terça-feira, 31 de dezembro de 2013

LISTA PARA 2014

A pedidos, voltei hoje rapidinho só para compartilhar aqui a postagem que coloquei no Facebook ontem. Segue:

Já fiz uma lista de livros e filmes para comentar no blog ano que vem. Quanto aos livros, quero reler alguns clássicos da literatura, ler outros clássicos pela primeira vez e prestigiar ainda algumas obras nacionais contemporâneas que ganharam prêmios em 2013. Quanto aos filmes, quero rever alguns clássicos e ver os que ganharem prêmios em 2014 (Globo de Ouro, Oscar, Gramado, Cannes, Berlim e outros). São doze de cada tipo de arte, o que dá a média de um filme e um livro por mês. Esse é o mínimo. Vamos ver se consigo cumprir a meta. rsrsrs.

Livros:
*Clássicos
- Crime e Castigo (Dostoiésvki) (reler)
- Dom Quixote (Cervantes) (reler)
- Memórias Póstumas de Brás Cubas (Machado) (reler)
- O Castelo (Kafka) (reler)
- Madame Bovary (Flaubert)
- Anna Karenina (Tolstói)
- Ulisses (Joyce)
- Mulheres Apaixonadas (Lawrence)
*Nacionais premiados
- Barba Ensopada de Sangue (Daniel Galera) - Prêmio São Paulo
- O Sonâmbulo Amador (José Luiz Passos) - Prêmio Portugal Telecom
- O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam (Evandro Affonso Ferreira) - Prêmio Jabuti
- Diário da Queda (Michel Laub) - Copa de Literatura

Filmes
- Nós Que Nos Amávamos Tanto (rever)
- Dançando no Escuro (rever)
- A Comilança (rever)
- O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (rever)
- Cidadão Kane (rever)
- Abril Despedaçado (rever)
- E mais seis ganhadores de prêmios importantes em 2014.

E "vamu que vamu!"

Bom início de ano a todos e todas!

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

MESTRES DO RENASCIMENTO





Na postagem de hoje, vou apenas deixar uma dica sobre uma atividade cultural; não vou dar a minha impressão sobre ela, simplesmente porque não a prestigiei e não sei se terei tempo de fazê-lo, pois o evento se encerra daqui a alguns dias, mais precisamente no dia 5 de janeiro. Trata-se da exposição Mestres do Renascimento - Obras-Primas Italianas, que tem lugar no CCBB. Lá podemos ver obras de Michelangelo, Rafael, Leonardo da Vinci, Boticelli, entre outros. E gratuitamente! Estive no local na sexta-feira passada, mas a fila estava bem grande, e, com duas crianças pequenas, ficou inviável esperar. Vamos ver se conseguimos outra data para prestigiar a mostra. Se eu conseguir ver os quadros, volto ao blog para comentar. Pelo que li sobre a exposição, vale muito a pena visitá-la. Então, programa-se. 

Segue o link do site para quem quiser saber mais informações.

http://www.renascimentonoccbb.com.br/

Bem, essa é a última postagem do ano e, caso não veja mostra acima, só voltarei em fevereiro. Desejo a todos e todas um bom início de ano.

Até logo!




sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

INTOCÁVEIS



É sempre bom ter uma boa opção de filme para um fim de semana, ainda mais em época de chuva. Vou indicar um de que gostei bastante: Intocáveis. Essa produção foi um grande sucesso de público no seu país de orgiem, França, e aqui no Brasil também não fez feio, considerando o fato de que não é um filme propriamente comercial, de apelo ao grande público, apesar de não ser uma obra do tipo "cabeça."

Intocáveis é uma comédia que conta a história da relação de amizade improvável entre um senhor tetraplégico milionário, requintado, educado e fino, e um jovem pobre, agressivo, inculto, folgado. Mesmo havendo tantas diferenças entre eles, os dois acabam se dando bem. E como eles se conheceram? Driss, o sujeito pobre e inculto, sem nenhuma aptidão para o cargo de cuidador, responde a uma oportunidade de emprego para cuidar de Phillipe, o tetraplégico milionário. Driss se candidata à vaga só para cumprir formalidade legal e continuar recebendo o auxílio desemprego do governo. O que Driss não imaginava é que justamente sua falta de qualificação seria o fator preponderante para que Phillipe o escolhesse para o cargo.

Então, vocês já podem imaginar de onde vem a maior parte do humor do filme. Sim, justamente das situações cômicas protagonizadas por Driss ao tentar, sem qualquer experiência ou conhecimento técnico, cuidar de um tetraplégico, condição que exige muita atenção e muita perícia da parte de quem cuida. Mas, apesar do humor fácil, direto e escrachado, as situações são inusitadas e muito engraçadas. O humor se aproxima, às vezes, do pastelão, mas é tratado com muito mais classe e naturalidade do que nas produções hollywoodianas do gênero.

Há também muitas situações politicamente incorretas, como a forma com que Driss brinca com a condição física de Phillipe, mas o perdão vem da própria vítima e do tom dado pelo diretor do filme a essas cenas. Desde o começo, vemos dois personagens humanizados, expondo suas virtudes e defeitos, o que nos leva a encarar a tais cenas politicamente incorretas com naturalidade, sem fazer qualquer tipo de julgamento. Entendemos que a relação dos dois se dá nessas bases, e assim os dois se entendem.

Um dos grandes pontos positivos do filme é seu ritmo, que sabe dosar as situações cômicas com algumas mais dramáticas, bem como cenas de ação com os momentos de diálogos, o que segura nossa atenção do começo ao fim da trama. Ponto também para as atuações dos dois protagonistas, que, se não foram brilhantes, cumpriram o seu papel a contento. Driss é um personagem que nos conquista logo nas primeiras cenas, muito por obra da atuação de Omar Sy.

Intocáveis é um filme engraçado, divertido, que nos faz rir, que não quer polemizar, nem discutir problemas, nem passar lição de moral. Somos convidados a acompanhar essa história de amizade e não a refletir sobre ela. E é assim que a obra deve ser encarada.


Ficha Técnica.
Título orginal: Intouchables
França , 2011 - 112 min.
Comédia / Drama
Direção: Olivier Nakache, Eric Toledano
Roteiro: Olivier Nakache, Eric Toledano
Elenco: François Cluzet, Omar Sy, Anne Le Ny, Audrey Fleurot

Trailler


terça-feira, 10 de dezembro de 2013

DEBAIXO DE ALGUM CÉU



Livro bom, para mim, tem que cumprir alguns requisitos. Eis os principais:

a) Boa história: criativa, empolgante, surpreendente, interessante, coerente e verossímil;
b) Personagens inusitadas, complexas e bens construídas;
c) Narrativa fluida, envolvente e bem articulada;
d) Vocabulário rico;
e) Reflexões interessantes, daquelas que te fazem interromper a leitura e levantar a cabeça para pensar no que o autor escreveu;
f) Boas sacadas.

50 Tons de Cinza e O Alquimista (já resenhados aqui no blog), por exemplo, não cumprem nenhum desses requisitos; considero-os, portanto, livros ruins. Por outro lado, Memórias Póstumas de Brás Cubas e Crime e Castigo (ainda não resenhados aqui) atendem a todos esses itens com louvor, o que os torna, na minha opinião, excelentes livros. Para descrever minha impressão sobre Debaixo de Algum Céu, resolvi submetê-lo a esse check list. Essa obra foi aprovada em alguns pontos e reprovada em outros.

Antes de detalhar a avaliação, vou falar um pouco mais sobre o livro em questão. Debaixo de Algum Céu, obra do escritor português Nuno Camarneiro, foi o vencedor do Prêmio Leya de 2012, concurso realizado em Portugal pela editora de mesmo nome, que abre oportunidades para romances escritos em língua portuguesa.  A título de curiosidade, um brasileiro foi o vencedor da primeira edição desse prêmio (2008), trata-se de Murilo Carvalho, com o livro O Rastro do Jaguar.

Debaixo de Algum Céu conta a história dos moradores de um edifício localizado em algum ponto do litoral português. Entre os moradores, temos: um jovem solteiro, especialista em informática, em crise moral por conta do trabalho que está realizando; um padre em conflito espiritual; uma viúva, que perdeu o marido recentemente e conta somente com a companhia de um gato; um casal em crise, com uma filha recém-nascida; uma família comum (pai, mãe, uma adolescente e um menino), com problemas comuns; uma mulher sozinha e angustiada por conta de alguns erros que cometeu; um zelador excêntrico.  Esses são os seus principais personagens. O romance relata o que se passa na vida dessas pessoas do dia de Natal até o primeiro dia de um novo ano.

