ausência de enredo dessas duas obras. A dificuldade que vi foi sua leitura confusa e difícil de acompanhar; a narrativa não se desenvolve, pois o autor pisa e repisa, destrincha e estica o tema em discussão; eu tinha que voltar a toda hora para não perder o encadeamento das ideias. De qualquer maneira, vale a pena os ler, pois Kafka, numa abordagem diferente e brilhante, coloca em discussão questões interessantes.

Fica a dica! Até mais!