sexta-feira, 8 de agosto de 2014

GRAVIDADE


Eis um filme que oferece bons momentos de distração. Essas histórias de pessoas submetidas a situações extremas de solidão, perigo, tensão, fragilidade, em que sua sobrevivência está em jogo, nunca deixam de nos impressionar. Naufrágios, desastres aéreos, soterramentos; desaparecimento em selvas, montanhas cobertas de neve ou deserto; todas essas experiências nos envolvem especialmente porque apresentam seres humanos sem poderes especiais, de quem são exigidos atos heroicos para superar o terrível infortúnio. Facilmente nos identificamos com esse herói ou heroína, porque, de alguma maneira, poderíamos estar ali, passando por algo semelhante.

Gravidade não se encaixa totalmente nesse quadro porque o acontecimento é inusitado demais para uma pessoa comum. Trata-se de um acidente ocorrido na órbita terrestre, provocado por uma nuvem de detritos resultantes da destruição de satélites; acidente esse que envolve uma equipe de astronautas, entre os quais se encontra a especialista Ryan Stone (Sandra Bullock). É o seu sofrimento que vamos acompanhar com mais proximidade.

Embora a possibilidade de se ver perdido no espaço esteja meio distante da grande maioria das pessoas - quase a totalidade dos habitantes do globo -, o fenômeno da empatia não deixa de estar presente no filme. Talvez pensando exatamente em aproximar o máximo possível do ser humano comum o drama vivido pela protagonista, a solução tenha sido eleger como heroína uma astronauta de primeira viagem, que possuía somente conhecimentos teóricos necessários para enfrentar os momentos de crise. Devido à sua insegurança e fragilidade, instantaneamente nos ligamos à personagem e sentimos a forte tensão a que ela é submetida. 

As palavras que escolho para definir Gravidade são competência, criatividade e sensatez. Competência e criatividade no roteiro (Alfonso Cuarón, Jonás Cuarón, Rodrigo García), na direção (Alfonso Cuarón) e na edição (Alfonso Cuarón e Mark Sanger), porque criar situações tensas no espaço não parece ser tarefa das mais fáceis se compararmos a um naufrágio, por exemplo. Nesse último, o cardápio de elementos que podem causar desequilíbrio na situação dos envolvidos se mostra bem mais óbvio e bem vasto: tempestade, animais, sol inclemente, problemas na embarcação e por aí. Agora, na órbita terrestre, partindo de uma perspectiva realista, não me parece haver tantas variáveis que possam criar momentos de desequilíbrio. Pois, em Gravidade, a despeito dessa limitação, a quebra do equilíbrio é constate e a tensão está bem presente.

Sensatez também porque souberam dosar a intensidade e a quantidade dos ingredientes de modo a não tornar o filme entediante. As doses de humor (não achei graça na maioria das piadas, mas... tudo bem...passa) aparecem na figura do experiente astronauta Matt Kowalski (George Clooney); já o trauma pessoal, tratado sem pieguismo, fica na conta da especialista Ryan; as cenas de ação aparecem em diversas momentos; uma passagem dedicada à reflexão sobre a vida também está lá; e, por fim, a própria duração do filme (cerca de uma hora e meia) foi de bom tom; mais do que isso seria encher linguiça. Podemos dizer que é um filme bem ajustado.

Apesar de todos esses aspectos positivos, Gravidade não poderia mesmo ter sido ganhador do Oscar de melhor filme (nas outras áreas, sua vitória me parece merecida); questiono até mesmo a sua indicação nesse segmento. De fato, é bem produzido, bem dirigido, belíssimas imagens, ótimos efeitos especiais e conta com uma boa atuação de Sandra Bullock (indicada a melhor atriz, sem contudo sem sair vencedora), mas daí a uma indicação ao Oscar de melhor filme... não sei... me parece um pouco demais. Acho que falta conteúdo ao filme; falta-lhe substância. É uma boa diversão. Entendo que ele deva ser encarado assim.


Trailler



Um comentário:

  1. não mereceu mesmo a indicação de melhor filme, na minha opinião. Mas os efeitos especiais e trilha sonora gostei bastante.

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