Apresentado o livro e seu conteúdo, vamos ao resultado da minha avaliação, segundo os critérios elencados acima:

a) Reprovado. A história, ou melhor, as várias histórias do livro são coerentes e verossímeis, mas faltam criatividade e surpresa;  e as tais histórias tampouco nos empolgam. Um padre confrontado com desejos carnais é um tema mais do que batido nas artes. A viúva que ainda cultiva adoração pelo marido morto, uma mulher solitária e problemática, um casal em crise e a família padrão desgastada são histórias mais do que comuns. Nenhuma novidade.

b) Reprovado. Como se pode perceber pelo item anterior, as personagens são bem manjadas; algumas são até bem construídas, mas nenhuma é realmente complexa, nem inusitada. A única diferente é David, que tem a tarefa de criar pessoas virtuais para o mundo virtual gerido pela empresa que o contratou. Ele foge do comum, mas também não se destaca. Todas as personagens desse livro me pareceram bem distantes; não consegui me identificar com nenhuma delas; nenhuma delas me emocionou. Talvez pelo fato de contar várias histórias de várias pessoas distintas, o autor não tenha mergulhado profundamente em nenhuma, o que deixou fria a relação leitor/personagem. Ao final, fica a impressão de que não conhecemos ninguém direito.

c) Passa raspando. A narrativa é bem articulada, mas não é fluida e envolvente. Em vários pontos, achei-a meio amarrada.

d) Aprovado. Vocabulário muito bom.

e) Também foi aprovado. O autor nos oferece boas reflexões. Exemplo: "Oito dias são pouco tempo na vida de uma pessoa, mas nascer é só um dia e morrer também. Há alguns maiores e outros que nada importam, há semanas grandes como anos e horas infinitas, o tempo de uma vida é descontínuo e assimétrico." Outro trecho que nos faz para a leitura, levantar a cabeça e pensar: "Nesta história o tempo é medido em medos, um a cada dia, o tempo certo para que homens tremam e mudem." Há pensamentos muito interessantes, só os achei em número excessivo. Em alguns momentos, eles se preocupa mais em filosofar do que contar a história. Parece que ele tem filosofia para tudo, até para um farol na praia. Poderia ter maneirado a mão nesse sentido.

f) Reprovado. Não vi nada diferente, não vi nenhuma lance genial, inusitado ou marcante. 

Enfim, por tudo o que foi dito, não dá para considerar Debaixo de Algum Céu um excelente livro. Diria que é apenas bom. Não chega a ser perda de tempo lê-lo, mas está longe de ser uma obra marcante; não é daquelas que vai ficar na nossa cabeça por algum tempo. 





terça-feira, 19 de novembro de 2013

CONCERTO COM A ORQUESTRA SINFÔNICA DO TEATRO NACIONAL CLAUDIO SANTORO


Na terça-feira passada, dia 19/11/2013, estive no Teatro Nacional para apreciar o Concerto para Piano e Orquestra em Si bemol Maior, Nº 27 W.A. Mozart, tendo como solista a pianista Lígia Moreno. Fui acompanhado da minha mulher e dos nossos dois filhos pequenos. Sim, levamos os nossos meninos. Confesso que fiquei apreensivo no começo, mas deu tudo certo; eles se comportaram bem. E não poderia ser diferente, pois a apresentação foi fantástica e também os conquistou.

Música clássica não é exclusividade para os músicos, para especialistas ou para eruditos. Música clássica é para qualquer um que tenha sensibilidade. Claro que cada um vai apreciar a música à sua maneira e vai extrair dela elementos diferentes. Os que entendem vão enxergá-la de uma forma, já os leigos, de outra. Porém algo é livre para todos: a emoção. É impossível não se emocionar com a beleza de uma música como a composta por esse grande gênio. 

Eu faço parte das categorias dos leigos. Entendo muito pouco de música, e, se for clássica, então... meu conhecimento é praticamente nulo, mas isso não me impediu de me sentir tocado com a música do Mozart e a performance dos músicos. A Lígia ao piano, então, foi espetacular. Não tenho condições nem me atrevo a fazer qualquer avaliação técnica da performance dela, mas, ao meus olhos de leigo, o que ela fez no instrumento foi espantoso. A velocidade, a precisão, a segurança, na execução de uma obra que me parece bem difícil, e tudo isso sem consultar a partitura, foi de encher os olhos. Impressionante!

Nós reclamamos muito da falta de programas culturais em Brasília; por outro lado, muitas vezes, não os prestigiamos quando eles ocorrem. Eu mesmo tenho prestigiado pouco. No teatro, na última terça, havia ainda muitos lugares vazios. Para uma cidade do tamanho de Brasília, era para estar lotado, com gente sentada nos degraus das escada, ainda mais porque a entrada para o espetáculo era franca. Se você resiste de alguma maneira à música clássica por achá-la que é destinada aos eruditos, supere esse preconceito e compareça a um concerto. É quase certo que você vai se emocionar. A emoção é para todo mundo, até mesmo para crianças bem pequenas.  

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

GRANTA - OS MELHORES JOVENS ESCRITORES BRASILEIROS - 2ª PARTE


Sem mais delongas, vamos para as outras dez obras e seus respectivos autores.

11 - Temporada (Emilio Fraia) - Esse conto foi uma das piores partes do livro. Quando eu terminei foi inevitável perguntar: Hã?! Por que e para que ele escreveu isso?! Texto confuso: muito quebrado, elipses mal feitas; às vezes eu não sabia de que personagem o autor estava falando. A história é mais confusa ainda, não conta nada, não tem nenhum sentido (eu, ao menos, não captei nada, e, como o texto é ruim, não quis ler mais de duas vezes para tentar captar algo). Começa num hotel desativado, em que o dono recebe um desembargador e sua mulher. Daí, vai parar em Londres, no passado, onde o dono do hotel, na juventude, foi passar um tempo para treinar e jogar tênis. O desembargador, o personagem mais interessante e que parecia prometer algo,  simplesmente some da história e não aparece mais. Quanto ao dono do hotel, é um personagem fraco e inexpressivo, com o qual não consegui me identificar. Sem falar do monte de informações que em nada contribuíam para o entendimento da trama. Muito ruim! Não leria um livro dele de jeito nenhum.

12 - F para Welles (Antonio Xerxenesky) - É o trecho de seu próximo romance. Bem interessante. Texto fácil e agradável de ler. A premissa é interessante: uma matadora de aluguel é contratada para dar fim ao famoso cineasta Orson Welles. Resta saber se a proposta tem fôlego para um romance, porque é grande o risco da história se perder ou se tornar maçante. Arriscaria ler esse livro.

13 - A Febre do Rato (Javier Arancibia Contreras) - Bom conto. O cara escreve muito bem: bom vocabulário, prosa solta e dinâmica.  O conto vai muito bem até o finalzinho, quando então caiu no comum; recuperou-se um pouco no desfecho, mas seria mais legal se ele tivesse seguido no rumo que prometia. É a história de um tradutor que, após se recuperar de um grave acidente, vai morar na casa da mãe, que morreu. Enquanto faz suas traduções, ele escuta um barulho e percebe que, ao contrário do que pensava, não está sozinho na casa; um rato lhe faz companhia. A história estava ficando diferente, interessante, curiosa e, de repente... Não vou contar para não tirar a graça. Leria um livro desse escritor.

14 - Faíscas (Carol Bensimon) - Trata-se de um de trecho de novo romance da autora. Não gostei. Ela escreve direitinho, mas o tema é mais do que manjado. Duas amigas jovens saem em viagem, sem planejamento, pelas estradas do Rio Grande do Sul. Putz! Filme repetido e sem graça de Sessão da Tarde. Ela vai ter que se desdobrar muito para apresentar alguma novidade; nas poucas páginas que eu li, não vi nenhuma. Talvez o livro funcione para adolescente não muito exigente. Não é para mim.

15 - Teresa (Cristhiano Aguiar) - Achei bem mais ou menos esse conto. Conta a história da vida de um casal: Teresa e Petrúcio. Entre parágrafos da história principal, a autor insere outros parágrafos da história, lida ou contada por Teresa, do príncipe-profeta Elias, que tem pontos de contato com a história do Elias bíblico. Insere ainda parágrafos de uma catástrofe ocorrida no bairro ondo o casal mora, provavelmente um deslizamento de terra. O que a história do príncipe-profeta Elias tem a ver com o casal não sei ao certo; ao menos, não descobri na leitura única que fiz; talvez seja alguma lição de moral ou reflexão que o autor queira suscitar sobre a vida, as escolhas, as decisões. Preciso ler outra vez com mais atenção para confirmar; talvez um dia faça isso. Já a da catástrofe tem a ver, mas aí vocês terão que descobrir. Não sei se leria um livro desse escritor.

16 - Você tem dado notícias? (Leandro Sarmatz) - Não chega a ser ruim, tampouco é bom. Dá para ler até o final sem se aborrecer muito (me aborreci um pouco com o tom  meio raivoso do narrador). O conto é uma espécie de confissão ou discurso que o pai faz ao filho. O pai fala de sua vida, das razões que o levaram a abandonar a casa. O autor não traz nenhuma novidade, nada interessante. O conto não marca. Também não sei se leria algo mais desse escritor.

