Por acaso soube que a Fernanda Torres tinha lançado um livro. Fim é o nome da obra. Ela é uma ótima atriz de comédia; é bem engraçada; então, ao ver um exemplar na prateleira de uma livraria, cedi à curiosidade e li o seu primeiro capítulo. Assim que tive a chance, pesquisei para ver qual era a opinião da crítica sobre o livro. E não é que era totalmente contrária à minha! Fiquei pensando: "Será que não o li direito? Será que estou tão errado assim? Não é possível!" Tive que comprá-lo para saber se eu mudaria de ideia. Li e reli. Não adiantou. Minha impressão não mudou nadinha: o livro é bem fraco.
Antes de detalhar minha opinião, vamos para o que a disse a crítica:
"O Título é Fim, mas o livro trata mesmo é da vida - plena, forte, caliente e safada." João Moreira Salles
"Alternando técnicas narrativas, com destaque para magistrais instâncias de fluxo de consciência, Fim captura brilhantemente a dramática oscilação de tristezas e ilusões." Antonio Cícero (grifo meu)
"Fernanda Torres estreia na ficção com voz incrivelmente madura, modulada, capaz de transformar histórias noturnas de velhice e morte numa ensolarada comédia carioca de costumes." Sérgio Rodrigues (grifo meu)
Pois é. Foram manifestações hiperbólicas como essas que encontrei na contracapa do livro. Ok! Na contracapa não vale, pois, por serem encomendas ou serem de amigos, padecem de suspeição. Concordo. Então fiz buscas na internet e encontrei opiniões como essas:
"A escrita densa de Fernanda Torres destrincha com sarcasmo os mecanismos mentais desses 'Cavaleiros do Apocalipse' que violentam seus valores 'burgueses' ao preço do rancor e da crueldade." (Link)
Essa análise foi mais comedida, porém, lá embaixo, na avaliação, outro exagero: o crítico classificou o livro como Ótimo. Tudo bem! Fernanda Torres também é colunista da folha, o que torna a análise de um colega um pouco suspeita. Vamos para o que pensam os críticos independentes. Achei isso:
"...comprei Fim e li suas exatas 200 páginas de uma sentada, num domingo. E tenho dito: o livro contém um grau alarmante de surpresa para o leitor. É deslumbrante." (Link) (grifo meu).
Confesso que ler tais palavras me deixou assustado: "magistral, brilhantemente, incrivelmente, ótimo, deslumbrante". Fiquei pensando como esses mesmo críticos classificariam as obras de Machado de Assis, Kafka, Hilda Hilst, Clarice Lispector. Pois vou usar esses autores como referência para fazer minha análise da obra de Fernanda Torres. Alguém poderia dizer que isso é maldade minha. Que seja. As críticas que eu li me deram essa licença; pois, para mim, magistral, incrível, ótimo, deslumbrante são as obras escritas por esses nomes consagrados que citei. E olha que eu não me identifico com o estilo de Hilda Hilst e Clarice Lispector, mas reconheço a genialidade dessas escritoras.
Vamos para a minha impressão a respeito da obra de Fernanda Torres. Que dizer... Já dei minha opinião: o livro é bem fraco! É ruim mesmo! Então, vou detalhar o que penso sobre esse livro. Vou fazê-lo em tópicos. Antes, porém, o conteúdo da obra. Fim conta a vida de cinco amigos e a relação entre eles. São homens que viveram sua juventude nos anos 60 e 70 no Rio de Janeiro, e que, a partir dos anos 90, passam, um a um, a se encontrar com a morte. Cada um desses cinco amigos faz um relato em primeira pessoa de sua vida e de seus últimos momentos antes de morrerem. Entre o relato de um e de outro, o livro mostra a vida de pessoas que de alguma maneira foram importantes para eles (mulher, filha, filho, padre, enfermeira). Dizem que Fim é romance, mas tenho dificuldade em classificá-lo assim. Para mim, é uma coletânea de contos. Passemos, então, aos tópicos das razões porque achei a obra ruim.
