sexta-feira, 7 de março de 2014

DOZE ANOS DE ESCRAVIDÃO



É fácil se revoltar contra a escravidão daquela época vivendo dentro do contexto cultural, social e político de hoje. Mas, quando assisto a produções como Doze Anos de Escravidão, fico me perguntando qual seria minha atitude se estivesse inserido em tal cenário. Seria contra e faria o que estivesse ao meu alcance para combater a escravidão? Seria contra, mas não teria forças para lutar contra essa prática e sucumbiria ao sistema?  Seria indiferente? Seria a favor, mas trataria bem os escravos? Ou seria a favor e maltrataria as pessoas sob meu jugo? Não posso admitir outra possibilidade senão a primeira. Pois são perfis como esses, escondidos nessas perguntas, que o último ganhador do Oscar de melhor filme coloca em evidência quando aborda a história real de Solomon. 

Solomon (Chiwetel Ejiofor) é um homem negro, livre, que mora no norte dos Estados Unidos. Ele tem família, emprego; toca violino, sabe ler e escrever. Sua vida muda completamente quando é abordado por dois homens que se dizem interessados em contratá-lo para tocar violino no circo. Solomon viaja com os tais homens; faz alguns trabalho; mas, para a seu espanto, uma dia acorda preso a uma corrente no interior de um compartimento escuro. Logo ele seria enviado ao Sul do país para servir como escravo.

A partir daí conhecemos alguns dos perfis que citei no primeiro parágrafo. Um fazendeiro parece ter sentimentos, na medida em que se compadece ao ver a separação de mãe e filho e, dentro do possível, trata bem os seus escravos, mas se resigna com a situação de privação de liberdade a que são submetidas aquelas pessoas. Outro homem, que tem participação pequena, mas decisiva na trama, se posiciona fortemente contra a escravidão e se recusa a fazer parte desse sistema. Alguns parecem indiferentes. E há um outro fazendeiro que, não só acha correto escravizar as pessoas negras, como também as humilha e as maltrata. 

Quero agora dar especial destaque a esse último sujeito, o personagem Edwin Epps,  por conta da magistral atuação do ator Michael Fassbender. Ele faz um papel difícil - uma pessoa problemática, cínica, cruel; cheia de conflitos, contradições, forças e fraquezas - e, ao meu ver, desempenha-o soberbamente. É na fazenda de Edwin, que se passa a maior parte do sofrimento de Solomon. É lá que ele vê a escravidão na sua forma mais crua e irracional. Numa das cenas mais impactantes do filme, a escrava Patsey (Lupita Nyong'o, ganhadora do Oscar de melhor atriz coadjuvante) é chicoteada brutalmente, por simples capricho do seu senhor. Os efeitos visuais do chicote rasgando a carne são bem reais, e a cena nos deixa bastante incomodados. Aí temos uma amostra de quanto o ser humano pode ser cruel com seu semelhante,  e sob o verniz da legalidade, da normalidade. E o que nos deixa mais perturbados é saber que tudo isso ocorreu de fato.

Por falar em Lupita Nyong'o, apesar de ela ter ido muito bem, não achei tão marcante sua atuação a ponto de lhe render um Oscar. Não pelo fato de ter sido pequena sua participação, mas porque sua personagem não me pareceu ser tão difícil. Claro que o sofrimento pelo qual ela passa exige bastante do ator, mas não explora todas as facetas de uma atriz; já vi atuações semelhantes em outras produções do gênero. Para efeito de comparação, seu papel era bem menos complexo do que o de Fassbender, por exemplo. Chiwetel, da mesma maneira, foi muito bem no papel de Solomon, mas nada extraordinário. 

Doze Anos de Escravidão foi bem conduzido pelo Diretor Steve McQueen. Em alguns momentos, o filme fugiu da armadilha do didatismo, sem, com isso, deixar lacunas que comprometessem o entendimento da trama. McQueen dosou muito bem o tom da emoção em todas as cenas; sem apelação ou dramalhão desnecessários. Recorreu a cargas mais pesadas de tensão dramática quando foi realmente preciso. E o final foi singelo e tocante; de tirar lágrimas.  Enfim, um belíssimo filme.



3 comentários:

  1. gostei muito do filme, achei que mereceu ganhar um prêmio como o Oscar, embora não tenha visto os outros participantes. Também achei a atuação do Michael Fassbender excepcional.

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  2. Tb adorei o filme... Tinha cara de Oscar mesmo... merecido!

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  3. Ainda não vi os outros concorrentes de peso, como o Clube de Compras Dallas e O Lobo de Wall Street, mas Doze Anos de Escravidão tinha todos os elementos para sair vencedor. Até agora, tbm achei merecido, Érica e Stella.

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