17 - Fragmento de um Romance (Carola Saavedra). Terminei de ler esse conto e me perguntei: tá, e daí? O que você quis passar com essa historinha boba? (sem aspas que é para combinar com o irritante recurso de estilo adotado pela autora. Já explico). O conto é bobinho, escrito num tom meio adolescente. Fala de uma jovem que recebe a incumbência da irmã mais velha de ir até a casa dessa última para entregar as chaves para um escritor que vai lá chegar. A irmã mais nova cumpre a tarefa e depois sai com ele para um jantar. E pronto. Não tem mais nada. Vou falar do recurso estilístico da autora então. Ela não identifica os diálogos com aspas ou travessão, nem identifica os pensamentos da narradora com aspas. O resultado é uma confusão danada para separar a fala de um personagem de outro. Não sei qual a razão de fazer isso se só irrita e atrapalha. Não me interessaria um livro dela.

18 - Violeta (Miguel Del Castillo) - Conto bonzinho, só isso. É a história de um rapaz que, nas busca em conhecer a história de sua família, descobre que o primo de seu pai era um perseguido e desaparecido da época da ditadura militar uruguaia. Daí ele conta a vida desse primo em segundo grau e da mãe dele, chamada Violeta. Depois volta para as lembranças de infância do rapaz. Como há muitas idas e vindas e a história de três personagens, o conto pede uma leitura bem atenta para a gente não se perder. Em relação à ditadura uruguaia, o autor só fica na superfície e não conta nada além do que já sabemos. Ler um assunto já muito comentado só é interessante se vermos coisas novas. Aqui isso não ocorre. Talvez lesse algo desse autor.

19 - Natureza-Morta (Vinícius Jatobá) - Nesse conto existem quatro vozes a do narrador que fala sobre a casa, a mãe, o pai e o filho falando basicamente sobre o período em que viveram na casa. A proposta é interessante e funcionou. O autor conseguir dar vozes próprias para cada personagem; foi fácil visualizá-los; sentir o que eles sentiam. Algumas passagens são boas e emocionantes. Defeitos: a história é bem comum, sem novidade. E não gostei do tom poético forçado do narrador ao falar da casa; ficou carregado. Talvez lesse outra coisa desse autor.

20 - O Rio Sua (Tatiana Salem Levy) - Continho fraco e pretensioso. Uma jovem volta a morar no Rio depois de passar sete anos em outro país e começa a falar sobre as coisas de que ela gosta e não gosta na cidade e fala do Rio em si e dos cariocas. Gostei nadinha. O conto foi bem superficial; ficou no lugar-comum: baile funk, samba, praia, pessoas na rua de traje de banho. Tudo o que todo mundo já sabe. A única "grande sacada" dela, para mim, não passa de um tentativa frustrada de parecer erudita e brilhante. Fala que o intenso calor do Rio engoliu o H de humidade, ainda preservado pelos portugueses. Depois faz uma relação forçada e confusa entre humidade, húmus, humor, húmido e úmido. "Humidade nos remete à memória deglutida e transformada. Húmido tem mais história do que úmido, mais vestígios." Isso porque "Húmus, os restos que têm água, deixam o solo molhado, a terra úmida." Quê!? Eu pergunto. Depois, num didatismo pedante, lembra que humor é um líquido do corpo e cita os quatro tipos de matéria líquida e semilíquida do organismo humano, fazendo relação dessas matérias com o estado de espírito. Defende que a saúde física e mental está relacionada aos líquidos dos corpos e pergunta: "Será que o humor carioca vem daí? Dos corpos molhados?" Dá uma volta danada, para arrumar um questionamento forçado desses? Fala sério!! Não me interessei em conhecer outras obras dela.

Enfim, o cenário presente e futuro da literatura brasileira não me parece muito promissor. De vinte, três ou quatros escritores realmente me interessaram. Alguns estão perdoados porque são bem novos, têm entre 21 e 25 anos de idade, mas outros já são relativamente experientes, têm livros publicados e já receberam prêmios.  Pelo jeito, público e crítica ainda andam bem separados, porque nenhum desses se tornou best-seller. Sei que o brasileiro não é muito dado à leitura, menos ainda à leitura mais elaborada, ou seja, o público tem parte da culpa; porém os autores também têm sua parcela, pois me parecem que eles escrevem mais para ganhar prêmios, para se destacar entre os pares e para os críticos. Quando fiz a resenha de Capitães da Areia, citei a entrevista de um editor que reclamava justamente disso: os escritores brasileiros contemporâneos estão mais preocupados com prêmios. Claro que tenho que ler outras obras desses autores para chegar a uma opinião definitiva, mas hoje, baseado nessa experiência, sou obrigado a concordar com esse editor.










quarta-feira, 30 de outubro de 2013

GRANTA - OS MELHORES JOVENS ESCRITORES BRASILEIROS


A minha experiência da leitura de Quiça, Luísa Geisler, não foi das mais positivas; ainda assim, ou por isso mesmo, resolvi me inteirar do que está acontecendo na literatura brasileira contemporânea. Para isso, fiz algumas pesquisas e deparei com a notícia de que uma prestigiada revista literária inglesa, Granta, tinha lançando, em 2012, um livro com os vinte melhores escritores brasileiros abaixo dos 40 anos, que tivesse ao menos um conto publicado. O livro é uma coletânea que traz um texto de cada autor ou autora selecionado (a), podendo ser um conto ou o trecho do livro a ser lançado por ele ou por ela. Nada melhor do que um livro como esse para tomar pé da situação.

Pois bem, vou dizer o que achei de cada conto/trecho de forma bem resumida. Citarei o nome da obra com o autor entre parênteses e, em seguida, emito minha opinião. Confesso que fiquei preocupado com o nosso cenário literário atual e futuro porque, para o meu gosto, os bons de verdade foram a minoria esmagada. Mas não me levem muito a sério, é só a opinião superficial de um leigo. De repente, quem fez a seleção, por ter um olhar técnico, enxergou qualidade onde eu não vi. Para não ficar uma postagem muito grande, vou dividir minha resenha em duas. Hoje comento 10 escritores e amanhã os outros 10 restantes. Vamos lá!

1 - Animais (Michel Laub) - Bom, gostei do conto. Não arrebenta, mas é bom. A história é bem simples: o homem faz reflexão sobre sua vida e se lembra da relação com o pai, dos amigos que morreram e dos animais de estimação que teve e morreram, especialmente de um cachorro que foi morto pelo doberman do vizinho. A linguagem do autor é direta e bem simples e, em alguns poucos momentos, beira o juvenil, mas funciona bem. Ele tem um estilo bem próprio e marcante. Inova ao escrever em parágrafos numerados, que às vezes não tem relação direta uns com os outros, mas que juntos constroem a trama. Percebe-se maturidade e domínio da narrativa. Contudo não se enganem, apesar de simples, o texto não é vazio e apresenta boas reflexões. O final foi sutil, mas impactante. Leria um livro dele.

2 - Aquele Vento na Praça (Laura Erber) - Gostei bastante desse conto. Bem escrito, linguagem elegante, história diferente, tema original. Um artista plástico aceita a incumbência de ir a Bucareste comprar obras esquecidas do artista Paul Neagu. Lá ele conhece uma camponesa cujo pai, um homem com problemas psiquiátricos, guardava obras de Neagu. Achei interessante. Leria um livro dela.

3 - Antes da Queda (João Paulo Cuenca) - Trecho do próximo romance do autor. Nesse texto, ele fala da cidade do Rio de Janeiro. Desse não gostei. Achei a escrita meio amarrada, pesada. O texto tem mais cara de um manifesto do que de um romance. Não me interessou; não leria esse livro.

4 - O Que Você Está Fazendo Aqui (Luísa Geisler) - Vocês podem achar que é perseguição, mas não é. Tento ter boa vontade com a menina, mas não dá; não gostei nada desse conto. Sei que o ritmo acelerado que ela adotou foi para combinar com a vida agitada do personagem, que vive viajando o mundo para lá e para cá, mas para mim não funcionou. Muito seco, muitos cortes bruscos, muitas enumeração de objetos e atitudes. Ficou confuso. Não me liguei à história tampouco ao personagem. Sem falar na repetição chata e aparentemente sem sentido (deve ter sentido, mas não quis perder meu tempo matutando para entender qual seria) da palavra Weltanschauumg, que não sabia o que significava (em pesquisa, vi que significa visão de mundo ou concepção do mundo) e não podia pesquisar enquanto lia. Ou seja, esse recurso estilístico só atrapalhou a leitura. Para não dizerem que não gostei de nada, gostei dessa colocação: "Laços de nacionalidade não são laços de identificação." Achei a sentença bacana, com a qual concordo totalmente. Já li um livro dela e não gostei da experiência. Não leria algo dela novamente.