1 - Falta uma história - Bem, na verdade, isso não é propriamente um defeito. É mais uma questão de gosto pessoal: prefiro livros com boas histórias. Uma boa trama nos envolve na leitura, nos faz mergulhar na vida dos personagens, nos ajuda a visualizar as situações descritas; além disso, nos permite avaliar a criatividade habilidade do autor em concatenar os fatos de maneira coerente e coesa. Obras sem história, geralmente, ficam girando em torno de reflexões que, às vezes, cansam. Por tudo isso, não gosto de ficção que não tenham encadeamento de fatos que gerem um enredo bem claro. Mesmo não gostando, não posso negar que muitos livros que não têm histórias são bons, mas esses apresentam reflexões profundas, inteligentes e instigantes. Por exemplo, existem obras de Kafka, Hilda Hislt e Clarice Lispector que não trazem uma história em si, mas que nos envolvem em pensamentos realmente ricos e importantes. Já Fim, além de não ter uma trama (são fatos sem encadeamento), não traz nenhuma reflexão profunda. Os pensamentos são bem comuns. O mais profundo que encontrei foi isso: "O ato supremo de romantismo é o suicídio" (pág. 120); ou isso (ao ela falar sobre a morte no enterro de um desses cinco amigos): "A finitude de Ciro pairando ameaçadora sobre a consciência dos três. Quem será o próximo? O simples fato de não quererem o pior para si mesmo implica desejar o pior para os outros dois" (pág. 151). Cá entre nós, nenhuma das duas é uma percepção muito elaborada. Machado de Assis, em Memórias Póstumas de Brás Cubas, ao descrever uma morte só, nos presenteia com ideias fabulosas sobre esse estado desconhecido; já Fernanda Torres descreve seis e não acrescenta nada de importante. Daí vem um crítico falar que a Fernanda Torres teve a mesma picardia do Machado de Assis ao colocar um morto para falar de sua vida! Brincadeira! É muita crueldade, para uma escritora iniciante, ser comparada a Machado de Assis.
2 - Personagens caricatos - Fernanda Torres cria cinco caricaturas e passa o livro inteiro retocando-as. Álvaro é o chato, brocha, que não se dá bem com as mulheres. Sílvio é o porra-louca, tarado, inconsequente. Ciro é o homem perfeito, bonitão, bom em tudo, que desperta o interesse de todas as mulheres; nenhuma resiste a ele. Ribeiro é o zé mané, esportista, que se interessa por menininhas e toma viagra para se manter ativo sexualmente. Neto é o bom moço, sujeito comum, conservador. Pois, a todo momento, em todos os relatos - tanto dos amigos como das pessoas a eles relacionadas -, as características marcantes dos cinco são ressaltadas. Ficou maçante. Um exemplo bem emblemático dos esteriótipos existentes no livro é o de uma personagem de participação bem pequena, uma enfermeira de nome Gisa. Assim ela é descrita: "Gisa era de esquerda, politizadíssima, prestava serviço social, lia livros que pesavam mais de um quilo e fumava na varanda do segundo andar." (pág. 191). Mais a frente, a autora arrematou: "Gisa não via sentido em chorar a morte de um burguês." (pág. 196). Por conta desse tipo de abordagem, vi apenas caricaturas e não pessoas. Por isso, tive dificuldade em me identificar com eles; não consegui visualizá-los mentalmente. As exceções ficaram por conta do Álvaro e do Padre Graça; mas, ainda assim, foram uma visualização e uma identificação bem pálidas.
3 - Ela abusa de clichês - O tema em si já é um. Retratar os velhinhos de Copacabana que, na juventude dos anos 60 e 70, eram os transviados, os paladinos da contracultura, é uma assunto que já foi explorado demais. Outros lugares-comuns no livro: questionar tudo que fez na vida bem na hora da morte, a discussão se o homem deve respeitar a amizade caso o amigo tenha interesse na mesma mulher, a visão esteriotipada em relação aos comunistas e às pessoas de direita, um padre em conflito espiritual, a fuga para o meio do mato para fazer trabalhos sociais como forma de tentar reencontrar o seus ideais, a beleza do Rio de Janeiro, a rotina do casamento. Temáticas muito batidas. Até podemos explorar temáticas batidas, desde que apresentemos uma visão ou abordagem diferentes a respeito do assunto. Não foi o caso de Fim. Engraçado que há um trecho em que uma personagem critica mentalmente o porteiro do prédio porque ele usa, num velório, um monte de clichês a fim de se referir à morte. Mas criticar os clichês usados em enterros por si só já é um clichê. Outros me lembraram cenas de novela. Olha esse exemplo: o homem que passa mal no banheiro, se segura na cortina e essa cede, vindo ele a cair no chão. Outro: a mulher que se entrega despreocupadamente à dança para esquecer os problemas. E esse também: o homem que, pego em flagrante adultério pela mulher, foge do local, vai para casa, troca de roupa e senta no sofá; quando a mulher chega e o aborda, ele nega tudo e diz que ela está louca e imaginando coisas. O último: o casal que se conhece numa roda de violão e ali começa um romance. Esse último, por sinal, tem cara de roteiro da novelinha Malhação. Sobre o encontro do tal casal, selecionei esses trechos: "A Ruth atacou a voz de mulher, o Ciro a do homem, e os dois terminaram juntos, aplaudidos de pé, para sempre apaixonados" (pág. 104); "Senhor absoluto da cena, Ciro raptou a rainha com perícia de Eros. Muito casais se formaram naquela noite, atiçados pelo testemunho do encontro." (pág. 114). É muita pieguice! Se ela não tirou isso de malhação; na melhor hipótese, foi das sebosas novelas do Manoel Carlos. Não dá! Um bom livro não tem tantos lugares-comuns.
