quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

LISTA PARA 2015

No último dia do ano passado, fiz uma lista de livros a ler e filmes a assistir em 2014. Não consegui concluir a lista, talvez tenha cumprido a menor parte dela; por outro lado conferi outras obras que não estavam inicialmente relacionadas, o que ligeiramente ameniza a minha situação. De qualquer maneira, vou repetir o propósito e vou lançar outra lista de obras a serem apreciadas e, consequentemente, resenhadas aqui no blog, permanecendo na relação aquelas que não puder ler ou ver.


Livros:

*Clássicos
- Crime e Castigo (Dostoiésvki) (reler)
- Dom Quixote (Cervantes) (reler)
- Memórias Póstumas de Brás Cubas (Machado) (reler)
- O Castelo (Kafka) (reler)
- Anna Karenina (Tolstói)
- Ulisses (Joyce)
- Mulheres Apaixonadas (Lawrence)

- Ensaio sobre a Cegueira
*Nacionais premiados
- Barba Ensopada de Sangue (Daniel Galera) - Prêmio São Paulo de 2013

Filmes

- Dançando no Escuro (rever)
- A Comilança (rever)
- O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (rever)
- Cidadão Kane (rever)
- Abril Despedaçado (rever)
- E mais seis ganhadores de prêmios importantes em 2014.

Vejo agora que é praticamente a reprodução da lista de 2013. Kkkk Vamos ver se me saio melhor no próximo ano.

Feliz 2015

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

A METAMORFOSE


Ler Kafka geralmente é angustiante, instigante e enternecedor; e A Metamorfose nos oferece exatamente essa experiência.  O enredo é bem criativo e curioso: ainda na cama, ao acordar, um jovem descobre que está se transformando num bicho, aparentamente um inseto, talvez uma barata; isso não fica claro no livro. Não é só o fato de estar adquirindo a aparência de um inseto que o incomoda, preocupa-o também o sério risco de perder o emprego, o que é grave porque é ele sozinho quem sustenta toda a família: mãe, pai e irmã. Na esperança de que seja algo passageiro, o jovem tenta esconder sua nova condição dos familiares, mas a metamorfose se consolida e ele vai ter que encarar a todos com aquela aparência repugnante mesmo. A descoberta vai determinar as novas bases da relação entre os outros membros da família e o jovem.

Dada a competência de Kafka, o relato da transformação é perturbador. É fácil visualizar as cenas descritas da transformação e quase dá para sentir a aflição e a tristeza que acometem o personagem durante o processo de mudança pelo qual ele passa. Contudo, a competência maior do autor se configura no momento em que ele apresenta e discute as mudanças por que passam a familia em virtude da nova e complicada situação que devem enfrentar. Agora um alerta. Para discutir as ideias que extraí do livro, é inevitável entregar parte da história. Caso não tenha lido a obra e se importe em conhecer os desenlaces por antecipação, sugiro parar a leitura.

Aos que continuaram a ler, entendi que Kafka pretendia revelar a hipocrisia que permeia as relações familiares, até mesmo entre pessoas tão próximas como pais e filhos ou irmãos, tema que por vezes evitamos por atingir pessoas que nos são caras ou por não querar acreditar que tais situações existam, mas os bons autores não fogem dessas questões e, sem reservas, aborda esse casos justamente para nos provocar. 

No livro em debate, o jovem era o único na família que trabalhava e conseguia manter a todos dentro de um relativo conforto com o suado salário que ganhava. E todos se acomodavam na desculpa de que o pai era doente e a irmã muito nova para o trabalho e se escoravam no jovem; até o "amavam". "Amaram-no" enquanto ele se revelou útil. Quando o rapaz perdeu a utilidade e constituiu um fardo, seus familiares passaram a ser indiferentes e até hostis em relação a ele, sob o fácil pretexto de que ele não era mais o filho de outrora, mas sim um criatura abjeta que deveria ser ignorada ou até eliminada do seio familiar. 

Fica claro que se acomodavam numa desculpa porque bastou a necessidade apertar para que os membros da família dessem um jeito de cortar gastos ou ganhar algum dinheiro: demitiram a empregada, alugaram um quarto da casa, o pai e a irmã arrumaram um emprego. Ou seja, eles também se metamorfosearam. Daí fica a pergunta: qual era a verdadeira metamorfose que o autor desejava nos mostrar? Talvez todas, até mesmo a que se opera em nós assim que acabamos de ler o livro.