5 - Tólia (Ricardo Lísias) - Conto bacana, porém não me conquistou totalmente. A linguagem é simples, mas não é pobre; a leitura flui bem; no entanto a história não me convenceu. O cara abandona a literatura e vai para Moscou com o objetivo de se aperfeiçoar no xadrez e acaba numa comunidade mística no Cazaquistão. O começo vai até bem, mas, depois que ele chega a Moscou, o desenrolar da trama fica meio apressado e perde energia. O final achei bem fraco. Estou na dúvida se leria um romance dele; acho que sim.

6 - Apneia (Daniel Galera) - Muito bom. O melhor pedaço do livro. Como não prestei atenção ao texto introdutório que apresenta o autor e a obra, li achando que se tratava de um conto, e até poderia ser, pois parece haver um desfecho. Contudo, na verdade, se trata do trecho de seu romance, que já foi lançado, Barba Ensopada de Sangue. O texto é muito bom, bem escrito. É o diálogo entre o pai que comunica que decidiu se matar e o filho que tenta convencê-lo a abandonar a ideia. O diálogo é excelente e parece bem real. Consegui visualizar os dois personagens conversando. Pretendo ler o Barba Ensopada de Sangue. Esse promete.

7 - Valdir Peres, Juanito e Poloskei (Antonio Prata) - Achei esse conto bem divertido. Fala da infância da década de 80, dos brinquedos e da brincadeiras daquela época, e fala como a ascensão econômica de alguns amigos afetou a relação entre esses e os outros que não ganharam tanto dinheiro. Leve e bem escrito; me lembrou bastante minha infância; leitura sem compromisso. Gostei. Talvez lesse um livro dele.

8 - O Jantar ( Júlian Fuks) -  Não gostei. Numa linguagem empolada e enrolada, ele fala muito sem dizer nada. Achei o conto pretensioso e superficial. É a história de um homem que vai jantar na casa da tia argentina, em Buenos Aires, e discute com ela sobre a ditadura militar não só na Argentina, como também na América Latina como um todo. Achei bem chato; leitura maçante. Não leria um livro desse escritor.

9 - Noites de Alface (Vanessa Barbara) - É o trecho de seu próximo romance. Nem procurei saber se o livro já foi lançado, pois achei esse trecho bem sem graça; não me chamou atenção. Fala de um idoso que se vê sozinho, numa vida sem sentido, depois da morte da mulher. Parece escritora iniciante. Não me deu a menor vontade de ler esse livro.

10 - Mãe (Chico Mattoso) - É um conto sobre o sentimento do filho em relação à mãe. Começa com o cara imaginando a morte da mãe. Achei sem graça e vazio. Não conta nenhuma história interessante; não traz nenhuma reflexão interessante; não apresenta nenhuma novidade. Era um tema que poderia ser bem explorado, mas ficou no mais do mesmo. No conto, a mãe fica só no plano imaginário, o que a deixa muito distante do leitor, e isso dificulta a empatia com o personagem; não consegui comprar os sentimentos dele.

Hoje fico por aqui. Amanhã comento os outros 10.

Até amanhã.


terça-feira, 22 de outubro de 2013

FAROESTE CABOCLO (FILME)



Um dos problemas que enfrenta quem resolve fazer um filme baseado ou inspirado em um livro já conhecido é que o expectador já leva consigo algumas imagens mentais que podem ou não coincidir com as apresentadas pelo diretor. Daí a razão de tantas opiniões divergentes a respeito de um filme nesses termos, afinal cada um faz a sua própria imagem, que no máximo se assemelha, mas nunca é igual a de qualquer outra pessoa. Se o diretor "acerta" na representação da imagem que faz a maioria, com uma ou outra ressalva, o filme vai ser bem recebido; se ele não "acerta", os fãs do livro rejeitam, sem piedade, a obra cinematográfica. Se com o livro o risco de erro é grande, imagina com a música, em que as lacunas para livre preenchimento de quem a ouve são ainda mais largas.

Com efeito, não é só "acertar" nas imagens mentais que o sucesso do filme estará garantido. Deve-se somar a esse fator, a capacidade do diretor em transmitir as ideais essenciais da obra original. E o grau de subjetividade do que são essas ideais essenciais é ainda maior numa canção do que no livro. E quando essa música é Faroeste Caboclo - um grande sucesso em todo Brasil, que levou cada pessoa a fazer seu próprio filme na cabeça -, o risco de não atender o que as pessoas imaginam é enorme. Enfim, por tudo isso, a tarefa de René Sampaio, que dirigiu o filme Faroeste Caboclo, era por demais espinhosa. E, na minha opinião, ele sai bastante arranhado; ele mais errou do que acertou.

A história todo mundo conhece de cor e salteado; muitos desde a infância. Então vamos logo para as minhas impressões: o que achei bom e ruim no filme. Vamos falar primeiramente do que ele acertou. Convém ressaltar que é minha visão pessoal; baseada totalmente nas imagens que fiz para música e no que eu entendia como sendo suas ideias essenciais. Outros podem pensar diferente e devo respeitar. Como eu destaquei nos parágrafo anteriores, essa análise é muito subjetiva; todo mundo tem todo o direito de discordar. Então, vamos para o que interessa!

Primeiro acerto: as atuações. Para mim, todos foram bem, com destaque para Fabrício Boliveira e Antonio Calloni, que, respectivamente, interpretaram João de Santo Cristo e Marco Aurélio, um policial corrupto, que não existe na música e foi introduzido na trama. Os demais não se destacaram tanto com esses dois, mas não comprometeram. Outro ponto positivo foi a representação do personagem Pablo, que ficou melhor do que eu imaginava, não só fisicamente, mas comportamentalmente. Ele é cômico e cruel na medida certa.

Outra boa sacada foi a forma como João de Santo Cristo conheceu Maria Lúcia. E o tom que o diretor deu para o romance também ficou bem adequado: sem carregar demais no drama, armadilha fácil de cair por conta da intensidade da relação passada pela música.

Ainda no âmbito desse romance, o filme apresentou uma solução razoável para aquele trecho em que João de Santo Cristo some e, quando volta, encontra Maria Lúcia e Jeremias casados, e, o pior, ela grávida. Nessa passagem da letra, a gente fica se perguntando o que poderia ter levado Maria Lúcia, que jurava amor eterno a João, a se casar, do nada, com Jeremias. O roteiro preenche essa brecha até razoavelmente bem, mas ainda deixa buracos. Achei que Jeremias tomou sua decisão com base em motivações infantis e aceitou Maria Lúcia com muita facilidade, só por um capricho. O roteiro poderia apresentar motivação mais consistente para que Jeremias a aceitasse como mulher.

Por falar em risco de exagerar no drama, ele também conseguir fugir da armadilha do dramalhão ao elaborar um final mais verossímil e comedido do que o apresentado pela música, apesar de um escorregão isolado nessa cena final, justamente no momento em que Jeremias toma uma atitude injustificadamente exagerada e patética, que destoou do clima sóbrio que imperava nessa sequência.

O último acerto foi a introdução do papel de Antonio Calloni, um policial corrupto, que salvou as cenas de ação e de confronto com João de Santo de Cristo, pois, nesse aspecto, o personagem de Jeremias deixou muito a desejar. Esperava bem mais de Jeremias. A partir de agora, vou me deter no erros do filme.

Já que citei Jeremias, vou continuar nele. Além da motivação infantil para se casar com Maria Lúcia, vi outro problema sério na construção desse personagem. Quando eu ouço a música, eu imagino um sujeito corajoso, seguro, frio e calculista. O Jeremias do filme é totalmente o oposto: medroso, mimado, inseguro. É um playboyzinho que se mete a bandido. A figura do vilão forte no filme ficou a cargo do policial corrupto, muito bem interpretado por Antonio Calloni.

Outro erro grave, para mim o pior, foi o personagem de João de Santo Cristo. A música transmite a ideia de que ele era uma criança diferente das demais da localidade onde morava, de que era inquieta e não se reconhecia no lugar onde nasceu. Tinha naturalmente personalidade forte, uma parte obscura que nasceu com ele; era algo de índole. Esse seu lado difícil na personalidade foi reforçado pelo assassinato do pai e pela experiência no reformatório. Já, no filme, João é o típico menino da roça: amuado, tímido, calado, que se revolta quando vê o pai ser assassinado. Depois, por ter cometido um crime, ele vai para o reformatório, "onde aumentou seu ódio, diante de tanto terror." Na obra cinematográfica, ele é mais vítima das circunstâncias, que comete um crime só porque viu o pai ser assassinado e, depois, piora com a internação. Já Renato Russo retrata uma criança e um adolescente de forma totalmente diferente: era um menino que trazia um inconformismo imanente, que ficou mais grave com os infortúnios pelo quais ele passou, mas que não foi despertado por eles.