4 - Fórmula desgastada da narrativa - A crítica elogia a narrativa de Fernanda Torres como se fosse algo inovador. Não precisa conhecer muito a literatura brasileira contemporânea para perceber que a fórmula que ela usa já está bastante desgastada. Linguagem coloquial, palavrões, frases curtas, sarcasmo, ironia, humor cáustico, instâncias de fluxo de consciência; tudo isso já foi usado, até com um pouquinho mais de competência, por autoras como Luisa Geisler, Állex Leila e Márcia Denser, só para citar três nomes. Inclusive, esse estilo tem se tornado comum na literatura brasileira atual, principalmente no que diz respeito aos contos. Por falar em fluxo de consciência, devo adiantar que é um técnica que não me agrada. Acho enfadonha, confusa, empoada. Mas não é por isso que não sei reconhecer quando ela é bem utilizada. Agora considerar o fluxo de consciência empregado por Fernanda Torres como magistral só pode ser piada. São passagens absolutamente comuns; já vi melhores nas três autoras acima citadas (e olha que, nem nas obras dessas, eu achei lá essas coisas). Apesar de não apreciar a técnica, não posso deixar de reconhecer que magistrais são os fluxos de consciência empregados por Hilda Hilst e Clarice Lispector.
5 - Número interminável de listas - Não consegui contar todas as enumerações existentes em Fim. Só para se ter uma ideia, nas páginas 198 e 199, em cinco parágrafos, contei oito listas. É demais! É um recurso pobre e irritante; ele trava a leitura. Listas são inevitáveis em alguns momentos, principalmente quando se descreve pessoa ou local; só que ela usou em excesso. Vejam: "Deus se transmutando no próprio planeta, nas correntes de ar, nas nuvens densas, no sol inclemente, na lua, nos temporais" (pág. 198). "Dormiu ao relento, teve medo de bicho, de gente, foi assaltado..." (pág. 198). "...sentiu febre, frio, fome e sede." (pág. 198). "...Oiapoque, Boca do Acre, Lábrea, Manicoré, Aripuanã, Parecis, Jaciara". (pág. 199). "Acostumou-se com o mormaço, os insetos graúdos e as cobras, com os barulhos da noite e as brincadeiras truculentas dos nativos" (pág. 199). "...crimes contra a natureza, serras elétricas, tratores, correntes e venenos de praga" (pág. 199). Já está bom, né? Ao longo do livro, encontramos outras muitas enumerações. Não me espantaria se alguém me dissesse que contou mais de cem.
6 - Excesso de chavões - Sei que essa palavra tem o mesmo significado de clichê, mas usei "chavão" separadamente para fins didáticos. Destaquei esse termo só para me referir àquelas expressões repetidas demais pelo uso popular, que, por isso mesmo, devem ser evitadas num texto formal, mais ainda no livro, ainda que o estilo seja coloquial. Seu uso empobrece o texto. Fernanda lançou mão de vários chavões. Vou dar um desconto à escritora e vou ignorar aqueles presentes nas falas em primeira pessoa, pois alguém poderia alegar que, nesses casos, o chavão fazia parte do relato coloquial da personagem. Tudo bem. Vamos então para os que aparecem no discurso em terceira pessoa: "Álvaro ainda lhe revirava o estômago" (pág. 32). "O pensamento vagara..." (pág. 34). "Era a gota d'água" (pág. 43). "...tarefa hercúlea" (pág. 45). "...tomaram proporções catastróficas" (pág. 50). "...fez suas pernas bambearem e o coração palpitar" (pág. 51). "Não esbocei reação..." (pág. 67). "...lhe dava ânsias de vômito" (pág. 87). "Encontrara a sua razão de ser" (Esse para mim foi um dos piores). (pág. 116). "...cuidado de quem carrega um cristal..." (pág. 119). "...ameaçou vir à tona e transbordar" (pág. 121). "...dera o tiro de misericórdia..." (Esse também acertou em mim) (pág. 197). Não dá!
