quinta-feira, 13 de junho de 2013

CAPITÃES DA AREIA - JORGE AMADO


Certa vez li a resposta do representante de um editora ao questionamento sobre a baixa presença de livros nacionais nas listas do mais vendidos, dominadas amplamente por obras de autores estrangeiros, realidade observada desde já algum tempo (Não me lembro o site, nem o nome do tal representante. Peço desculpas). Nesse matéria, abordaram-se a reclamação de muitos em relação a esse quadro e a cobrança de mais valorização dos autores nacionais, pois muitos entendem que as editoras só prestigiam os internacionais. Em resposta a essas cobranças e reclamações, o tal representante afirmou que os escritores estrangeiros vendem mais porque os brasileiros atuais estão mais preocupados em escrever de maneira rebuscada, estão mais preocupados em impressionar, do que em contar uma boa história. Esse comportamento afasta os leitores, continuou o entrevistado. Ainda segundo ele, ou o livro nacional é muito simples e ruim, ou tem uma escrita muito sofisticada, difícil de ler e entender; não há escritores que contam histórias que as pessoas leiam, entendam e se envolvam com ela. Os que escrevem histórias assim se dedicam a telenovelas e não a livros, arrematou o representante.

Refleti um pouco sobre essa declaração. Com efeito, li poucos autores nacionais modernos, mas, por essa pequena amostra, estou inclinado a concordar com o entrevistado. Parece que os escritores atuais estão mais preocupados em escrever com sofisticação - não a sofisticação natural de um Machado de Assis, mas aquela exagerada, forçada, que torna o texto pedante -, do que dividir uma história.

Comecei com essa introdução para falar de um escritor que, no meu ponto de vista, ocupava exatamente esse espaço: Jorge Amado. Com efeito, li apenas um livro desse autor: Capitães da Areia, claro que terei que ler outros para confirmar essa opinião; mas por essa obra, suspeito que Jorge Amado seja o tipo de escritor que, segundo o representante da editora, falta hoje em dia: alguém que conte uma boa história, escrevendo de maneira simples, sem reflexões muito pesadas, sem ginásticas de sintaxe ou uso exagerado de recursos estilísticos.   Assim eu vejo Jorge Amado, um escritor simples, sem muita profundidade. O que não significa que ele seja pobre. Claro que ele está muito abaixo de Machado de Assim ou de Guimarães Rosa, mas está longe de ser pobre. Ao contrário, encontramos bastante riqueza na sua simplicidade, ao menos encontrei nesse livro: crítica social e política, ironia bem colocada, trama bem amarrada, personagens bem construídos -  apesar de não se aprofundar muito no aspecto psicológico de alguns deles.

Capitães da Areia conta a história de uma gangue de adolescentes infratores que se abrigam num trapiche abandonado à beira da praia de Salvador e de lá saem para cometer seus crimes: pequenos furtos, roubos, estelionatos. Assim vivem sua vida. E autor elege alguns protagonistas, de variadas personalidades, histórias de vida, expectativas e interesses. Todos muito interessantes, mas o melhor, a meu ver, foi o Sem Pernas. Para mim, foi disparado o mais complexo e bem construído de todos, o que mais emociona e desperta reflexões importantes. E é o que nos proporciona o momento mais forte e tocante do livro (claro que não vou contar qual foi, pois não gosto de entregar nada, nem antecipar nenhuma emoção. Se alguém já leu o livro e quiser discutir sobre esse ponto ou deseja saber a que trecho me refiro, podemos conversar nos comentários, assim poupamos que prefere não saber. Ok?).

Além da escrita leve, saber contar uma boa história e construir bons personagens, o autor teve o mérito de fugir de clichês para lidar com um tema tão complicado que é a criminalidade entre crianças e adolescentes moradores de rua. Soube descrever suas angústias, aflições e aspirações, seus momentos de alegria e tristeza; mergulhou de fato no mundo dos meninos. Inclusive, Zelia Gattai, mulher de Jorge Amado, relatou que, para escrever o livro, o marido conviveu e dormiu algumas noites com os meninos de rua no lugar onde esses últimos moravam.

Capitães de Areia, apesar de ter sido escrito nos anos 30, continua bastante atual. Sem dúvida, uma boa leitura.