Por falar em infância, o filme poderia ter trabalhado melhor essa fase do protagonista, para que entendêssemos melhor a formação de sua personalidade. Temos algumas poucas cenas no começo do filme sobre o João ainda criança e depois alguns flashbacks.  Ficamos com a impressão de que não conhecemos direito João e inferimos que ele saiu de sua cidade só porque não lhe restou outra opção. Se não foi isso, faltaram elementos para entendermos os reais motivos de ele ter vindo para Brasília.

Independentemente dos reais motivos de sua emigração, não conseguimos enxergar nenhum dos seus conflitos internos apontados pela canção: "sentia que aquilo ali não era seu lugar. Ele queria sair para ver o mar e as coisas que ele via na televisão..." "... ficou cansado de tentar achar resposta e comprou uma passagem e foi direto a Salvador." No filme, ele não se sentia como estranho no ninho;  saiu do campo porque se viu sem rumo na vida. A impressão que dá é que ele ficaria na roça se não tivesse passado por tanta desgraça, o que não condiz com a letra da música, pois o João de Renato Russo sairia dali de qualquer jeito; as desgraças só lhe deram certeza e apressaram a sua decisão.

Aproveitando que citei a ida do protagonista para Salvador, o diretor prefere ignorar esse trecho da música. Achei um erro, pois ele perdeu a chance de abordar, ainda que levemente, o tema da migração em direção ao Planalto Central, tão importante para entender a formação e crescimento da periferia de Brasília, região onde João foi morar. Uma pena.

Outro ponto de que não gostei foi a forma como João encontrou Pablo. O diretor perdeu mais um aspecto importante da trama pensada por Renato Russo: a vida boêmia de João de Santo Cristo e os possíveis contatos no mundo do crime que ele desenvolveu por meio do Pablo.

Falando da fase adulta de João, o que vi no filme também não correspondeu com que imaginava para a personagem. René Sampaio cria um João desconfiado e circunspecto; já eu imaginava um sujeito solto, comunicativo e carismático. E sua rápida e fácil decisão pelo crime não é compatível com a personalidade retratada no filme; a facilidade com que ele decidiu entrar no tráfico seria mais coerente com o indivíduo descrito pela música da Legião Urbana.

Muitos vão argumentar que um filme não precisa ser fiel à obra em que é baseada. Eu concordo (apesar de achar que, no caso de Faroeste Caboclo, seria melhor optar pela fidelidade quase total). Mas esse não foi o problema. O problema é que o filme rejeitou as principais ideias da obra original. Ele praticamente só se valeu do nome das personagens e de alguns cenários. Por que então usar o nome Faroeste Caboclo? Por que não lançou um roteiro original?

Até acho que, se o roteiro fosse original, totalmente dissociado da música, eu teria gostado mais do filme; daria para dizer que é um bom filme. Mas, como alegaram que tinha relação com a música, e minhas expectativas foram frustradas, considero o filme apenas razoável.




quinta-feira, 13 de junho de 2013

CAPITÃES DA AREIA - JORGE AMADO


Certa vez li a resposta do representante de um editora ao questionamento sobre a baixa presença de livros nacionais nas listas do mais vendidos, dominadas amplamente por obras de autores estrangeiros, realidade observada desde já algum tempo (Não me lembro o site, nem o nome do tal representante. Peço desculpas). Nesse matéria, abordaram-se a reclamação de muitos em relação a esse quadro e a cobrança de mais valorização dos autores nacionais, pois muitos entendem que as editoras só prestigiam os internacionais. Em resposta a essas cobranças e reclamações, o tal representante afirmou que os escritores estrangeiros vendem mais porque os brasileiros atuais estão mais preocupados em escrever de maneira rebuscada, estão mais preocupados em impressionar, do que em contar uma boa história. Esse comportamento afasta os leitores, continuou o entrevistado. Ainda segundo ele, ou o livro nacional é muito simples e ruim, ou tem uma escrita muito sofisticada, difícil de ler e entender; não há escritores que contam histórias que as pessoas leiam, entendam e se envolvam com ela. Os que escrevem histórias assim se dedicam a telenovelas e não a livros, arrematou o representante.

Refleti um pouco sobre essa declaração. Com efeito, li poucos autores nacionais modernos, mas, por essa pequena amostra, estou inclinado a concordar com o entrevistado. Parece que os escritores atuais estão mais preocupados em escrever com sofisticação - não a sofisticação natural de um Machado de Assis, mas aquela exagerada, forçada, que torna o texto pedante -, do que dividir uma história.

Comecei com essa introdução para falar de um escritor que, no meu ponto de vista, ocupava exatamente esse espaço: Jorge Amado. Com efeito, li apenas um livro desse autor: Capitães da Areia, claro que terei que ler outros para confirmar essa opinião; mas por essa obra, suspeito que Jorge Amado seja o tipo de escritor que, segundo o representante da editora, falta hoje em dia: alguém que conte uma boa história, escrevendo de maneira simples, sem reflexões muito pesadas, sem ginásticas de sintaxe ou uso exagerado de recursos estilísticos.   Assim eu vejo Jorge Amado, um escritor simples, sem muita profundidade. O que não significa que ele seja pobre. Claro que ele está muito abaixo de Machado de Assim ou de Guimarães Rosa, mas está longe de ser pobre. Ao contrário, encontramos bastante riqueza na sua simplicidade, ao menos encontrei nesse livro: crítica social e política, ironia bem colocada, trama bem amarrada, personagens bem construídos -  apesar de não se aprofundar muito no aspecto psicológico de alguns deles.

Capitães da Areia conta a história de uma gangue de adolescentes infratores que se abrigam num trapiche abandonado à beira da praia de Salvador e de lá saem para cometer seus crimes: pequenos furtos, roubos, estelionatos. Assim vivem sua vida. E autor elege alguns protagonistas, de variadas personalidades, histórias de vida, expectativas e interesses. Todos muito interessantes, mas o melhor, a meu ver, foi o Sem Pernas. Para mim, foi disparado o mais complexo e bem construído de todos, o que mais emociona e desperta reflexões importantes. E é o que nos proporciona o momento mais forte e tocante do livro (claro que não vou contar qual foi, pois não gosto de entregar nada, nem antecipar nenhuma emoção. Se alguém já leu o livro e quiser discutir sobre esse ponto ou deseja saber a que trecho me refiro, podemos conversar nos comentários, assim poupamos que prefere não saber. Ok?).

Além da escrita leve, saber contar uma boa história e construir bons personagens, o autor teve o mérito de fugir de clichês para lidar com um tema tão complicado que é a criminalidade entre crianças e adolescentes moradores de rua. Soube descrever suas angústias, aflições e aspirações, seus momentos de alegria e tristeza; mergulhou de fato no mundo dos meninos. Inclusive, Zelia Gattai, mulher de Jorge Amado, relatou que, para escrever o livro, o marido conviveu e dormiu algumas noites com os meninos de rua no lugar onde esses últimos moravam.

Capitães de Areia, apesar de ter sido escrito nos anos 30, continua bastante atual. Sem dúvida, uma boa leitura.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

AMOR



Não poderia haver melhor nome para esse filme, inclusive é a fiel tradução do título original da obra (ainda bem que o conservaram, pois, no Brasil, muitas vezes erram feio na tentativa de dar um nome nacional a filme estrangeiro). A escolha foi muito apropriada em pelo menos dois aspectos. Primeiro, e o mais óbvio, é  porque a produção aborda justamente esse sublime sentimento. Depois, porque, assim como a palavra, o filme é simples e singelo, e, ao mesmo tempo, sensível, impactante e profundo.

Eis o resumo da história, retirado do site www.adorocinema.com: Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva) são um casal de aposentados, que costumava dar aulas de música. Eles têm uma filha musicista que vive com a família em um país estrangeiro. Certo dia, Anne sofre um derrame e fica com um lado do corpo paralisado. O casal de idosos passa por graves obstáculos, que colocarão o seu amor em teste.

Amor  é  feito antes de gestos e atitudes do que de palavras. Os diálogos existem, mas as ações são muito mais significantes e pungentes; retratam com mais força a mensagem que a história pretende passar. Não me lembro de ter ouvido um "eu te amo" entre o casal, se existiu foi bem discreto, sem realce. No entanto, ao término do filme, o amor entre os dois protagonistas é a certeza mais sólida que temos.

É muito bonito ver a relação entre os dois velhinhos; a cumplicidade e o companheirismo entre eles. Vemos nas suas atitudes todo o carinho e a afeição que sentem um pelo outro. Atitudes que nos são mostradas com muita sutileza. Nesse ponto vejo um dos grandes méritos do filme. O diretor aborda o dia a dia de um casal de idosos, antes e depois da trágica ocorrência, de uma forma muito natural, sem arroubos de emoção (apesar da situação difícil que passam a viver e da dura e inquietante cena nos momentos finais da trama).