7 - Muitos conflitos tinham a mesma essência - Na hora da própria morte ou do outro, os velhinhos começavam a questionar seus amores. Para Irene: sinto ou não sinto falta de Álvaro? Para Ribeiro: amo ou não amo Suzana? e Amo ou não amo Ruth? Para Neto: amo ou não amo Célia? Para Ciro: amo ou não amo Ruth? Quem fugiu disso foram Álvaro e Sílvio, que tiveram reflexões mais interessantes na hora da morte.
8 - A autora abusa de citações de nomes consagrados, de suas obras ou de seus pensamentos - Ela citou em demasia filósofos, escritores, cantores, músicos, compositores. Nietzsche, Platão, Aristófanes, Dante, Flaubert, Machado de Assis, Vinícius, Jobim, Bob Dylan, Noel Rosa, Nara, Bethânia, Elis Regina. Se esse recurso não for bem utilizado, fica pedante. Nos passa a ideia de que ela se valeu dele só para exibir erudição. Para mim, a Fernanda não soube usá-lo. Suas citações ficaram bem pedantes.
9 - Humor fraco - Nem ao menos nesse quesito o livro escapou. Poderíamos esperar que a escritora mostrasse tiradas engraçadas e inteligentes, mas não foi o caso. Não achei graça das piadas. O tal sarcasmo não era tão inteligente e engraçado. Na verdade, não é diferente do que tanto vemos por aí. Alguém acha graça nisso? "'Idoso,' palavra odienta. Pior só 'terceira idade.''' (pág. 13). E nisso? "Olha aí, outra vez, a pedrinha traiçoeira atrás de me pegar. Um dia eu caio, hoje não." (pág. 13). "Amei minha filha até ela completar cinco anos, depois não aguentei a histeria dela, da minha mulher com ela, dela com as empregadas." (pág. 16). Não consegui dar uma risadinha sequer.
10 - Vício em sinônimos - Ela usou demais o recurso de repetir sinônimos (ou palavras de sentido aproximado) em sequência para enfatizar uma ideia. Exemplo: "Ele é um zero, um nulo, um nada". (pag. 33).
11 - Falta originalidade - Fernanda Torres não apresenta nenhuma novidade. Não traz nenhuma ideia nova, nem na forma, nem no conteúdo. A grande quantidade de lugares-comuns diz isso por si só.
Enfim, na minha opinião, é um livro cheio de problemas. E nada se salva? Algumas passagens se salvam, sim. Por exemplo, embora apresente alguns lugares-comuns, as partes que retratam a vida e os dilemas do Padre Graça, principalmente o final que ele teve. Outro trecho bom é o diálogo entre Ciro e a enfermeira Maria Clara (o que se encontra nas páginas 188 e 189). E se salvam ainda alguns momentos do relato em primeira pessoa do personagem Álvaro. O resto, a meu ver, não funcionou. A ideia de cada personagem contar sua versão dos fatos e a inserção de relatos sobre a vida das pessoas próximas a eles resultou num livro repetitivo e maçante. Não entendi mesmo tanto sucesso de crítica que ele obteve. Compartilho da opinião do crítico, Euler de França Belém, o livro é ruim, mas "está sendo apresentado como romance de primeiro time." Pois entendo que Fim deveria disputar a terceira divisão, brigando para não cair.
É tentador, mas não...não vou fazer nenhum trocadilho com o nome do livro. Acabo aqui a resenha.