Os destaques vão para a direção, exercida de forma magistral pelo competente e premiado Michael Haneke (o mesmo de A Fita Branca), que, valendo-se de cenas simples do cotidiano, no único espaço de um apartamento, nos insere inteiramente no terrível drama do idoso casal. Também, para o roteiro, que é original no seu desenlace; e, obviamente, para a soberba atuação dos dois protagonistas. Um dos melhores filmes a que assisti nesses últimos anos.

Ficha Técnica:


Diretor: Michael Haneke
Elenco: Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva, Isabelle Huppert, Alexandre Tharaud, William Shimell, Ramón Agirre, Rita Blanco, Carole Franck, Dinara Drukarova, Laurent Capelluto, Jean-Michel Monroc, Suzanne Schmidt, Damien Jouillero, Walid Afkir
Produção: Stefan Arndt, Margaret Ménégoz
Roteiro: Michael Haneke
Fotografia: Darius Khondji
Duração: 127 min.
Ano: 2012
País: França, Alemanha, Áustria
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Distribuidora: Imovision
Estúdio: Les Films du Losange / X-Filme Creative Pool / Wega Film
Classificação: 14 anos


Trailler

sexta-feira, 17 de maio de 2013

BALÉ NACIONAL DA RÚSSIA - O LAGO DOS CISNES


Como eu havia informado, no sábado passado, a companhia Balé Nacional da Rússia apresentou aqui em Brasília o espetáculo Lago dos Cisnes. Fui lá conferir. Uma vez que meu conhecimento em balé é nulo, não vou arriscar fazer qualquer tipo de análise. Vou encher minha postagem com informações e curiosidades que achei nas minhas pesquisas sobre essa belíssima peça.

A peça foi encomendada pela companhia de Teatro Bolshoi, em 1875, ao compositor, Tchaikovsky. A estréia em 1877 foi um total fracasso. A coreografia não funcionou, o desempenho da protagonista foi medíocre, os bailarinos acharam a música impossível de se dançar, e o público achou-a barulhenta. Um fiasco. Em 1895, dois anos depois da morte de  Tchaikovsky, Petipa e Ivanov, para homenagear o compositor falecido, criam uma nova coreografia para o espetáculo. o compositor Drigo ficou encarregado de fazer ajustes na partitura. Essa nova versão alcançou estrondoso sucesso e foi responsável por tornar Lago dos Cisnes essa obra tão marcante.

Ninguém sabe ao certo a verdadeira fonte inspiradora do enredo, escrito por Begitchev, Geltser e o Tchaikovsky. Cogita-se que foi baseado em lendas russas, que sempre destacaram a figura do cisne, bem como na pessoa do Rei Luis II, que exercia grande fascínio no compositor russo. Segue a história (retirada do blog http://sonhodebailarina.blogspot.com.br.) 

Prólogo: A Princesa Odette, de beleza ímpar, passeia distraidamente, quando é capturada e enfeitiçada pelo cruel bruxo Von Rothbart, que a transforma num belo cisne.

Primeiro ato: O Príncipe Siegfried comemora sua maioridade junto a amigos e convidados e ganha de sua mãe, a rainha, uma arma de caça. Na noite seguinte deverá escolher uma noiva para desposar, tornando-se o rei. Com a chegada da noite, o jovem príncipe fica sozinho e angustiado e decide ir ao lago caçar.

Segundo ato: Em busca de delicados cisnes, Siegfried se aproxima do lago e vê um belíssimo cisne branco. Prepara sua arma para atirar e subitamente o pássaro se transforma na mais linda jovem que já vira: Odette, a rainha dos cisnes. Ela conta ao príncipe o encantamento de que foi vítima e que somente um amor puro e verdadeiro será capaz de libertá-la. Ele logo compreende que a bela e triste Odette é o seu grande amor e ela imagina ter encontrado seu salvador. O casal se apaixona, trocam juras de amor e prometem se unir.

Terceiro ato: Na festa de seu aniversário, Siegfried deve escolher uma noiva dentre as lindas donzelas presentes, porém, nenhuma das jovens atrai sua atenção. Subitamente, o bruxo entra no baile com sua linda filha Odile, vestida de negro e com a aparência idêntica à de Odette. O Príncipe fica enfeitiçado pela beleza e sensualidade de Odile e apaixona-se por ela. Sendo assim, a nova jura de amor anula a promessa feita à Odette que permanecerá para sempre presa ao feiticeiro. Quando Siegfried percebe que foi enganado, se desespera e parte em direção ao lago para se encontrar com sua amada Odette.

Quarto ato: As jovens cisnes, tristes com a tragédia de Odette, dançam desesperadamente em torno de sua rainha. Odette lhes conta que Siegfried quebrou o juramento. O Príncipe se aproxima e implora o perdão de sua amada e a jovem rainha o perdoa. O bruxo tenta com todas as suas forças separar os amantes, mas Siegfried enfrenta o terrível feiticeiro pela força do amor e sai vencedor. O feitiço que mantém presas todas aquelas jovens é desfeito. A aurora anuncia a chegada de um novo dia. Odette e Siegfried atingem, enfim, a plenitude de um amor ideal e eterno.

Foi essa versão que o Balé Nacional da Rússia apresentou no último sábado. Existe uma outra versão praticamente igual a essa, mas com um final diferente. Nesse caso, o jovem Príncipe Siegfried e Odette se jogam no lago e só assim podem ficar juntos e felizes para sempre. Podemos ver esse segundo final no filme O Cisne Negro. 

Esse espetáculo é belíssimo. Em alguns momentos se afigura tenso e vibrante, em outros, comovente e tocante. Como leigo, gostei bastante da coreografia apresentada pela companhia Balé Nacional da Rússia. Me envolveu e me impressionou até o fim. 

Segue o vídeo de um dos pontos altos da peça. Ocorre no final do segundo ato, quando Siegfried e Odette, após se conhecerem e se apaixonarem um pelo outro, têm que se separar em razão do tal feitiço. Talvez seja esse o trecho musical mais famoso de O Lagos dos Cisnes. Lindo casamento entre música e coreografia. Emocionante.

Vídeo do final do segundo ato. Está no final de uma música; esperem um pouco que logo começa o trecho a que me referi acima. (Não achei a apresentação do Balé Nacional da Rússia. Postei esse mesmo para vocês terem noção do que consiste o final do segundo ato. O vídeo não é dos melhores; gravação amadora, distante, som ruim; até tosse tem no meio; mas foi o único que achei que isola essa parte da peça).








sexta-feira, 10 de maio de 2013

ESCOLA DO TEATRO BOLSHOI NO BRASIL - DOM QUIXOTE


Olá a todos.

Depois de muito tempo, estou de volta. Quando estava pegando o ritmo, entrei de férias, aí já viu, né...? Além de dispor de pouco tempo, quando eu o tinha, batia aquela preguiça. Ela foi parcialmente curada hoje. Vamos ver se ela me deixa em paz por um bom tempo. Com preguiça ou não, vou tentar ser mais regular dessa vez. Sigamos para a postagem de hoje.

Dom Quixote é um dos meus livros favoritos. Justamente por isso, quando vi o anúncio de que a Escola do Teatro Bolshoi no Brasil faria uma apresentação aqui em Brasília e, o melhor, gratuita, tratei de correr atrás do ingresso. Três horas de sol na moleira depois (quem é careca sabe o tanto que a pele da cabeça sofre ao sol), garanti o meu ingresso e o da minha mulher. A apresentação foi no ginásio Nilson Nelson, no dia vinte e cinco do mês passado.

Toda apresentação em ginásio tem os seus inconvenientes: desconforto, tumulto para entrar e sair, os lugares não marcados, grande distância do palco. Ainda assim achei que valia a pena. Primeiro porque poderia prestigiar, pela primeira vez, uma apresentação de balé ao vivo. Depois para valorizar a iniciativa de promover  arte e a cultura, ainda mais de uma modalidade pouco conhecida e difundida no Brasil, e a Escola Bolshoi parece ter um bom projeto nesse sentido.

E valeu a pena. Não espere uma avaliação profunda porque sou totalmente leigo nessa arte. Quer dizer, não espere avaliação nenhuma. Observei o que qualquer pessoa comum observaria. A beleza dos movimentos, da coreografia e das fantasias. Mesmo não entendendo nada, gostei muito da apresentação. Claro que não dava para exigir muito, afinal a maioria dos bailarinos, por se tratar de uma escola, tinha entre 9 e 19 anos; percebi somente dois ou três acima dessa idade. Por esse motivo, mesmo eu sendo leigo, reparei algumas pequenas falhas na apresentação. Erros de posicionamento, sincronia, entrada, saída. Mas nada muito grave.

A decepção ficou por conta da participação do Dom Quixote e do Sancho Pança. Lembro-me muito pouco da história, pois li o livro há bem mais de dez anos. Porém, se eu não estou muito enganado, lembro bem que o Dom Quixote era o personagem principal e mais ativo da trama. Já a versão apresentada pela escola Bolshoi relegou ao Dom Quixote o papel de coadjuvante, bem coadjuvante mesmo. Ele não dançou em nenhum instante, ou ficava sentado ou dava umas caminhadinhas para lá e para cá. Achei tão estranha essa participação que, quando anunciaram a presença do Governador Agnelo Queiroz, cheguei a cogitar que se tratava de uma surpresa da atração, e ele, por ser alto e magro, teria feito o papel de Dom Quixote. Estava só esperando o momento dele se livrar da fantasia. Outra decepção, não era ele. Aliás, eu, por ser alto e magro, bem que poderia ter feito o papel de Dom Quixote também. O Sancho Pança ainda ensaiou alguns passos de dança, mas bem pouco.

Apesar das tais falhas e dessa decepção pessoal, o espetáculo foi muito bom e gostei muito da experiência de ver balé clássico ao vivo. Realmente, é muito bonito. Gostei tanto que já adquiri ingressos para a apresentação da companhia Russian State Ballet (essa sim formada por bailarinos profissionais), com o espetáculo Lago dos Cisnes, que vai ocorrer no sábado agora no Centro de Convenções. Acho que ainda é possível encontrar ingressos. Se tiver interesse, dê um pulo no Brasília Shopping. Fica a dica.


quinta-feira, 14 de março de 2013

QUIÇÁ


Resolvi ler algum escritor brasileiro da nova geração. Em pesquisa na internet, achei o nome de Luísa Geisler, vencedora do prêmio Sesc de Literatura por dois anos consecutivos: em 2010, na categoria Conto; e 2011, na categoria Romance. Também foi escolhida por uma renomada revista inglesa de literatura como uma das vintes melhores escritoras brasileiras de sua geração na atualidade. Vi comentários elogiosos à autora. Li algumas resenhas a respeito dos seus dois livros; a maioria positiva. Fiquei curioso e comprei o seu romance, cujo título é Quiçá.

A história de Quiçá é simples: após tentar o suicídio, Arthur, um problemático garoto de dezoito anos, que mora numa cidade pequena do interior, vai morar, por um ano, com os tios (Augusto e Lorena) e a prima (Clarissa), que vivem numa cidade grande. Com a convivência, os dos primos começam uma amizade. Ao mesmo tempo, o livro conta os acontecimentos de um almoço de Natal na família dos personagens. E, ainda, entre um capítulo e outro, a autora coloca alguns fragmentos de textos que podem ser pequenos contos, citações, crônicas, curiosidades. Ou seja o livro está estruturado em três eixos: o período de uma dia (almoço de natal), de um ano (o período em que Arthur mora com os tios e a prima) e de uma vida (os tais fragmentos).

Para dar a minha opinião sobre o livro, vamos imaginar uma conversa hipotética entre mim e um amigo.

O amigo vai me visitar na minha casa e aproveito para devolver o livro (Quiçá) que ele me emprestou. Na hora do lanche, ele puxa assunto sobre a obra.

- E aí? O que achou de Quiçá?

- Humm... Achei apenas razoável. Confesso que esperava mais, ainda mais porque ele foi vencedor de um prêmio.

- Ah, é, cara?! E do que não gostou?

- Bem... A história não me cativou, nem me identifiquei com os personagens. Também não gostei da narrativa dela. Não sei. Não vi nada de interessante na trama, nada que me envolvesse ou surpreendesse. Não achei nenhum personagem marcante. O tal Arthur é o esteriótipo do adolescente rebelde. A menina foi mais bem construída, mas tinha atitudes, postura e linguagem, muitas vezes, maduras demais para a idade. Não os comprei. E a narrativa é meio amarrada; não desenvolve. Ela abusa de alguns recursos que não me agradam como: escolher uma palavra ou expressão e repeti-la a cada começo do período seguinte ("o carro vibra, os pais conversam, barulho da estrada.......O carro vibra, barulho da estrada"), ou colocar um monte de complemento em sequência (...."levava Clarissa para a casa de amigos, que falavam palavrões, que jogavam videogames violentos, que ensinavam Clarissa a jogar videogames violentos, que comiam salgadinhos, que bebiam álcool, que..., que..., que..."); e outro é colocar hífen entre as palavras de uma frase para que ela funcione como uma palavra só ("cada vez mais onde-é-que-tá-minha-bolsa"). Ela fez isso muitas vezes no texto. Esses artifícios tornaram a narrativa meio enfadonha e amarrada. Outros recursos que achei chatos: o primeiro é  que todas as vezes que ela citava a televisão (e citou muito), ela repeita a configuração do aparelho; muito chato. Imagino que foi para reforçar o caráter consumista da família, nos colocar na cena, mas ficou cansativo. O segundo é que, em muitos diálogos, ela usava em sequência, ao final da citação de cada personagem, o "ele disse"ou "ela disse"; um atrás do outro. Não dá! Mais um outro problema: algumas situações me pareceram inverossímeis, como a de os profissionais de um estúdio de tatuagem acharem que Arthur (18 anos, magro e andrógino, ou seja, aparentaria ser mais novo ainda) seria pai de uma menina de onze anos. Meio difícil de engolir. Sinceramente, gostei mais dos fragmentos que ela colocou entre cada capítulos. Alguns eram bem legais. Só para citar um: a mulher que ia ser apedrejada. Muito bom. Talvez ela seja melhor contista do que romancista, já que fiquei sabendo que ela já ganhou um prêmio de contos.

- É. Pode ser. Ainda não li o livro de contos dela, não. Mas.... Queria discutir os defeitos que você citou. Será que esses deslizes não ocorreram por causa da pouca idade, da inexperiência dela como escritora? Ela só tinha 20 anos quando escreveu Quiça.

Quase engasgando com a bebida devido ao susto, reajo à grande surpresa perguntando admirado:

- O que?!! 20 anos?!!  Tem certeza?!

- Sim. Tenho.

- Caramba!! Realmente, ela é um prodígio. Ela tem percepção bem aguçada da vida para a pouca idade. Agora entendo alguns deslizes. Totalmente perdoada.

- Sim. Acontece. Talvez, por ser nova, com tanta ideia na cabeça, tenha se empolgado e não tenha sabido dosar esses artifícios. Mas não viu mais nenhuma virtude nela? Pergunta o meu amigo.

- Vi. Ela é ousada, corajosa; isso é bom. Como você disse: sabendo dosar, essa coragem e essa ousadia são positivas. Além disso, como diz na orelha do livro: "a autora revela ter boa e compreensiva cultura literária". Ela conseguiu também ter o domínio da trama; não perdeu o rumo da história, apesar da estrutura diferente, da ordem cíclica que ela empregou. Parece ser algo difícil de fazer. Ela também soube captar e descrever as sensações dos momentos mais simples do dia a dia. Outro aspecto bem positivo é que ela não escorregou para o sentimentalismo. Ela conta, de forma sóbria, uma história triste de uma criança solitária, mas que tem seus momento de alegria ao desfrutar de uma amizade improvável com seu primo rebelde de dezoito anos. E também não apelou para soluções fáceis. Isso revela habilidade. Gostei ainda do desfecho. Ela soube terminar o livro e, no final, deixou tudo em aberto, o que tem a ver com o nome do livro. Quiça ela fale. Quiça seja diferente se ela contar.

- E essa estrutura composta por três momentos diferentes? Não achou legal, não?

- Bem... É que, para mim, não é tão diferente assim, pois o Chico fez algo parecido no Leite Derramado, só não fez uma divisão tão precisa do tempo. Em cada capítulo no livro do Chico, o personagem começa com o presente, conta o passado e volta ao presente. A Luísa Geisler fez mais ou menos isso também, mas delimitou o período: um dia e um ano. E outra diferença para o livro do Chico é que ela incluiu aqueles pequenos trechos ao fim de cada capítulo.

- Achei bacana a reflexão que o livro sugere. Diz meu amigo.

- Não sei se foi a mesma que você teve. Afinal isso é meio subjetivo, pessoal. Cada um tem uma percepção.  Mas a que eu tive achei bacana também. O livro nos instiga a pensar em como tudo poderia diferente se as decisões fossem diferentes. Decisões egoístas e precipitadas podem prejudicar a vida de muitos. Mas tudo é um talvez; não dá para ter certeza. Quiçá.

- Sim também vi isso. E também refleti sobre a relação entre pais e filhos, em ser um pai mais presente e atencioso. E, como você disse, pensei na tristeza da vida da menina, e também na beleza da amizade dos dois personagens principais, Arthur e Clarissa. Algo que era improvável, pela diferença - de idade e personalidade - entre os dois personagens, mas que a situação triste de cada um tornou possível. Essa situação os levou a verem um no outro certa esperança de uma vida melhor.  Ah! E também a "forçação" que são esses almoços de Natal só para manter a aparência de unidade na família.