6 - Excesso de chavões - Sei que essa palavra tem o mesmo significado de clichê, mas usei "chavão" separadamente para fins didáticos. Destaquei esse termo só para me referir àquelas expressões repetidas demais pelo uso popular, que, por isso mesmo, devem ser evitadas num texto formal, mais ainda no livro, ainda que o estilo seja coloquial. Seu uso empobrece o texto. Fernanda lançou mão de vários chavões. Vou dar um desconto à escritora e vou ignorar aqueles presentes nas falas em primeira pessoa, pois alguém poderia alegar que, nesses casos, o chavão fazia parte do relato coloquial da personagem. Tudo bem. Vamos então para os que aparecem no discurso em terceira pessoa: "Álvaro ainda lhe revirava o estômago" (pág. 32). "O pensamento vagara..." (pág. 34). "Era a gota d'água" (pág. 43). "...tarefa hercúlea" (pág. 45). "...tomaram proporções catastróficas" (pág. 50). "...fez suas pernas bambearem e o coração palpitar" (pág. 51). "Não esbocei reação..." (pág. 67). "...lhe dava ânsias de vômito" (pág. 87). "Encontrara a sua razão de ser" (Esse para mim foi um dos piores). (pág. 116). "...cuidado de quem carrega um cristal..." (pág. 119). "...ameaçou vir à tona e transbordar" (pág. 121). "...dera o tiro de misericórdia..." (Esse também acertou em mim) (pág. 197). Não dá!
7 - Muitos conflitos tinham a mesma essência - Na hora da própria morte ou do outro, os velhinhos começavam a questionar seus amores. Para Irene: sinto ou não sinto falta de Álvaro? Para Ribeiro: amo ou não amo Suzana? e Amo ou não amo Ruth? Para Neto: amo ou não amo Célia? Para Ciro: amo ou não amo Ruth? Quem fugiu disso foram Álvaro e Sílvio, que tiveram reflexões mais interessantes na hora da morte.
8 - A autora abusa de citações de nomes consagrados, de suas obras ou de seus pensamentos - Ela citou em demasia filósofos, escritores, cantores, músicos, compositores. Nietzsche, Platão, Aristófanes, Dante, Flaubert, Machado de Assis, Vinícius, Jobim, Bob Dylan, Noel Rosa, Nara, Bethânia, Elis Regina. Se esse recurso não for bem utilizado, fica pedante. Nos passa a ideia de que ela se valeu dele só para exibir erudição. Para mim, a Fernanda não soube usá-lo. Suas citações ficaram bem pedantes.
9 - Humor fraco - Nem ao menos nesse quesito o livro escapou. Poderíamos esperar que a escritora mostrasse tiradas engraçadas e inteligentes, mas não foi o caso. Não achei graça das piadas. O tal sarcasmo não era tão inteligente e engraçado. Na verdade, não é diferente do que tanto vemos por aí. Alguém acha graça nisso? "'Idoso,' palavra odienta. Pior só 'terceira idade.''' (pág. 13). E nisso? "Olha aí, outra vez, a pedrinha traiçoeira atrás de me pegar. Um dia eu caio, hoje não." (pág. 13). "Amei minha filha até ela completar cinco anos, depois não aguentei a histeria dela, da minha mulher com ela, dela com as empregadas." (pág. 16). Não consegui dar uma risadinha sequer.
10 - Vício em sinônimos - Ela usou demais o recurso de repetir sinônimos (ou palavras de sentido aproximado) em sequência para enfatizar uma ideia. Exemplo: "Ele é um zero, um nulo, um nada". (pag. 33).
11 - Falta originalidade - Fernanda Torres não apresenta nenhuma novidade. Não traz nenhuma ideia nova, nem na forma, nem no conteúdo. A grande quantidade de lugares-comuns diz isso por si só.
Enfim, na minha opinião, é um livro cheio de problemas. E nada se salva? Algumas passagens se salvam, sim. Por exemplo, embora apresente alguns lugares-comuns, as partes que retratam a vida e os dilemas do Padre Graça, principalmente o final que ele teve. Outro trecho bom é o diálogo entre Ciro e a enfermeira Maria Clara (o que se encontra nas páginas 188 e 189). E se salvam ainda alguns momentos do relato em primeira pessoa do personagem Álvaro. O resto, a meu ver, não funcionou. A ideia de cada personagem contar sua versão dos fatos e a inserção de relatos sobre a vida das pessoas próximas a eles resultou num livro repetitivo e maçante. Não entendi mesmo tanto sucesso de crítica que ele obteve. Compartilho da opinião do crítico, Euler de França Belém, o livro é ruim, mas "está sendo apresentado como romance de primeiro time." Pois entendo que Fim deveria disputar a terceira divisão, brigando para não cair.
É tentador, mas não...não vou fazer nenhum trocadilho com o nome do livro. Acabo aqui a resenha.