- Sim. Isso tudo também. Bem lembrado.

- Recomendaria o livro?

- Recomendaria sim. É um bom livro. Mas acho que é mais apropriado para adolescente ou leitores inexperientes. Acho que esse livro não funciona para adulto com grande carga de boa leitura. A comparação com grandes escritores seria muito injusta com a menina.

- Ah, beleza! Concordo. É, cara, deu minha hora. Vou nessa.

- Beleza! Até. Valeu pelo livro.

Bem... Esta aí é minha opinião. Opinião de leitor, é claro. Não sou profissional da área. E como leitor, achei que Quiçá foi um pouco incensado por parte da crítica. Pensei que essa obra fosse melhor. Um crítico escreveu que a Luísa Geisler já era um escritora completa. Considero um exagero. Espero que ela não acredite nisso e que não se acomode. Ela é muito promissora, mas, a meu ver, ainda está em formação. Pelo talento que ela demostra, tenho certeza que ela pode evoluir muito e se tornar uma grande escritora. Quem sabe pode até marcar o seu nome na galeria dos maiores escritores do Brasil, ao menos entre aqueles do seu tempo! Quiçá!




quinta-feira, 7 de março de 2013

AS AVENTURAS DE PI

Antes de comentar o filme em si, vale a pena contar um curiosidade, que está relacionada com essa produção cinematográfica. O filme As Aventuras de Pi foi baseado no livro Life of Pi, do escritor canadense, Yann Martel, publicado em 2001. Essa obra ganhou o prêmio Booker Prize, um dos mais importantes do mundo e o mais importante da língua inglesa. Até aí tudo bem.

O problema começa quando comparamos Life of Pi com o livro Max e os Felinos, do escritor brasileiro, Moacir Sciliar. As coincidências impressionam. No Life of Pi (já faço aqui também o resumo do filme), por questõs políticas e financeiras, um garoto e sua família se mudam da Índia para o Canadá. A família tem um zoológico e resolve levar os animais para vendê-los no novo país. No caminho, há um naufrágio, e o menino se vê num bote, em alto-mar, na companhia de um tigre.

Agora a história de Max e os Felinos, publicado em 1980 e traduzido para o inglês em 1990, recebendo o nome de Max and the Cats. Na obra de Sciliar, o menino é um judeu que foge da Alemanha nazista para o Brasil. O navio em que está também leva um circo. A embarcação afunda, e o menino se vê num bote, em alto-mar, na companhia de um jaguar. Humm! Muita coincidência, hein!

Fala-se em inspiração e não plágio. Que não se pode plagiar ideia. Sciliar admite isso. Ok. Apesar de controverso, pode ser. Mas, para mim, o autor de Life of Pi, ainda que tenha utilizado elementos novos e tenha dado outro início, final e aplicação à trama, não mereceria o prêmio. Pois o espinha dorsal da obra, a sua grande sacada, o seu grande diferencial,  é exatamente a criatividade de inventar a situação em que se colocam, num bote, à deriva, um garoto e um felino selvagem. Foi essa sacada que me chamou atenção para o filme e creio que tenha pesado na premiação recebida. Se a ideia foi copiada, baseada, inspirada, em algo já existente, o autor perde credibilidade e deveria, portanto, perder o prêmio.

Além disso, seria de bom tom, consultar ou comunicar o autor brasileiro sobre a utilização da sua ideia, o que Yann Martel não fez.  O próprio Sciliar disse não ter sido consultado pelo escritor canadense. Para completar, o autor canadense não deu os devidos créditos ao autor brasileiro. Ele só fez uma pequena menção ao brasileiro no prefácio, sem dizer qual foi a contribuição de Sciliar para o livro. Sem falar que Martel inventou uma historinha bem sem-vergonha para explicar a coincidência. Por tudo isso, há fortes indícios que o canadense tenha agido de má-fé para se apropriar da ideia. Mais um motivo para perder o prêmio.

Aff!! Me empolguei com a confusão entre os livros e me estendi no assunto. Vamos falar do filme então.

Fui ver As Aventuras de Pi sem muitas expectativas. Esperava apenas matar um tempo, divertir-me, com mais um filme de aventura e todos os clichês do gênero. Esperava ver uma história inverossímil, absurda, que abusaria dos efeitos especiais para nos envolver. Enganei-me. Quer dizer, não totalmente, porque alguns clichês existem; não do tipo que eu imaginava, mas existem, como o batido recurso de um escritor que vai procurar um desconhecido para conhecer sua história e transformá-la em livro. Também vemos cenas difíceis de engolir, como a sequência em que ele sobrevive, num barquinho, a uma poderosa tormenta. Perdoáveis. Acertei ainda no item "diversão". O filme diverte, tanto pelas passagens de humor, momentos de emoção, como pela trama em si. A fotografia é belíssima. Os efeitos especiais, tanto visuais como sonoros, impressionam e nos insere nos acontecimentos. Vivemos a aflição e a angústia do personagem. O trabalho feito com o tigre, então... Impressionante! E, claro, temos que destacar a excelente atuação do ator que fez o personagem principal durante os momentos em que o barco está à deriva.

Contudo, As Aventuras de Pi não é só para matar um tempo; vai além disso. O filme nos propõe importantes lições de vida e levanta - às vezes de forma aberta, outras vezes de forma serena, discreta e enigmática - bonitas reflexões sobre a espiritualidade. Inclusive, no aspecto espiritual, o obra deixa a conclusão a critério do expectador. Vale acompanhar essa incrível história, quer você seja religioso ou não.

Ficha Técnica
Diretor: Ang Lee
Elenco: Irrfan Khan, Gérard Depardieu, Suraj Sharma, Adil Hussain, Ayush Tandon
Produção: Ang Lee, Gil Netter, David Womark
Roteiro: David Magee, baseado na novela Yann Martel
Duração: 129 min.
Ano: 2012
País: EUA
Gênero: Drama

Trailler



Para quem ficou curioso sobre a celeuma gerada pela comparação entre Life of Pi e Max e os Felinos, segue o depoimento de Sciliar.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

QUAL É O NOME DO BEBÊ?




Olá a todos! Estou de volta. Demorei, mas voltei. Como, no Brasil, tudo só começa depois do Carnaval, por que eu teria que começar antes? De fato, passei um pouquinho do tempo; mas, para quem estava pensando em voltar somente depois da Páscoa, começar agora é um grande avanço.

Pois bem. Como estou enferrujado e pegando ainda o ritmo, escolhi comentar um filme leve e divertido, que não demanda reflexão pesada, nem para assistir, nem para analisar: a comédia franco-belga, Qual é o Nome do Bebê.

A ocasião é um jantar na casa da irmã de Vicent, em que estão presentes: a dona da casa, o marido, o próprio Vicent (pai do bebê que está para chegar) e um amigo de infância de todos eles. A mulher de Vicent chegaria em minutos. A confusão se instala quando o futuro pai comunica o nome, no mínimo polêmico, que escolhera para o filho. Esse anúncio gera vários conflitos, um puxado pelo outro. Um caos. E tudo começa por conta de um nome.

O filme é muito engraçado. As situações, por vezes embaraçosas, acabam se tornando cômicas em razão das circunstâncias. Uma sucessão de confidências, diferenças e problemas pessoais vem à tona, e a discussão toma rumo totalmente diverso do tema inicial. E vai mudando de direção, conforme surge outro ponto crítico na relação entre os presentes.

Enfim, o jantar que era para ser um celebração, vira briga. E participamos dessa briga. Isso ocorre porque a trama, conquanto seja simples, foi bem amarrada. Os diretores (Alexandre de la Patellière, Matthieu Delaporte) foram competentes em costurar as cenas, as passagens de um conflito para o outro. Não há lacunas, e filme anda sem perder o ritmo. Os atores (Patrick Bruel, Valérie Benguigui, Charles Berling, Guillaume de Tonquedec, Judith El Zein), embora nenhum deles apresente uma atuação exuberante, cumpriram a contento o seu papel.

E o destaque é o bom roteiro (Matthieu Delaporte). Criativo e bem elaborado, ele cumpre o que propõe: fazer rir, a partir da reflexão sobre nossas ligações com familiares ou com amigos. Expõe a escolha que, muitas vezes, fazemos pela mentira branca, pela omissão, pelo silêncio, porque a verdade e a sinceridade poderiam comprometer o relacionamento com os nossos queridos. Temos até a proposta de uma discussão política, mas é leve e bem velada. O forte mesmo da produção é o riso, a partir da exposição do emaranhado novelo que se formaria se todas as verdades que existem no subterrâneo das nossas relações pessoais viessem à superfície.

Filme muito divertido.